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Felipe M. Guerra entrevista...

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A exemplo do que eu já havia feito ano passado, aqui estão quatro entrevistas que fiz com novos diretores participantes da edição 2013 do Fantaspoa - Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre. Trata-se de uma tentativa de valorizar o trabalho desses cineastas iniciantes, muitos deles apresentando seu primeiro longa aqui no Brasil. Quem sabe amanhã estes caras se transformem em grandes e respeitados nomes do cinema fantástico, e nesse caso você já os terá conhecido em primeira mão graças ao FILMES PARA DOIDOS!

Nos vídeos abaixo, o leitor pode conferir minhas entrevistas com os cineastas norte-americanos Mike Mendez ("Big Ass Spider") e Jeremy Gardner ("The Battery"), com o inglês Paul Hyett ("The Seasoning House" aka "A Casa de Tolerância") e com o paraguaio Juan Carlos Maneglia ("7 Cajas" aja "7 Caixas"), esse último dando uma verdadeira aula de humildade para aqueles petulantes cineastas brasileiros dependentes de Leis de Incentivo à Cultura para fazer filmes pretensiosos que ninguém vai ver.

Já falei rapidamente aqui no blog sobre o quanto gostei dos filmes desses caras todos, e nas entrevistas (devidamente legendadas em português) o leitor poderá conhecer mais sobre as obras e sobre os próprios realizadores, que falam sobre suas influências, referências e sobre o cinema fantástico moderno. Para poupá-los do meu inglês horrível e do meu "portunhol", substituí as perguntas que fiz por títulos com os temas discutidos.

Sei que nem todos gostam de ver entrevistas em vídeo, e eu mesmo prefiro as entrevistas transcritas (por escrito). Mas reserve um tempinho para ver e ouvir o que esses caras têm a dizer. Afinal, como eu já falei no Fantaspoa do ano passado, eles podem ser os Stuart Gordons, John Carpenters e David Cronenbergs de amanhã.

E como "plus a mais", deixo também um vídeo que fiz com os melhores momentos da inesquecível apresentação do músico italiano (nascido brasileiro) Claudio Simonetti, o ex-Banda Goblin responsável por temas imortais dos clássicos de Dario Argento, George A. Romero, Lamberto Bava e outros, que em Porto Alegre fez o seu PRIMEIRO SHOW EM TERRITÓRIO BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS! Simplesmente imperdível e emocionante para qualquer fã de boa música e/ou cinema fantástico.


Entrevista com Paul Hyett



Entrevista com Juan Carlos Maneglia



Entrevista com Mike Mendez



Entrevista com Jeremy Gardner & co.



Claudio Simonetti Live in Porto Alegre



Outras resenhas mais ou menos curtinhas para quem não tem preguiça de ler

KICK-ASS 2 (2013, EUA. Dir: Jeff Wadlow)
Curto e grosso: se "Kick-Ass" fosse uma trilogia (e talvez venha a ser, mas ainda não é), esta Parte 2 seria "O Império Contra-Ataca". Eu ainda prefiro o primeiro, mas "Kick-Ass 2"é uma daquelas continuações excelentes que não devem quase nada ao original, e ainda tentam expandir o conceito ao invés de ficar na zona de conforto e entregar um "mais do mesmo". Se o primeiro filme era uma fábula para adultos sobre jovens do "mundo real" que resolvem se transformar em super-heróis fantasiados, e combater o crime mesmo sem possuírem nenhum superpoder, este segundo analisa as consequências e repercussões do "vigilantismo mascarado". Afinal, o sucesso do atrapalhado Kick-Ass (interpretado por Aaron Taylor-Johnson) inspirou toda uma nova leva de "super-heróis sem poderes", usando os uniformes e nomes mais absurdos e as armas mais ridículas. E quando a heroína-mirim Hit-Girl (Chloë Grace Moretz), agora adolescente, aposenta sua vida dupla contra a vontade, a pedido do padrasto, Kick-Ass resolve integrar um grupo de justiceiros mascarados, tipo um "Vingadores sem poderes", liderado pelo Coronel Stars and Stripes (um quase irreconhecível Jim Carrey). O problema é exatamente aquele conceito já explorado à exaustão nos filmes do Batman: será que um vilão lunático, como o Coringa, não é um reflexo direto da existência de um outro lunático que se veste de morcego? No caso aqui, a existência dos "super-heróis" motiva o surgimento de um primeiro grupo de "super-vilões", liderados por Chris D'Amico (Christopher Mintz-Plasse), filho do mafioso assassinado na conclusão do primeiro filme. Ele se transformou no terrível Motherfucker e, chefiando um grupo de bandidões fantasiados, começa a semear o horror pela cidade antes de partir para o ataque direto contra Kick-Ass. O resultado é um filme tão cheio de exageros e violência explícita quanto o original, mas sem medo de ser mais "dark" e terrível do que aquele, sem poupar nem mesmo os personagens mais simpáticos - e isso que a adaptação suaviza algumas atrocidades mostradas originalmente na HQ de Mark Millar e John Romita Jr. Em certos momentos (como no caso de um estupro mal-sucedido), o espectador se pega rindo de nervoso do humor negríssimo. E se a Hit-Girl, que era a melhor coisa do original, agora foi jogada para segundo plano (há uma subtrama nem sempre divertida envolvendo as tentativas da menina de viver como uma "adolescente normal"), os personagens secundários acabam roubando o espetáculo. O destaque absoluto é a anabolizada Mother Russia (Olga Kurkulina), uma das super-vilãs da equipe de Motherfucker, que é uma antagonista de respeito. E John Leguizamo, quem diria, está ótimo como o conselheiro do vilão adolescente (a quem o próprio chama de Alfred, em referência a Batman), e eu nem me lembro qual foi a última vez em que Leguizamo esteve tão bem num filme ("O Verão de Sam", talvez?). Não ligue para as críticas bunda-moles, inclusive uma já célebre que acusa"Kick-Ass 2" de incentivar o vigilantismo (acredite, é bem o contrário!), e compara uma piada cretina envolvendo vômitos e diarréia com os massacres nas escolas americanas (é sério!). Porque a verdade é que se antes eu tinha medo de "Kick-Ass 2"perder sua essência nas mãos de outro diretor que não o Matthew Vaughn do original, agora eu já acredito estar diante de uma das mais divertidas, coloridas, criativas e fascinantes franquias de super-heróis já produzidas, que não tem medo de ser mais adulta e sanguinolenta do que as bobagens metidas a sérias produzidas por Christopher Nolan, Bryan Singer, Zack Snyder e cia. Que venha "Kick-Ass 3"!


ROTA DE FUGA (Escape Plan, 2013, EUA. Dir: Mikael Håfström)
Mais até do que "Os Mercenários" 1 e 2,"Rota de Fuga"é um verdadeiro deleite para todo moleque que cresceu acompanhando o cinema de ação dos anos 1980. Afinal, é aqui que temos a oportunidade de ver os dois maiores ídolos da época, Stallone e Schwarzenegger, REALMENTE lutando lado a lado e como personagens principais de um filme, sem dividi-lo com outros ídolos e (principalmente) sem ser ofuscados pela nova geração de astros do gênero. Stallone interpreta Ray Breslin, um especialista em segurança cujo trabalho é infiltrar-se em presídios de segurança máxima e fugir deles para mostrar as falhas do sistema. Mas ele cai numa armadilha ao ser encarcerado numa nova cadeia de alta tecnologia chamada "The Tomb" (que era o título original do filme), de onde é impossível fugir. Resta ao herói juntar forças com outro detento, Rottmayer (Schwarzenegger, é claro!), para tentar encontrar uma saída. A primeira metade de "Rota de Fuga"é ótima, explorando muito bem a química entre os dois envelhecidos astros, que chegam a trocar porradas (o que não acontecia em "Os Mercenários"). Mas, principalmente, a primeira metade explora a inteligência do personagem de Stallone, que, tal qual um McGyver moderno, busca as maneiras mais criativas para conseguir "dobrar" a segurança máxima da prisão - como ao usar o calor de uma lâmpada para dilatar e fazer saltar os parafusos que prendem uma chapa de metal do piso! Infelizmente, o roteiro que começa tão ágil e esperto desmorona na conclusão, quando começa a apelar para soluções fáceis e absurdas. A maneira como os heróis conseguem escapar do presídio (sem querer estragar a surpresa de ninguém, mas é o que se espera, né?) depende muito mais da sorte e de influências externas do que da inteligência ou da força dos protagonistas, e é uma pena que, depois de apresentar Stallone como um mestre das fugas, os roteiristas apelem para algo tão simplório quanto um e-mail enviado a ex-associados de Schwarzenegger para tornar a fuga possível. Isso sem contar na facilidade com que os personagens escondem e carregam objetos numa prisão supostamente de segurança máxima (Ray chega a sair do consultório médico levando um montão de quinquilharias debaixo da blusa, e sem ser revistado por nenhum guarda!). Para fechar com chave de bosta, a "revelação final" sobre o personagem de Schwarzenegger não faz o menor sentido. É uma pena, porque o filme realmente começa muito bem. Mas é impossível não abrir um sorrisão na cena em câmera lenta que mostra Schwarzenegger pegando uma metralhadora de alto calibre e lembrando dos seus tempos de "Comando para Matar" (só faltou dar uma piscadinha para o espectador). E ainda que o ato final inteiro seja péssimo,"Rota de Fuga" ainda é melhor que a média do Domingo Maior, principalmente graças ao vilão: ninguém menos que Jesus em pessoa, ou Jim Caviezel, divertindo-se muito como o intragável diretor da prisão. Podia ser melhor, mas como veículo para a parceria entre os dois astros já funciona muito bem (ainda que seja impossível não ficar pensando no que eles teriam feito juntos no auge de suas carreiras, lá nos anos 80...).


REBOBINE ISSO! (Rewind This!, 2013, EUA. Dir: Josh Johnson)
Há quem diga que o videocassete foi o mais importante eletrodoméstico do século 20. Pode até não significar nada para a molecada que hoje tem todo um oásis de torrents e downloads de filmes à disposição, mas quem viveu o auge daquela época certamente lembra como o videocassete trouxe o cinema para dentro de casa e democratizou o acesso a filmes (se antes você dependia da programação dos cinemas e canais de TV, agora você podia escolher o que queria ver). Pois"Rebobine Isso!"é um documentário sobre o VHS e a maneira como este aparelho hoje pré-histórico transformou a vida de cinéfilos de todas as idades e intensidades, desde os apaixonados por cinema até o casal que só queria pegar um pornôzinho para assistir na privacidade do seu lar. Enfim, só o tema já torna o filme obrigatório, principalmente para quem viveu a época. Mas a boa notícia é que este documentário também é muito divertido, além de informativo. Começa com cenas filmadas no próprio formato VHS, mostrando um colecionador de fitas visitando uma feira de antiguidades em busca de filmes raros. Depois, o enfoque se divide entre entrevistas com outros tantos colecionadores norte-americanos, que ainda compram e mantêm fitas de vídeo, e falam sobre como o videocassete mudou suas vidas, e com gente conhecida como Charles Band, Lloyd Kaufman, Frank Henenlotter e David Schmoeller, estes falando sobre como o vídeo doméstico foi importante para suas carreiras, já que os filmes baratos que produziam/dirigiam acabaram em prateleiras de locadora ao lado de superproduções de Hollywood! "Rebobine Isso!"quase perde o foco quando tenta abraçar o mundo e cai num assunto que mereceria um documentário próprio: os malucos que aproveitaram a simplicidade e o baixo custo do formato para gravar seus próprios filmes em vídeo. O representante da classe aqui é um sujeito chamado Rocky Nelson, que tem certo culto entre fãs de trash nos EUA, mas é um completo desconhecido no Brasil - e certamente existiam muitos outros nomes do universo do "shot in video" que mereceriam o mesmo destaque. Pulando esse detalhe, que felizmente não rouba muito tempo, o documentário é excelente, e recheado de engraçadíssimos trechos de produções bizarras que ficaram limitadas ao universo do VHS, como a fita com o programa de aeróbica do ator Bubba Smith, aquele gigante que interpretava o Hightower na série "Loucademia de Polícia"! Para quem também viveu aquela época maravilhosa das fitas e videolocadoras,"Rebobine Isso!" reserva momentos hilários, nostálgicos e até emocionantes. Cinéfilos das antigas podem até derramar algumas lágrimas lembrando daquele tempo que nunca mais vai voltar, e de detalhes absurdos de uma época bem ingênua - como o fato dos trechos com "fita mastigada" antecederem cenas de sexo ou nudez, já que a fita estragava exatamente porque alguém havia rebobinado e reassistido aquele trecho muitas vezes!


O ATAQUE (White House Down, 2013, EUA. Dir: Roland Emmerich)
Às vezes Hollywood apronta dessas, de produzir dois filmes praticamente idênticos na mesma época. Neste caso em questão, "O Ataque" tem argumento muito parecido com o de "Invasão à Casa Branca", que saiu alguns meses antes: terroristas invadem a Casa Branca e um agente especial é o único que consegue escapar com vida do atentado para salvar o pescoço do presidente. A principal diferença entre os dois filmes é a qualidade: enquanto "Invasão à Casa Branca"é um filmaço, esse aqui é meia-boca em tudo, mas principalmente em matéria de ação e violência - já que, ao contrário do anterior, tem classificação PG-13, voltada a um público mais jovem. Channing Tatum, o novo ídolo da molecada, interpreta Cale, o herói azarado que vai pedir emprego como segurança do presidente dos Estados Unidos justamente no dia do ataque dos terroristas (que conveniente...). Já Jamie Foxx, o inexpressivo Django do Tarantino, é o presidente à la Obama. Eles formarão uma dupla completamente absurda para enfrentar vilões cuja mira piora muito quando precisam atirar nos heróis do filme, e que são liderados por James Woods (bem longe dos seus melhores papéis de bandidão). Na minha resenha de "Invasão à Casa Branca", eu comentei que aquele filme tinha clima de "Duro de Matar"; pois esse aqui, não contente em imitar o clima, copia elementos do filme de McTiernan na cara-dura, como o herói que, a exemplo do veterano John McClane, passa a maior parte do tempo esgueirando-se em poços de elevador e túneis de ventilação para pegar os terroristas de surpresa, e perdendo partes do figurino à medida que o filme avança. Mas falta carisma e - principalmente - "atitude" a Tatum para convencer no papel do protagonista que salva a pátria. E enquanto Gerald Butler tocava o terror nos vilões em "Invasão à Casa Branca", distribuindo porradas, tiros e facadas na cabeça, o herói aqui protagoniza cenas de ação mais inofensivas e bem esquecíveis, com direito a uma ridícula perseguição pelos jardins da Casa Branca. Parece que o diretor Emmerich, um especialista contemporâneo em cinema-catástrofe, gastou todo o seu repertório nas cenas do atentado ao famoso edifício de Washington (que também perdem feio para a chacina mostrada no anterior "Invasão à Casa Branca"); depois, quando a pauleira começa, ele simplesmente não sabe o que fazer e toca o filme no piloto automático. Por isso, o negócio é deixar esse aqui na prateleira das locadoras (ou na fila de download) e pegar "Invasão à Casa Branca", que pelo menos cumpre o que promete no quesito "ação e pancadaria".


UMA TACADA DA PESADA (Deal of the Century, 1983, EUA. Dir: William Friedkin)
Considerado um dos trabalhos mais fracos do mestre William Friedkin (ignorado pelo próprio em sua auto-biografia lançada recentemente),"Uma Tacada da Pesada" pode ser definido como uma comédia sem graça, em que a ironia e o humor negro se sobrepõem às "piadas para gargalhar" que o pôster promete - e que se espera de um filme estrelado por Chevy Chase (à época no auge da fama e da arrogância). Mas o resultado também não é tão ruim e descartável quanto os detratores da obra querem fazer parecer. E não deixa de ser um trabalho visionário, já que, junto com "A Melhor Defesa é o Ataque" (1984), de Willard Huyck, é um dos primeiros filmes a brincar com a indústria armamentista, e isso décadas antes de "O Senhor das Armas" e "Guerra S.A. - Faturando Alto". Chase interpreta Eddie Muntz, um vendedor de armas espertalhão que resolve assumir o contrato milionário de venda de uma nova arma de guerra depois que o negociante original comete suicídio - este é o "negócio do século" do título original. Só que ele enfrentará dois problemas: a tal nova arma não funciona, e o seu sócio, interpretado por Gregory Hines, quer mudar de vida movido por inspiração religiosa. Há momentos muito divertidos, como o comercial bonitinho sobre a responsabilidade social de uma fabricante de armas sendo alterado para mostrar o "potencial de extermínio" das armas produzidas, ou a impagável lábia de Muntz para vender todo tipo de artilharia como se estivesse negociando produtos absolutamente comuns. Alguns momentos também rendem risadas amarelas pelo inusitado, tipo quando o protagonista leva um tiro no pé em que já tinha sido baleado antes, e que estava engessado, necessitando impedir a hemorragia com a colocação de uma rolha no buraco no gesso! Mas, no geral, esta é realmente uma comédia de poucas risadas (ou nenhuma risada, para a maior parte do público), que ainda desperdiça Sigourney Weaver em papel apagado, e parece ter medo de ir mais além, apelando para uma fraquíssima conclusão moralista (que, segundo entrevista com Chevy Chase, foi uma alteração feita na pós-produção). Certamente não é o pior filme de Friedkin ("Jade" e "A Árvore da Maldição" são bem piores), mas não é nem um pouco memorável. Menção desonrosa para o terrível título brasileiro bem anos 80, quando tudo por aqui era "da pesada" (dos "Recrutas da Pesada" ao "Um Tira da Pesada). E vá saber a que "tacada" o tradutor estava se referindo...


MACHETE KILLS (2013, EUA/Rússia. Dir: Robert Rodriguez)
O que se pode dizer de bom sobre "Machete Kills"é que o filme é bem melhor que o primeiro, e ainda corrige os muitos problemas daquela bobagem. Principalmente porque, agora, o Machete de Danny Trejo REALMENTE é o protagonista e personagem principal, e não um figurante no seu próprio filme (embora continue apagadíssimo, como personagem, protagonista e principalmente anti-herói). A sequência também tem menos bla-bla-bla e muito mais ação do que o original, narrando em ritmo acelerado sua trama sem pé nem cabeça que coloca Machete contra Voz, o milionário excêntrico interpretado por Mel Gibson, e que tem um plano mirabolante muito parecido com o do vilão de "007 Contra o Foguete da Morte". Mas os pontos positivos ficam por aí. O diretor Rodriguez demonstra, novamente, uma tremenda preguiça de filmar cenas de ação, ou de tentar fazer qualquer coisa diferente do que já mostrou em todos os seus outros filmes, numa autêntica reciclagem de ideias velhas, algumas até batidas. Chega ao cúmulo de repetir piadas que já não tinham graça ("Machete don't text" virou "Machete don't tweet"), cenas e situações (o destino do personagem de Antonio Banderas é igual ao de Robert DeNiro no original, a luta final entre Machete e Mel Gibson é igual à luta final do original, e a personagem de Michelle Rodriguez passa pelo mesmo apuro de Johnny Depp em "Era Uma Vez no México", quando perde o único olho que lhe resta), e até objetos de cena dos seus outros filmes, tipo a arma em formato de pinto que o diretor usa desde "A Balada do Pistoleiro". O resultado é bobo e descartável, embora garanta algumas boas risadas aqui e acolá. As raras boas ideias, como a bomba ligada ao coração de um narcotraficante, ficam perdidas numa trama episódica repleta de personagem soltos e participações especiais (de Antonio Banderas a Lady Gaga!) que tiram a atenção da "história". Lá pelas tantas, o espectador, perdido, começa a se perguntar o que aconteceu com Fulano, ou porque exatamente Beltrano está atrás de Machete. Se o vilão de Mel Gibson fica aquém do potencial (e tem poderes premonitórios que jamais se justificam!), pelo menos "Machete Kills" apresenta um capanga de respeito interpretado pelo chileno Marko Zaror, o astro dos filmes "Mirage Man" e "Mandrill". Zaror luta pra cacete e rouba a cena toda vez que aparece. Pena que Rodriguez não consiga dirigir uma luta com mais de 10 segundos, e se livre do coitado rapidinho! Também é uma pena que, um trailer falso e dois filmes depois, o diretor ainda não saiba o que fazer com um personagem legal e divertido como Machete. Simplesmente atirá-lo aleatoriamente nos filmes, mas sem dar-lhe cenas ou diálogos memoráveis, é um lamentável desperdício de potencial - tanto quanto o exército de gostosas que aparece em cena sem pagar sequer um mísero peitinho! O final deixa as portas escancaradas para uma terceira aventura, mas não estranhe se ela sair direto em DVD, já que "Machete Kills"foi um fiasco nas bilheterias mundiais.


A SOMBRA DO DESEJO (The Last Days of Frankie the Fly, 1996, EUA. Dir: Peter Markle)
"The Last Days of Frankie the Fly" (esqueça o título brasileiro, que não faz o menor sentido) tinha tudo para ser um filmaço: Dennis Hopper entregando uma atuação fantástica num momento de sua carreira em que estava relegado a vilão-clichê de produções direto para vídeo; Michael Madsen como um vilão arrepiante pouco tempo depois do antológico Mr. Blonde de "Cães de Aluguel", mais Daryl Hannah e Kiefer Shuterland defendendo seus papéis com vigor. O roteiro e o personagem-título também são ótimos: Hopper é Frankie "A Mosca", capanga do poderoso mafioso interpretado por Madsen, e que tem esse apelido por ser fraco e submisso aos mandos e desmandos do patrão e de seus homens de confiança. Mas as coisas mudam quando Frankie conhece uma atriz pornô decadente (Daryl Hannah), estrela dos filmes de sacanagem que o cineasta Shuterland é obrigado a fazer porque deve dinheiro ao mafioso. Infelizmente, o resultado fica aquém do potencial da trama e dos atores. Hopper está maravilhoso no papel principal, interpretando um bandido à moda antiga, com rígido código de honra e noções antiquadas do "negócio", agora dominado por jovens inconsequentes e arrogantes como Madsen. Nunca fica claro se Frankie começa a se rebelar contra seu empregador porque se apaixonou pela estrelinha pornô, ou se apenas quer protegê-la do mundo violento (e sem saída) em que ambos estão envolvidos. Só que a história e os personagens são mais ambiciosos do que a produção, comandada por um inexpressivo diretor de TV chamado Peter Markle. E justo quando parece que o filme vai começar, ele termina! Isso porque o roteiro passa um tempão preparando o espectador para a "volta por cima" de Frankie, quando o veterano mafioso resolve reagir aos maus tratos sofridos e se livrar dos que fizeram mal a ele e à sua protegida. Mas sua "vingança"é fraquinha e inconclusiva, considerando que um dos personagens mais filhos da puta da trama escapa ileso. "The Last Days..." até diverte, e com certeza vale a pena (re)descobrir pela sua história inusitada, que tenta fugir das armadilhas do "pós-Tarantino" (quando vários cineastas medíocres começaram a copiar os personagens e cacoetes de "Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction"). E também por causa de Hopper, a estrela absoluta do show, naquele que provavelmente é o seu último grande desempenho no cinema, juntamente com o policial veterano de "Amor à Queima-Roupa". Em resumo: não é ruim, mas com certeza podia ser muito melhor. E um diretor mais competente e menos burocrático faria toda a diferença.


BÊNÇÃO MORTAL (Deadly Blessing, 1981, EUA. Dir: Wes Craven)
Sempre que alguém se refere a Wes Craven como "mestre do terror", eu sou um dos primeiros a comprar briga. Afinal, a exemplo do colega Tobe Hooper, ele tem muito mais filmes ruins e/ou meia-boca do que bons no currículo - é só lembrar que para cada "A Hora do Pesadelo" ou "Quadrilha de Sádicos" há um "A Maldição de Samantha" ou "Quadrilha de Sádicos 2". "Deadly Blessing", que nunca foi lançado em vídeo ou DVD no país (mas passou nos cinemas e na TV como"Bênção Mortal"), é um dos vários títulos frustrantes que Craven fez entre um clássico e outro. Marca um período de transição entre seus primeiros filmes de horror, mais chocantes e independentes ("Last House on the Left" e "Quadrilha de Sádicos"), e as produções "mainstream". Conta a história de misteriosas mortes ocorridas numa região rural dos Estados Unidos, bem perto de uma comunidade religiosa fictícia batizada "hitite" (que é muito parecida com os amish). Os fanáticos acreditam que o culpado pelas mortes é um Íncubo, demônio que ataca mulheres durante o sono para estuprá-las. A trama até tem potencial, mas é narrada de uma maneira tão chata e desinteressante que em nenhum momento o espectador se preocupa com qualquer um dos personagens ou com o destino que terão. E embora a trama indique elementos sobrenaturais (a existência do "Incubus"), a conclusão estilo "Scooby-Doo" revela que a culpa, na verdade, é de um assassino humano com motivo ridículo - o que lembra muito o desfecho dos famosos filmes giallo produzidos na Itália, em que o choque da revelação em si às vezes se sobrepunha à lógica. Só que aí Craven surge com uma daquelas suas tradicionais reviravoltas sobrenaturais sem pé nem cabeça, entregando um "último susto" que rivaliza, em estupidez, com a conclusão de "A Maldição de Samantha". Outras atrações de "Deadly Blessing"são as cenas de pesadelo tão frequentes no cinema do diretor (e isso pré-"A Hora do Pesadelo"!), e a participação de uma jovem Sharon Stone, pagando o pão que o Diabo amassou em cenas envolvendo aranhas. Mas apesar da presença de Ernest Borgnine (fazendo caras e bocas maquiavélicas como o líder da seita) e Michael Berryman, e de algumas boas cenas de horror aqui e acolá (principalmente um momento tenso envolvendo uma cobra na banheira), "Deadly Blessing" tem cara de telefilme, e como tal é frustrante e esquecível - quase como se fosse um imitador de Wes Craven na direção, e não o próprio. Não é tão ruim quanto "O Monstro do Pântano" e "Quadrilha de Sádicos 2", mas está bem longe dos melhores momentos do diretor.


RIDDICK 3 (Riddick, 2013, EUA/Reino Unido. Dir: David Twohy)
"Eclipse Mortal", de 2004, era uma aula de como fazer um eficiente filme B à la John Carpenter, inclusive apresentando um anti-herói - o brutamontes Riddick (Vin Diesel) - digno de figurar numa galeria "Carpenteriana" ao lado de Snake Plissken, ou do Napoleon Wilson de "Assalto à 13ª DP". Já a continuação, "As Crônicas de Riddick", era uma aula de como a interferência de um grande estúdio e um orçamento mais generoso podem destruir uma boa ideia e um bom personagem, alçando Riddick a super-herói numa trama cretina estilo "Star Wars dos pobres". Por isso, quando vi o pôster de "Riddick 3" no cinema, coloquei-o imediatamente na lista de"Filmes que jamais verei". Mas aí fui pesquisar e descobri que este terceiro filme, novamente escrito e dirigido por David Twohy, tentava resgatar o climão do original. E que Vin Diesel teria aceitado participar de "Velozes e Furiosos 3" apenas para recuperar os direitos sobre a franquia (então pertencentes à Universal), para que "Riddick 3" pudesse ser feito de forma independente, passando a borracha naquela atrocidade que foi "Crônicas". Assim, resolvi encarar e... que bela surpresa! Até estranhei por não ver ninguém comentando nada sobre o filme, provavelmente porque todo mundo achou que era algo no nível do segundo e passou longe. Uma pena, porque "Riddick 3"é divertidíssimo e volta às origens do ótimo "Eclipse Mortal", esquecendo quase que completamente a presepada que foi aquela segunda aventura. Aqui não tem frescura: o personagem-título volta a ser o bandido mais perigoso da Galáxia, conforme descobrirão os pobres mercenários que saem em seu encalço, em busca da grande recompensa pela cabeça de Riddick. Durante a caçada, em que o anti-herói sempre se apresenta como uma ameaça onipresente digna de filmes de horror, Twohy resgata a violência exagerada e as criaturas gosmentas do primeiro filme. A aventura tem três atos bem distintos: no primeiro, o protagonista enfrenta as agruras de um planeta desconhecido e hostil, sozinho e em silêncio durante a maior parte do tempo; no segundo, ele brinca de gato e rato com os mercenários que querem sua cabeça; finalmente, no terceiro e último ato, Riddick e seus algozes são obrigados a juntar forças (ao estilo "Assalto à 13ª DP" ou mesmo "Fantasmas de Marte", ambos do já citado John Carpenter) contra as monstruosas criaturas que habitam o planeta. Se "Eclipse Mortal" era legal porque ninguém sabia o que esperar dele,"Riddick 3"é legal porque ninguém espera absolutamente nada dele depois da catástrofe que foi o segundo. A surpresa positiva é inevitável. Até porque se trata de um autêntico filme B - feito com alguns vários milhões de dólares a mais, mas ainda assim com espírito "B" em tudo. Altamente recomendado, e é uma pena que poucos filmes como este cheguem ao circuito comercial.


PROJETO X - UMA FESTA FORA DE CONTROLE (Project X, 2012, EUA. Dir: Nima Nourizadeh)
Não acontece muita coisa em "Projeto X": como o subtítulo brasileiro já anuncia, esta é uma comédia sobre três jovens abobados (Thomas Mann, Oliver Cooper e Jonathan Daniel Brown) que promovem uma festa, mas o evento, divulgado pela internet, foge do controle e se transforma num inferno para toda a vizinhança. Até soa divertido no papel, e o trailer é ótimo ao vender o peixe. Mas o filme em si sempre parece bem aquém do seu potencial. É questionável, em primeiro lugar, a narrativa estilo "found footage", em que uma câmera "amadora" conta a história para o espectador através de flagrantes ou depoimentos dos personagens. Porque não há nada que justifique este formato narrativo, e algumas cenas que poderiam ser engraçadas perdem o potencial cômico justamente por causa da "câmera na mão". Este recurso deu aos realizadores a possibilidade de filmar "n" cenas da festa em si, mas não demora para os incontáveis takes de gatinhas dançando funk e rapazes enchendo a cara ficarem repetitivos - nada muito diferente de uma festa real sendo filmada com câmeras amadoras, já que o resultado final é sempre chato demais para ser assistido. E se "Projeto X"acerta em alguns momentos pontuais, quando dá uma banana para o politicamente correto (a cena envolvendo a descoberta de uma reserva escondida de ecstasy, por exemplo), a trama acaba se entregando ao moralismo de cueca tão típico das comédias norte-americanas modernas. Ocorre que, lá pelas tantas, o personagem principal cabação descobre que está perdidamente apaixonado pela menina que foi sua melhor amiga durante todos os anos de colégio - e em quem ele nunca chegou antes, por motivos óbvios. Só que isso acontece justamente quando o cabação está prestes a ter uma inesquecível noite de sexo selvagem com a maior gostosona do colégio. E aí o que faz o nosso herói? Oras, o que todo personagem bunda-mole de filme moralista faz: larga a gostosona semi-nua para correr atrás do seu grande amor (será que não podia pelo menos ter terminado a bimbada?). Outro grande defeito é que, embora os três personagens principais tenham lá seus momentos, o espectador nunca fica conhecendo o bastante para simpatizar com eles ou se preocupar com eles (em parte graças à armadilha que é o maldito formato "found footage")."Projeto X" até diverte no fim das contas, principalmente à medida que a noite avança e a festa vira um caos descontrolado; mas é uma pena que as cenas boas já estejam no trailer, e que os realizadores apelem para moralismos baratos numa história que é mais divertida enquanto tudo está "fora de controle". Mesmo assim, eu adoraria ver uma refilmagem com narrativa tradicional dessa mesma história.


ATIRADOR (Shooter, 2007, EUA. Dir: Antoine Fuqua)
Nas mãos certas,"Atirador" poderia ter sido um senhor filme de ação. Nas mãos do megalomaníaco Fuqua, o resultado é uma obra inchada e problemática, com pelo menos 40 minutos a mais do que o necessário. Mark Wahlberg interpreta o herói Bob Lee Swagger, o melhor sniper dos Estados Unidos, que acaba envolvido numa conspiração e é acusado de atirar num ilustre convidado estrangeiro. Aí ele precisa fugir para salvar a pele e limpar o nome, tendo toda a opinião pública e agentes do Governo (corruptos ou não) atrás dele. Claro que Swagger irá virar a mesa, usando seus dotes de atirador para vingar-se dos vilões que o colocaram naquela situação (e, oh Deus, mataram o seu cachorro de estimação!!!). O grande problema de"Atirador"é que Fuqua leva o material mais a sério do que deveria, e o que começa como um ótimo eficiente filme de ação logo desanda para thriller político sério (e chato), estilo Tom Clancy. Eu até esperava um emocionante jogo de gato e rato entre o sniper e seus perseguidores, mas até mesmo as situações envolvendo o uso de rifles de mira telescópica são desperdiçadas. A primeira parte é a melhor, quando vemos o herói fugindo de tudo e todos, tendo que improvisar até soro fisiológico à la McGyver, no que lembra um cruzamento contemporâneo entre "Rambo - Programado para Matar" e "O Fugitivo" (ou, como escreveu um usuário do IMDB, "A Identidade Bourne" sem câmera sacudindo). Aí o filme se perde em situações desnecessárias repletas de personagens desnecessários (a gostosona Rhona Mitra é desperdiçada como uma agente do FBI). E no ato final, depois que finalmente entrega os tiroteios e explosões que o espectador espera, e quando parece que a coisa vai voltar para os trilhos,"Atirador"de repente vira "O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei". Ou seja, empilha pelo menos uns quatro possíveis finais, só que continua seguindo em frente sem terminar, até finalmente chegar na conclusão absurda que poderia ter sido mostrada meia hora antes! Uma recauchutagem geral no roteiro ou uma remontagem mais curta poderiam ser benéficas ao filme, mas do jeito que está passa longe dos bons momentos do diretor (como o posterior "Invasão à Casa Branca"). No fim, a maior curiosidade é o fato de, num filme em que os vilões são interpretados por pesos-pesados como Danny Glover, Ned Beatty e Rade Serbedzija, o "peso-médio" Elias Koteas roubar a cena como um sádico e degenerado capanga, daquele tipo que o espectador fica o tempo inteiro torcendo para levar os merecidos pipocos.


I'LL SLEEP WHEN I'M DEAD (2003, Reino Unido/EUA. Dir: Mike Hodges)
O título original e sua adaptação brasileira ("Vingança Final") vendem gato por lebre: na verdade, esse thriller policial dirigido pelo veterano Hodges ("Carter, O Vingador", "A Profecia 2") é um daqueles sonolentos filmes sobre o nada, em que pouquíssima coisa acontece e apenas o trabalho dos atores faz o espectador aguentar até o (frustrante) final. Clive Owen interpreta Will, um ex-matador obrigado a voltar à ativa para vingar-se do bandidão (Malcolm McDowell) que enrabou (!!!) seu irmão mais novo (Jonathan Rhys Meyers), levando-o ao suicídio. Ao invés de contar essa história simples com o mínimo de tensão e tiroteios que o espectador espera do argumento, Hodges toca a narrativa em câmera lenta, preferindo enfocar a lenta investigação de Will sobre as causas da morte do irmão, e não a vingança em si. O problema é que o espectador já viu o que aconteceu e já sabe tudo aquilo que o protagonista vai descobrir aos poucos; logo, o resultado de suas investigações não traz nenhuma surpresa ou grande revelação. Demora uma hora só para que o protagonista resolva partir para a "vingança", mas nos 40 minutos seguintes não acontece nada de muito emocionante para valer o sacrifício de manter-se acordado (acredite ou não, Will gasta mais tempo comprando roupas novas e cortando o cabelo e a barba do que se vingando!). E isso que o filme passa um tempão construindo toda uma aura de fodão e implacável para o personagem de Owen, que, no final, nunca se concretiza, já que raramente o vemos em ação. A trama até lembra muito o já citado "Carter, O Vingador", que trazia Michael Caine em papel semelhante (o gângster fodão que investiga a morte misteriosa do irmão). A diferença é que "Carter", mesmo com o ritmo lento típico dos policiais da década de 1970, parece até filme do Michael Bay perto do clima arrastado desse aqui. Sobram, portanto, as ótimas atuações (principalmente de McDowell, adicionando mais um vilão asqueroso à sua galeria) e a direção precisa e elegante de Hodges, que entrega algumas belíssimas cenas, como a passagem de tempo marcada pelo pano do barbeiro que passa em frente à câmera e separa o Clive Owen barbudo e cabeludo do Clive Owen de cara limpa e cabelo curto. Mas fica o aviso de amigo: a narrativa lenta, silenciosa e minimalista, que poderia até ser transformada em peça de teatro, é para poucos, e um autêntico convite ao sono. Não que eu estivesse esperando um filme de ação e pancadaria com edição de videoclipe; o problema é que a trama promete uma coisa (Clive Owen tocando o terror) e simplesmente não cumpre. Ou seja: não apenas é lento, como não chega a lugar nenhum!


PIRANHA 3DD (2012, EUA. Dir: John Gulager)
Fui excomungado por diversos amigos fãs de horror ao dizer que acho "Piranha 3D", aquele remake dirigido pelo francês Alexandre Aja, bem fraco e nada divertido. Afinal, tirando as gostosas peladas e aquela cena maravilhosa do massacre no lago, o que sobra é um filme bem ruim que se acha muito engraçado, mas não é, e ainda desperdiça atores conhecidos do calibre de Elisabeth Shue e Christopher Lloyd. Minhas esperanças quanto à sequência, batizada "Piranha 3DD"(!!!), eram praticamente nulas. E não sei se foi a baixa expectativa que ajudou, mas, quem diria, o sem-noção John Gulager (da série "Banquete do Inferno") saiu-se bem melhor do que o pretensioso "rei do remake" Aja. Não se engane: o filme continua uma bobagem sem tamanho, e agora muda a ambientação de um lago durante o "spring breaks" para um parque aquático repleto de gostosas de biquíni e/ou peladas, onde as monstruosas piranhas assassinas vão fazer a festa. Bobagem por bobagem, as piadas de Gulager pelo menos funcionam, ao contrário daquelas do francês, que no máximo provocavam risos amarelos. Tudo bem que falta a "Piranha 3DD" uma cena apoteótica tipo aquele massacre que o Aja orquestrou no primeiro filme - e o "grande massacre" desse aqui é bem rápido e bem fraquinho. Em compensação, só a participação de David Hasselhoff como ele mesmo, tirando onda da fama como salva-vidas garanhão do seriado "S.O.S. Malibu", já é mais engraçada que "Piranha 3D" inteiro! Como se não bastasse, existem pelo menos dois ou três momentos onde percebe-se que Gulager é um completo débil-mental, como quando uma piranha entra na vagina de uma garota apenas para abocanhar o pinto do seu namorado mais tarde (numa versão hardcore do mito da "vagina dentata"), ou quando Gary Busey arranca a cabeça de uma piranha a dentadas enquanto é atacado pelos peixes assassinos. Enfim, esse era justamente o tipo de bobagem sem-noção que eu queria ver já no filme do Aja, mas ele estava muito ocupado fazendo suspensezinho de quinta."Piranha 3DD" também é o filme que essas bombas tipo "Sharknado" deveriam ser: percebe-se que diretor e roteirista ligaram o "Foda-se!" e se divertiram muito inventando as cenas mais idiotas e cabeludas possíveis. O resultado é de um mau gosto acachapante, rendendo uma perfeita Sessão da Tarde para debilóides!


POMPEYA (2010, Argentina. Dir: Tamae Garateguy)
Se tivesse um nome "de grife" na direção (tipo Guy Ritchie ou Tarantino),"Pompeya"hoje estaria bombando e sendo celebrado como algo genial e imperdível. Só que não é o caso, e portanto esta produção independente lá dos hermanos da Argentina teve distribuição limitadíssima, ficou relegada ao circuito de festivais e é praticamente desconhecida até dos cinéfilos mais "alternativos". Uma pena, porque se trata de uma daquelas divertidas maluquices que brincam o tempo inteiro com as expectativas do espectador, subvertendo os clichês, personagens e situações típicas dos filmes "de gângster" produzidos nos Estados Unidos. A trama começa com um diretor de cinema e um roteirista freelancer se encontrando para discutir ideias para uma nova produção - um policial sobre a guerra de quadrilhas em Buenos Aires. A partir das conversas entre eles, vai ganhando vida o "filme dentro do filme" (que é o roteiro escrito pela dupla), contando a história de um bandido, seu irmão surdo-mudo e a tradicional femme fatale que se envolve num triângulo amoroso com ambos. Quando explode a guerra entre as máfias russas e coreana, esses três personagens são pegos no meio do fogo cruzado. À medida que a criação do roteiro evolui, e a guerra de egos entre o diretor e seu roteirista fica mais acirrada,"Pompeya" reserva uma fantástica reviravolta, que é a verdadeira razão de ser do filme, e que obviamente eu não posso contar para não estragar a surpresa. O curioso é que, até então, a trama estava sendo conduzida de maneira bem morna, com piadas pontuais ao mundo do cinema (os nomes americanizados dos personagens do roteiro que está sendo construído, tipo Dylan, Timmy e Shadow) e toneladas de violência explícita e brutalidade. Quando a tal reviravolta surge, é como se estivéssemos vendo um novo filme, completamente diferente. Não é todo espectador que vai curtir a brincadeira, mas eu recomendo "Pompeya"para quem gosta dessas produções metalinguísticas que brincam com o poder do criador sobre suas criaturas, a exemplo de "Mais Estranho que a Ficção" e "Adaptação". E embora o filme tenha alguns problemas de ritmo, a diretora argentina Tamae Garateguy já pode figurar em qualquer lista de "novos nomes para acompanhar de perto" - principalmente porque seu novo projeto é um filme de horror chamado "Mujer Lobo"!!!


HITCHCOCK (2012, EUA. Dir: Sacha Gervasi)
Apesar do título, este filme não faz um apanhado da carreira do brilhante cineasta inglês que ficou imortalizado como "Mestre do Suspense", preferindo um recorte mais específico, que acompanha o velho Alfred durante as filmagens de uma das suas obras mais polêmicas e revolucionárias, "Psicose", de 1960. Vemos o diretor (interpretado por Anthony Hopkins) enfrentando todo tipo de dificuldade para levar às telas uma história que era considerada de mau gosto à época, já que era inspirada nos crimes do serial killer da vida real Ed Gein. O estúdio achava que o filme queimaria a imagem de Hitchcock e não quis produzir, então o inglês resolveu fazê-lo de maneira praticamente independente - mas já temendo o fracasso e o fim da sua carreira. Há muitas cenas boas enquanto "Hitchcock"acompanha o caótico processo de filmagem de "Psicose", como as tentativas do diretor de tentar manter o final da história surpreendente para o espectador (ele mandou sua equipe comprar o maior número possível de exemplares do livro de Robert Bloch que inspirou sua obra!). E as aparições de Ed Gein como uma espécie de "consciência" do cineasta inglês (ou seu "lado negro") representam um toque genial do roteiro. Mas, infelizmente, o foco do filme logo sai da realização de "Psicose" e recai sobre uma ridícula e dispensável intriga romântica, mostrando a relação de amor e ódio de "Alfredão" por suas estrelas ao mesmo tempo em que sua esposa, Alma (Helen Mirren), está prestes a viver uma relação extraconjugal com um amigo escritor. Não deixa de ser um desperdício de bom material, já que"Hitchcock"é baseado no excelente livro "Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose", de Stephen Rebello, e ali há uma quantidade imensa de histórias engraçadas e interessantíssimas que poderiam render um filme muito melhor. Embora algumas anedotas do livro até tenham sido aproveitadas (tipo a inacreditável reação negativa da censura pelo diretor insistir em mostrar um vaso sanitário numa cena, coisa que nunca acontecia nos filmes da época!), acredito que"Hitchcock" seria muito mais interessante caso se focasse na realização de "Psicose" e no impacto que esta obra-prima provocou naqueles tempos pudicos. Não seria muito mais divertido ver o diretor esfaqueando melancias e melões para obter o som das facadas para a famosa cena do chuveiro, do que as chatíssimas e desinteressantes intrigas românticas entre Hitchcock e sua esposa que o filme preferiu enfocar? No fim, o que poderia ser uma ode apaixonada ao cinema e seus realizadores, como foi o "Ed Wood" de Tim Burton, acabou virando um romance bem dispensável. Com uma ambientação curiosa (os bastidores de "Psicose") e protagonistas insólitos, mas ainda assim um romance bem dispensável. E ao mesmo tempo em que é incômodo ver Anthony Hopkins com maquiagem de "O Professor Aloprado" no papel-título, ao invés de algum ator desconhecido, os intérpretes escolhidos para dar vida a Anthony Perkins, Janet Leigh e Vera Miles (respectivamente James D'Arcy, Scarlett Johansson e Jessica Biel) estão ótimos e realmente lembram esses atores. Mas minha recomendação é aproveitar o tempo que seria gasto com esse filme equivocado lendo o livro de Rebello. Ou revendo "Psicose".

"Cobra" em quadrinhos


Sem que Sylvester Stallone, George Pan Cosmatos ou qualquer dos envolvidos na produção soubesse, a popularidade de "Stallone Cobra" deu origem a pelo menos duas adaptações não-oficiais em quadrinhos nos anos 1980. Uma delas saiu na Hungria; a outra - adivinhem? - no Brasil. Rebatizada "Agente Cobra - Liberado para Matar" para o plágio não ficar tão descarado, a versão brasileira foi publicada em 1987 pela Press Editorial, uma pequena editora paulistana, e saiu em número único sem maior repercussão.

Enquanto a trama do gibi húngaro seguia fielmente o roteiro do filme de Stallone, a adaptação brasileira preferiu contar uma história original, embora fosse possível perceber que o argumento era mais ou menos o mesmo (o policial violento Cobra, ou "Agente Cobra", precisa salvar uma testemunha de perigosos perseguidores). Inventaram até um arquiinimigo tosco para o herói, um brutamontes chamado "Cara de Ferro", que usa máscara metálica e coletes que o tornam quase indestrutível.

Já o "Agente Cobra" em questão é o personagem de Stallone cuspido e escarrado, com direito aos óculos escuros e fósforo no canto da boca, apesar de uma inexplicável estrela branca desenhada na camiseta, como se fosse um uniforme de super-herói!

A revista tem 36 páginas, mas apenas 28 com a HQ, que você pode ler abaixo (clique nas imagens para ampliá-las). Com distribuição limitada, ela teria desaparecido para sempre no limbo se não fosse pela internet e pelo fato de um artista conhecido ter se encarregado da presepada, o pernambucano Watson Portela, que assina com o pseudônimo "Barroso".

Além da estupidez da história no geral (e nem dava para fazer muita coisa em 28 páginas que são pura ação), o que mais chama a atenção em "Agente Cobra" é a nudez, com direito a desenhos bastante gráficos e detalhados da anatomia feminina (repare no corpo da vítima de estupro das primeiras páginas), e até uma rápida cena de sexo entre lésbicas encaixada de qualquer jeito na narrativa! Pois este era um subterfúgio que os quadrinhos independentes brasileiros dos anos 1980 precisavam adotar para vender. Lembro de uma HQ de ninjas em que os vilões trepavam enquanto conversavam com seus comparsas!

Infelizmente, o Agente Cobra de Portela (ou "Barroso") não usa a frase "Você é um cocô!" em nenhum momento...

PS: Meus sinceros agradecimentos a quem escaneou essa preciosidade e jogou na rede.



EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS (2007)


Todo fã de horror e de filmes de zumbis que se preze já acendeu pelo menos uma vela em honra ao cineasta galego Amando de Ossorio (1918-2001), o responsável por uma das mais belas sagas sobre mortos-vivos da história do cinema, a quadrilogia dos “Templários Zumbis Sem Olhos” – formada por “La Noche del Terror Ciego” (1971), “El Ataque de los Muertos Sin Ojos” (1973), “El Buque Maldito” (1974) e “La Noche de las Gaviotas” (1975).

Sangue e desmembramentos à parte, estes quatro filmes são festejados principalmente pelo clima de horror que Ossorio conseguiu criar. E quem já viu algum deles dificilmente vai esquecer de imagens como os Cavaleiros Templários ressuscitados, em forma esquelética, cavalgando à noite sobre igualmente decrépitos cavalos-zumbis!

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Mais do que acender velas em agradecimento ao mestre, um jovem cineasta espanhol chamado Vick Campbell (nome de batismo: Victor Gomez) resolveu render-lhe uma homenagem fílmica. Juntou os amigos, alguns trocados, pegou uma câmera de vídeo e pôs-se a filmar uma produção independente de baixíssimo orçamento chamada EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS. A capinha já revela a inspiração nos clássicos filmes dos “Mortos Cegos”, além de um algo mais: uma loirona completamente pelada entre os zumbis decrépitos!

Infelizmente, a homenagem de Campbell é tão ruim que o pobre Ossorio deve ter se revirado no túmulo por desgosto – e a sorte dos envolvidos é que ele não tinha um cavalo-zumbi e uma espada à disposição para voltar ao mundo dos vivos e castigar todos os envolvidos em EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS pela heresia cometida em nome da sua obra!

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Antes de mais nada, é bom esclarecer que este filme é uma produção praticamente amadora, o que torna a proposta do diretor Campbell ainda mais ambiciosa. Afinal, quando você pega uma câmera de vídeo e chama os amigos para fazer um filminho caseiro sem nenhum dinheiro, a fórmula a seguir geralmente é a do trash assumido, tipo Troma.

Não é o caso aqui: apesar de Campbell e sua trupe usaram a câmera mais vagabunda à disposição (provavelmente uma câmera de vídeo digital mini-DV, já que a imagem nem é de alta resolução), e da produção ser visivelmente de fundo de quintal, todo mundo está levando a coisa estritamente a sério, quando avacalhar e partir para a comédia seria a única saída viável diante da pobreza mais do que evidente.

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EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS começa em Buitrago, na zona rural de Madri, em pleno século 14 (no ano de 1311, para ser mais exato). Digamos que os realizadores foram muito corajosos em tentar fazer uma cena "de época" sem nenhum dinheiro. Ou malucos. O resultado: figurinos completamente deslocados, que já provocam as primeiras risadas involuntárias do longa (lembre-se: o filme se leva a sério!).

No momento em que o espectador bate o olho nos “Cavaleiros Templários” de Campbell, por exemplo, é impossível não cair na gargalhada: são apenas quatro sujeitos usando manta branca com capuz (e o capuz foi cortado de qualquer jeito). A coisa não ajuda quando entram em cena o que deveriam ser os típicos habitantes de uma aldeia espanhola do século 14, e eles usam figurinos, cortes de cabelo e até chapéus e bolsas de couro (!!!) tipo esses das imagens abaixo:

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Nesse prólogo, os Templários ficam zanzando para lá e para cá numa sequência de takes que dura muito mais do que deveria. Um mesmo take do quarteto passando por uma ponte foi repetido nada menos de TRÊS vezes. Malandrinho, o editor até tentou inverter um dos takes para enganar, obviamente sem conseguir (veja as imagens abaixo).

O roteiro não se preocupa em explicar muita coisa, mas todo fã dos “Mortos Cegos” de Ossorio sabe que os Cavaleiros Templários são assassinos malvados e cruéis, então o diretor não perde muito tempo e já os apresenta agindo dessa mesma forma: eles passam os primeiros 15 ou 20 minutos invadindo vilas, sequestrando belas garotas que acusam de bruxaria e então matando-as para beber seu sangue e conquistar a “vida eterna”, ou coisa que o valha.

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Poderia sair algo de interessante disso, mas o diretor estica as cenas no limite do suportável. Não bastasse os takes repetidos dos Templários caminhando, nesses 15 ou 20 minutos o pobre espectador é submetido a três sessões de chicoteamento (intermináveis), algumas mutilações porcamente realizadas (tipo a espadada que decepa o braço de um sujeito, mas sequer corta a sua camisa!) e uns peitinhos de fora aqui e ali que dão um mínimo de ânimo para seguir em frente.

Finalmente, os homens da aldeia se enfurecem com a matança de suas mulheres e resolvem dar o troco, invadindo a abadia (ou coisa que o valha) dos Templários e matando os quatro sujeitos, com relativa facilidade até. Considerando que são apenas quatro brocoiós, e apenas um deles tem uma espada, só consigo ficar imaginando porque a galera não teve essa reação muito antes... De qualquer jeito, aquele que parece ser o chefão dos sinistros cavaleiros anuncia que eles voltarão para se vingar - óbvio!

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Nesse momento, a narrativa dá um salto no tempo e pula para a mesma Buitrago no ano de 1974 (embora nada, mas NADA MESMO, justifique a escolha da época, considerando que os realizadores sequer se deram ao trabalho de utilizar roupas ou objetos de cena desse período!). Somos apresentados a Jorge (Albert Gammond), um rapaz que procura sua irmã, Miranda (Eloise McNought), que inexplicavelmente está perdida na floresta.

Através de flashbacks que vão se prolongando ao longo do filme, descobrimos que Miranda era abusada sexualmente pelo pai e fugiu de casa para vagar sem rumo por aquela região. Onde, por coincidência, ficam as ruínas da tal abadia dos Templários executados séculos antes. Não demora para os cadáveres putrefatos dos cavaleiros se levantarem das tumbas para o anunciado massacre – mas sem cavalos-zumbis dos filmes de Amando de Ossorio, porque o orçamento aqui não permitia!

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Justiça seja feita: as cenas com os cadavéricos Templários ressuscitando e vagando pela floresta à noite são até bem produzidas e filmadas, e é principalmente nesses momentos que se percebe um carinho muito grande de todos os realizadores pelos velhos filmes de Ossorio. Dos figurinos às máscaras imóveis no rosto dos zumbis (imitando caveiras sem olhos e sem expressão), os “Mortos Cegos” de Campbell parecem ter saído diretamente de algum capítulo da saga lá dos anos 1970.

Infelizmente, não passa muito disso: o diretor não é capaz de criar uma única cena de horror, suspense ou tensão pelo resto do filme. Depois de ressuscitados, seus Mortos Cegos não fazem nada além de vagar aleatoriamente e matar quem encontram pela frente, incluindo uma série de personagens descartáveis e mal-delineados, o que aproxima EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS mais de um slasher movie tipo “Sexta-feira 13” do que de um filme de zumbis.

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A fórmula é repetida à exaustão: os zumbis entram no quadro, matam alguém e saem do quadro rumo à próxima morte. E nenhum personagem é suficientemente trabalhado para que o espectador sequer se importe com o que acontece a eles.

No caso, além dos irmãos Jorge e Miranda, caem de pára-quedas na trama uns abobados que estão promovendo um bailinho ao ar livre na mesma floresta (!!!), mera desculpa para incontáveis takes dos sujeitos dançando e flertando - um deles é interpretado por Dani Moreno, nome popular do underground espanhol, responsável por, entre outras atrocidades, o curta "El Ataque del Pene Mutante del Espacio"!!!

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Todos acabarão encontrando a morte mais cedo ou mais tarde nas mãos ossudas dos Templários ou na lâmina da espada de um deles, com direito a membros e cabeças decepadas, tripas arrancadas e até um sujeito partido ao meio. Os “efeitos especiais” são todos naquele nível caseiro e improvisado, o que torna as cenas de morte mais divertidas do que nauseantes ou assustadoras.

O que não faltam são motivos para odiar EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS: além da razão mais óbvia (ser uma homenagem RUIM a uma série de ótimos filmes), tudo é tão pobre e mal-feito, e tão estupidamente levado a sério, que somente espectadores muito pacientes passarão da metade. Cenários e figurinos são de quinta categoria, as interpretações são péssimas, e a narrativa vai do nada ao lugar nenhum, acabando de repente, como se tivessem esquecido de gravar uma conclusão.

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O filme nunca explica, por exemplo, o que exatamente despertou os Templários depois de seis séculos. Eu até achei que iam usar o clichê mais do que batido do "666 anos depois", mas alguém errou na matemática, já que de 1311 para 1974 passaram "apenas" 663 anos!

A sinopse oficial até tenta explicar que Miranda, a garota abusada pelo pai nos anos 1970, é uma espécie de reencarnação de uma das pobres moças que foram sacrificadas pelos cavaleiros lá no século 14 (a atriz que as interpreta é a mesma). Só que tal fato é simplesmente imperceptível, e nunca mencionado em momento algum do filme. Sem contar que toda a trama secundária do pai estuprador não serve para absolutamente nada além de encher linguiça.

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Vejam bem, eu não tenho nada contra produções baratas, amadoras e/ou de fundo de quintal. Inclusive sou um grande incentivador desse tipo de cinema independente (além de realizador). O trabalho de Campbell e sua turma lembra muito o que faziam os diretores alemães Olaf Ittenbach e Andreas Schnaas faziam na década de 90, aqueles filmes baratos gravados em vídeo e encharcados de sangue tipo "Lua Sangrenta" e "Violent Shit".

Ou, para fazer uma comparação "nacional", lembra muito os primeiros filmes do catarinense Petter Baiestorf, como “O Monstro Legume do Espaço” e “Eles Comem Sua Carne”, quando ele ainda tinha pouquíssimos recursos e filmava com câmeras VHS. O problema é que todos esses filmes (do Ittenbach, do Schnaas, do Baiestorf) são dos anos 1990, enquanto EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS foi feito em pleno século 21, quando já existem inúmeros recursos tecnológicos baratos para se fazer um filme melhorzinho!

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Não sei qual foi a câmera usada aqui, mas a resolução de vídeo é tão baixa que as cenas noturnas ou mais escuras ficaram bastante comprometidas, ainda mais pela falta de uma iluminação decente. Já vi vídeos gravados com celular que são menos ruins. Além disso, em várias cenas deixaram vazar o irritante barulho do vento batendo no microfone da câmera - e como estas cenas não têm diálogos, não consigo entender porque não substituíram a barulheira por música!

Como fã, incentivador e realizador de filmes independentes, eu relevaria facilmente esses probleminhas técnicos. O problema é que o desleixo é exceção, e não regra. Quando uma das meninas chicoteadas na cena inicial "morre", por exemplo, o ferimento em látex que ela tinha no pescoço desgruda e quase cai (fica "solto", conforme você pode ver na 1ª imagem abaixo). Como é que ninguém viu essa bagaça e pediu um segundo take? Mais adiante, enquanto os Templários estripam uma moça, o braço "humano" do ator que interpreta um dos zumbis (o da esquerda na 2ª imagem abaixo) escapa de debaixo da manga do figurino, mas a cena continua mesmo assim. Será que o operador de câmera é cego?

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Para completar, a montagem é uma aberração. Campbell tinha material para uns trinta minutos de filme, no máximo, mas esticou as cenas até não poder mais, conseguindo fechar a insuportável duração de 71 minutos.

O problema é que o saco do espectador dificilmente resistirá aos incontáveis takes de andanças dos personagens de um lado para o outro, às intermináveis sessões de chicotadas, e a momentos como o do sujeito que é arrastado pelos Templários por praticamente um quilômetro, sem cortes, até uma parte da floresta onde ele é finalmente colocado no chão e esquartejado (e nem tente entender porque os zumbis não o mataram no próprio local em que ele foi agarrado, ao invés de arrastá-lo para longe!). Enfim, só consegui aguentar até o final usando o Fast Foward, e mesmo assim senti como se tivesse perdido um tempo considerável da minha vida.

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Descobri que Campbell e sua trupe começaram a fazer EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS em 2007, depois de uma série de curtas de baixo orçamento naquele esquema caseiro. Inicialmente, o projeto se chamava "El Monte de las Ánimas / Tombs of the Blind Dead V" ("A Montanha dos Espíritos"), e foi filmado em vários blocos.

Mais para o final do ano, os realizadores concluíram uma montagem de 57 minutos, rebatizada "Graveyard of the Blind Dead" ("O Cemitério dos Mortos Cegos"), para exibição no Festival de Sitges. A participação da equipe incluiu figurantes vestidos como Templários circulando pelo renomado festival de cinema. Foi somente depois de Sitges que os realizadores resolveram transformar o trabalho num longa, filmando mais 15 minutos e transformando-o em EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS, que foi finalmente concluído e lançado em DVD em 2009. Isso talvez explique o ritmo titubeante e enrolado da obra.

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Quer dizer, explica mas não justifica! Por causa disso tudo, o resultado é uma tragédia de proporções épicas, o tipo de filme que faz a humanidade acreditar que cineastas como Uwe Boll e Ed Wood nem são tão ruins assim. E a desculpa da produção independente e sem dinheiro não cola, já que aqui mesmo, no Brasil, temos exemplos bem mais eficientes de cineastas que fazem muito com pouco ou nada, como Rodrigo Aragão e seus zumbis de “Mangue Negro” e “Mar Negro” – produções baratas e independentes que, comparadas a essa de Vick Campbell, parecem até blockbusters de Steven Spielberg!

No fim, EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS pode (e ênfase muito grande no “pode”) valer como curiosidade mórbida. Fãs dos “Mortos Cegos” de Amando de Ossorio têm aqui uma rara oportunidade de ver os cadavéricos Templários atacando o mundo dos vivos pela quinta vez. Já realizadores independentes podem tirar valiosas lições para melhorar os seus filmes, principalmente em questões como ritmo narrativo.

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Confesso que estava muito curioso para ver EL RETORNO DE LOS TEMPLARIOS pelo fato de ser uma homenagem declarada e escancarada aos mortos-vivos de Amando de Ossorio, e me decepcionei. Mas a maior decepção MESMO foi com essa capinha pornográfica enganosa, que leva o espectador a acreditar que verá um sexploitation como o Diabo gosta. Na verdade, a quantidade de nudez no filme fica bem abaixo do esperado, e isso mesmo com a câmera pegando alguns ângulos mais “desinibidos” das atrizes.

Vale destacar que a loira peladona da capinha do DVD nem mesmo aparece no filme! A Fulana estrela uma vinheta que vem como extra no disco, e que aparentemente foi gravada apenas para fins de divulgação, ou quem sabe para angariar recursos na pré-produção. Vale ressaltar que o videozinho nem parece ter sido feito pela mesma equipe, já que a qualidade da imagem (e todo o resto também) é muito melhor.

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Por isso, não deixa de ser irônico que a melhor coisa da bagaça toda seja essa vinhetinha de 1min40s com a loirona desinibida e um Cavaleiro Templário com uma motosserra (!!!), E ESSA CENA NEM ESTÁ NO FILME! Se Victor Gomez/Vick Campbell tivesse mantido esse mesmo (baixo) nível na produção toda, com mais sangue e mulher pelada aqui e acolá, talvez sua homenagem aos Mortos Cegos ficasse pelo menos ficado divertida. E assistível.

Porque do jeito que está agora, só mesmo os Zumbis Sem Olhos de Amando de Ossorio para conseguir encarar. Afinal, eles não têm como enxergar a quantidade de erros e nem o amadorismo geral da produção!

PS: Há uma tal de "Anarka de Ossorio" no elenco e na equipe técnica, e por um instante fiquei com medo de que fosse uma parente do pobre Amando sujando o nome da família. Felizmente, não é o caso: trata-se apenas do pseudônimo "espirituoso" usado pela atriz e produtora Anarka Bidaut. Ufa!

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El Retorno de los Templarios (2007, Espanha)
Direção: Vick Campbell (aka Victor Gomez)
Elenco: Eloise McNought, Albert Gammond,

Dani Moreno, Anarka de Ossorio e
um monte de desconhecidos.

THE EVIL CLERGYMAN (1987)

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(Esta postagem é dedicada ao Leo Dias, um dos maiores fãs de H.P. Lovecraft que eu conheço - se não o maior!)

Qual adaptação para o cinema de um conto de H.P. Lovecraft reúne os atores Jeffrey Combs, Barbara Crampton e David Gale, num roteiro de Dennis Paoli produzido pela Empire Pictures, de Charles Band? Bem, até 2012 só havia uma resposta possível: o clássico “Reanimator” (1985), de Stuart Gordon. Mas de 2012 em diante, a pergunta também pode ser respondida citando-se THE EVIL CLERGYMAN, um curta-metragem que reúne a mesma equipe talentosa de “Reanimator” já citada, apenas substituindo Stuart Gordon pelo produtor Charles Band na cadeira de diretor.

THE EVIL CLERGYMAN foi filmado entre 1987 e 88, mas só foi oficialmente finalizado e lançado 25 anos depois (!!!). Mais precisamente em 11 de agosto de 2012, quando o curta teve uma concorridíssima premiére na mostra Chicago Flashback Weekend, sendo depois lançado em DVD, em outubro do mesmo ano.

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Para entender porque esta adaptação esquecida de H.P. Lovecraft passou 25 anos no limbo, é preciso fazer uma pequena viagem no tempo, de volta à década de 1980. Naqueles tempos, a Empire Pictures, de Charles Band, era garantia de produções divertidas feitas com pouco dinheiro, como o já citado “Reanimator”, e também “Do Além” (1986, também de Stuart Gordon), “Puppet Master / Bonecos da Morte” (1989, de David Schmoeller) e "Duro de Prender" (1988, de Renny Harlin), entre outros.

Embora sempre tenha investido uma merreca em seus filmes, a Empire enfrentava sérias dificuldades financeiras lá por 1987, quando THE EVIL CLERGYMAN começou a ser filmado. Assim, o produtor Band surgiu com um projeto arriscado: diminuir futuros longas que produziria para segmentos de meia hora, que iriam compor uma coletânea em longa-metragem chamada“Pulse Pounders”!

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Anúncio da época destaca fim das filmagens de "Pulse Pounders"

Eu desconheço se realmente era mais barato filmar três curtas de meia hora, cada um com sua história e elenco independentes, do que três longas inteiros. Seja como for, o próprio Charles Band dirigiu os três segmentos sem relação entre si, sendo que apenas um deles era original (a adaptação de Lovecraft sobre a qual estamos falando), e os outros dois eram continuações de filmes populares da Empire, “Trancers” (que Band dirigiu em 1985) e “The Dungeonmaster” (1984, de vários diretores).

Dessa forma, “Pulse Pounders” era composto por THE EVIL CLERGYMAN, “Trancers 2 – The Return of Jack Deth” (com Tim Thomerson, Helen Hunt e Grace Zabriskie) e “The Dungeonmaster 2 - A Sorcerer's Nightmare” (com Jeffrey Byron e Richard Moll). A ideia em si é bem curiosa, e você pode pensar nesta coletânea como uma espécie de “Grindhouse”, aquele projeto fracassado de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, só que 20 anos antes (chupa, Tarantino! chupa, Rodriguez!).

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Assim seria o pôster da coletânea "Pulse Pounders"

Enfim, os três filminhos de meia hora foram completados e Band já começava a divulgar sua antologia com o título “Pulse Pounders Volume 1”, comprovando que havia a intenção de produzir mais coletâneas no futuro, quem sabe até trazendo mini-sequências de meia hora para outros belos filmes da Empire Pictures, como “Metalstorm” ou “Patrulheiros do Espaço”, e quem sabe mais adaptações curtinhas de contos de Lovecraft.

Mas embora “Pulse Pounders” tenha sido anunciado e divulgado, inclusive com trailer em fitas da produtora (veja abaixo), a crise financeira da Empire Pictures decretou seu sepultamento: não demorou para a pequena empresa de Band ir à falência, e a prometida antologia acabou nunca sendo lançada. Pior: os negativos em 35mm foram extraviados no inferno que se desencadeia sempre que uma companhia fecha, e o projeto parecia perdido para sempre.


Trailer do nunca lançado "Pulse Pounders"



Pouco tempo depois, Charles Band abriu uma nova empresa, a Full Moon, e retomou diversos projetos antigos, com ainda menos grana e direto para o mercado de vídeo. Com “Pulse Pounders” perdido para sempre (ou ao menos assim se imaginava), o produtor resolveu dirigir até um novo “Trancers 2” em 1991, descartando completamente aquele curta filmado alguns anos antes.

Já “The Dungeonmaster 2” ficou perdido no limbo, enquanto outras adaptações baratas de contos de H.P. Lovecraft (como “Aprisionados pelo Medo”, de 1994, e “O Castelo Maldito”, de 1995) ajudaram a manter THE EVIL CLERGYMAN devidamente esquecido durante décadas.

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Mas esta é uma história com final feliz, apesar de demorado: em 2011, Charles Band anunciou aos quatro ventos que encontrou uma velha fita VHS contendo a “workprint” (cópia de trabalho) de “Pulse Pounders”. Os negativos originais continuam perdidos, mas já era alguma coisa, considerando que muita gente aguardava para ver pelo menos um dos segmentos da coletânea há vinte e poucos anos!

Como bom espertalhão e comerciante que é, Band resolveu desmembrar “Pulse Pounders” e lançar os três curtas separadamente, um por ano, fazendo o possível e o impossível para dar-lhes um mínimo de restauração – já que, lembre-se, estamos falando de imagens capturadas de uma velha fita de vídeo, e sem música nem efeitos sonoros!

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THE EVIL CLERGYMAN foi o primeiro episódio a ser lançado, considerando o grande culto que existe às velhas adaptações de Lovecraft produzidas pela Empire. E para este ano (2013) estava programada a estréia do “Trancers 2” bastardo, agora rebatizado “Trancers 1.5 – City of Lost Angels” por causa da existência da outra Parte 2! Já “The Dungeonmaster 2” deve ficar para 2014, a não ser que Band invente alguma das suas...

Bem, encerrada a aula de história, vamos ao que interessa: o que se pode dizer do mítico THE EVIL CLERGYMAN? Valeu a pena esperar 25 anos, ou seria melhor que o curta tivesse ficado perdido para sempre?

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A resposta é simples: é óbvio que o que temos aqui não chega nem aos pés das adaptações mais clássicas de Lovecraft produzidas por Charles Band, como “Reanimator” e “Do Além”. Até porque o velho Charles não é nenhum Stuart Gordon. Mesmo assim, o resultado é bem acima da média. Talvez pela nostalgia de rever quase todo o time de “Reanimator” junto num outro filme inspirado em Lovecraft. Ou talvez pelo fato de as produções assinadas por Band hoje serem tão ruins que até os trabalhos menos expressivos da antiga Empire parecem bem melhores em comparação.

O conto homônimo que inspirou THE EVIL CLERGYMAN foi publicado no Brasil como“O Clérigo Diabólico” numa velha antologia de contos do autor chamada “A Tumba e Outras Histórias", lançada pela Francisco Alves Editora em 1991 (e republicado em 2007 no formato pocket pela  L&PM). Trata-se de um conto bem curto (apenas cinco páginas) que Lovecraft escreveu em 1933, mas só foi publicado em 1939, depois da morte do autor (que foi em 1937), na revista “Weird Talers”. (Você pode ler o conto completo, em inglês, clicando aqui)

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A história original é até bem inexpressiva, narrada por um homem que visita uma velha casa e é atraído até o sótão. Ali, encontra um clérigo queimando velhos livros de magia negra na lareira. Outros religiosos, incluindo um bispo, aparecem para confrontar o “clérigo diabólico”, mas ele os confronta usando um objeto mágico que estava sobre a mesa.

Quando o próprio narrador é ameaçado pela diabólica figura, ele resolve utilizar o mesmo objeto para se livrar do clérigo. Mas, ao tentar fugir da casa, se olha num espelho e percebe que está diferente: o reflexo não é dele, mas sim do “clérigo diabólico”. E o conto termina assim:“Pelo resto da minha vida, exteriormente, eu seria aquele homem!”.

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Nada muito inspirador, certo? Assim, não é de se espantar que o roteirista Dennis Paoli, o mesmo que escreveu diversas adaptações de Lovecraft para Stuart Gordon dirigir (de “Reanimator” a “Dagon”), tenha aproveitado bem pouco do conto ao escrever THE EVIL CLERGYMAN. E, mais uma vez, sexo e perversão são a mola-mestra da trama, a exemplo do que já havia acontecido em “Reanimator” e “Do Além”.

O narrador anônimo (e homem) do conto aqui foi transformado numa bela mulher, Said Brady, que obviamente é interpretada pela delícia da época Barbara Crampton (aquela mesma que quase foi estuprada por uma cabeça decepada em “Reanimator”). Ela vai visitar um velho castelo onde viveu e morreu um clérigo chamado Jonathan (Jeffrey Combs, o Dr. Herbert West de "Reanimator"), que não era exatamente um exemplo de pureza - lembre-se: ele é o “clérigo diabólico” do título!

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Ocorre que Said e Jonathan foram amantes no passado. Ao saber da morte misteriosa do religioso, ocorrida há alguns dias, a garota resolve visitar o quarto onde ele vivia e onde ambos dividiram momentos de intimidade. Porém, no momento em que a moça fica sozinha no local, Jonathan reaparece. E não se trata de uma assombração, conforme ela irá confirmar por conta própria. No momento seguinte, os dois estão na cama “tirando o atraso”.

Pelos próximos vinte e poucos minutos, aparecem ainda um misterioso bispo (interpretado pelo excelente David Warner), que acusa Jonathan de assassinato, e uma bizarra criatura meio homem, meio rato (“interpretada” por David Gale, o Dr. Hill de “Reanimator”, aqui debaixo de carregada maquiagem). É quando Said começa a desconfiar das boas intenções do clérigo por quem se apaixonou...

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Como se trata de um curta-metragem de 27 minutos, não dá para falar muito mais sobre THE EVIL CLERGYMAN para não estragar a surpresa. Mas, para quem já leu o conto original de Lovecraft, é bom salientar que quase tudo que se vê na tela saiu da mente do roteirista Paoli, e a única coisa que realmente lembra a história em que o filme se inspira é a conclusão - mesmo que (infelizmente) sem usar o recurso do reflexo no espelho.

A exemplo do que já havia feito em seus roteiros de “Reanimator” e “Do Além”, Dennis Paoli escapa da armadilha de tentar adaptar Lovecraft com muita fidelidade, descartando a narrativa em primeira pessoa e buscando uma abordagem que mistura horror e erotismo – aqui, como acontecia em “Reanimator”, a pobre Barbara também leva umas lambidas em lugar estratégico do vilão interpretado por David Gale!

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Aliás, é impossível não lembrar de “Reanimator” quando THE EVIL CLERGYMAN parece uma reunião da equipe técnica daquele filme. Se não existisse um intervalo de tempo de pelo menos dois anos entre as duas produções, eu poderia até jurar que o curta tinha sido filmado nos intervalos das gravações de “Reanimator”. Além de dividir o mesmo elenco e o mesmo roteirista, o curta traz ainda o diretor de fotografia Mac Ahlberg e o técnico de efeitos especiais John Carl Buechler, que também trabalharam naquele filme.

É uma pena que Stuart Gordon também não tenha voltado para assinar a direção e deixar o clima ainda próximo do universo dos seus “Reanimator” e “Do Além”. Band até que se sai bem ao tentar emular esse clima, mas é impossível não ficar imaginando como o curta ficaria caso Gordon estivesse no comando, ainda mais conhecendo sua paixão pelos contos e pelo universo de Lovecraft.

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Curiosamente, apesar do reencontro da turma de “Reanimator”, para mim a melhor coisa do curta é a pequena participação do lendário David Warner, que deve ter gravado todas as suas cenas em algumas poucas horas. Seu personagem, o bispo misterioso, aparece para reforçar as verdadeiras intenções de Jonathan, e justificar o porquê de ele ser o “clérigo diabólico” do título original.

O restante da turma manda muito bem, e, além dos quatro já citados, completa o reduzido elenco a veterana Una Brandon-Jones, no papel da proprietária do castelo. Eu só lamento o pouco tempo em cena de David Gale e seu homem-rato, já que, depois de anos lendo sobre o curta em minhas pesquisas sobre a antologia “Pulse Pounders”, eu sempre imaginei que o monstrinho teria um papel muito maior na trama. (O curta é dedicado ao ator, que faleceu em 1991.)

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Irmão de Charles, o compositor Richard Band (que, vejam só, também é o responsável pela antológica trilha de “Reanimator”, aquela chupada do tema de “Psicose”!) foi convidado para compor a música de THE EVIL CLERGYMAN mais de vinte anos depois do fim das filmagens. A trilha tem seu charme e lembra os melhores momentos do músico; se eu não soubesse que é coisa nova, juraria que ele tinha composto a música lá em 1987!

Claro que, como o curta foi resgatado de uma cópia em VHS de quase 30 anos atrás, a qualidade da imagem não é das melhores, um problema que é ainda mais perceptível nas cenas escuras. Infelizmente, não há muito o que fazer nesse departamento, a não ser que os negativos originais reapareçam e permitam fazer uma nova montagem – quem sabe até com cenas que não foram aproveitadas na “workprint” daquela época.

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Considerando o nível das podreiras que Charles Band produz e dirige hoje, repletas de CGI de quinta categoria e roteiros tosquíssimos sobre bongs e biscoitos assassinos, THE EVIL CLERGYMAN promove um autêntico retorno ao passado, a uma época não tão distante em que mesmo os filmes de horror mais baratos tentavam buscar um mínimo de sofisticação, e dependiam bastante do talento e criatividade do técnico em efeitos especiais, e não do computador.

É interessante constatar que os efeitos da criatura “homem-rato” não foram produzidos em stop-motion, como era comum naquela época nas produções da Empire. Pelo contrário, o pobre David Gale vestiu uma roupa de rato em tamanho natural e foi obrigado a zanzar de quatro por um cenário repleto de estruturas aumentadas, para dar a ideia de que o monstrinho é bem menor do que realmente era.

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Isso exigiu bastante criatividade do time dos efeitos especiais, principalmente para a cena em que o homem-rato aparece dando umas lambidas na bunda da mocinha. Mesmo com pouco dinheiro em caixa, Band dispensou truques fotográficos ou montagens porcas e mandou construir uma réplica da bunda de Barbara Crampton em dimensões gigantes (!!!) só para poder filmar essa cena.

No bate-papo realizado na premiére do filme, em agosto do ano passado, a atriz inclusive lembrou com surpresa da réplica gigante dessa bela parte da sua anatomia, e questionou Band sobre o destino do “bundão”; segundo o diretor-produtor, alguém da equipe deve ter guardado de recordação, sabe-se lá com que propósito!

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No mesmo bate-papo, Band lembrou que a equipe dos efeitos tentou fazer uma complicada trucagem em que o rosto de Jeffrey Combs se transformava no de Barbara Crampton; porém, após alguns testes, eles abandonaram a ideia e preferiram deixar a “transição” para a imaginação do espectador. Confesso que fiquei curioso para ver como resolveram algo tão complicado tecnicamente com os efeitos práticos da época...

Por falar em DVD, THE EVIL CLERGYMAN está disponível no formato desde outubro de 2012, mas o material é a típica picaretagem do mercenário Charles Band: ao invés de esperar para finalmente lançar o tão sonhado“Pulse Pounders” num único DVD, o maquiavélico produtor optou por lançar discos separados com cada um dos curtas. Assim, você é obrigado a desembolsar o preço de um longa para ter o DVD com um curta e alguns extras mixurucas que foram gravados hoje. Bem, é justamente nesses casos que o download de filmes funciona como uma espécie de justiça poética, já que Band definitivamente não merece o dinheiro que está cobrando pelo material.

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Picaretagens à parte, THE EVIL CLERGYMAN é muito divertido e vale principalmente pelo fator nostalgia, já que todo fã das produções da extinta Empire, e de suas clássicas adaptações de Lovecraft, passou os últimos anos sonhando com esse curta-metragem. Vê-lo hoje, nesses tristes tempos em que o gênero parece dominado por refilmagens e overdose de CGI, é como fazer uma viagem no tempo até uma época que transpirava simplicidade e criatividade.

E, confesso, dá a maior saudade daquelas adaptações classe B de Lovecraft que a turma da Empire/Full Moon adorava produzir. Porque se hoje boa parte dos cinéfilos sonha com a tão comentada adaptação de “Nas Montanhas da Loucura” por Guillermo Del Toro, a única coisa que realmente me deixaria animado seria um retorno do velho Stuart Gordon aos textos de Lovecraft.

Mas como isso parece um sonho cada vez mais distante, o que nos resta são esses 27 minutos de THE EVIL CLERGYMAN para quebrar o galho...


Cena de THE EVIL CLERGYMAN



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The Evil Clergyman (1987-88, EUA)
Direção: Charles Band
Elenco: Barbara Crampton, Jeffrey Combs,
David Gale, David Warner e Una Brandon-Jones.

BLACK DEMONS (1991)

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Uma reclamação comum sobre o cinema fantástico brasileiro é o fato de geralmente "importarmos" os monstros estrangeiros, como vampiros e mortos-vivos estilo George Romero, ao invés de usar elementos do nosso riquíssimo folclore. Na verdade não é bem assim: já tivemos vários filmes mostrando caras, criaturas e superstições tipicamente nacionais, e alguns diretores contemporâneos estão investindo ainda mais nisso - tipo Dennison Ramalho (em seu curta "Amor Só de Mãe") e Rodrigo Aragão (com seus zumbis do mangue e chupa-cabras).

Mas, claro, ainda há muita coisa a se explorar nesse universo. Imagine, por exemplo, uma história sobre escravos negros que foram torturados e executados pelos seus feitores no século 19, em pleno Brasil Colônia sob o jugo português, e que nos dias atuais voltam à vida como zumbis para se vingar dos colonizadores. A ressurreição acontece através de um ritual de macumba realizado por um pai-de-santo num terreiro. E aí, não daria um belo filme de horror tupiniquim?

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Bem, a má notícia é que este filme já existe. Foi feito no Brasil no começo dos anos 1990, misturando atores brasileiros e estrangeiros. A trama envolve justamente escravos-zumbis, uma velha fazenda do interior carioca e macumba. Só que ele não foi dirigido por um brasileiro, e sim por um italiano bem oportunista e cara-de-pau chamado Umberto Lenzi. Sim, aquele mesmo Lenzi que deu início ao ciclo italiano de produções sobre canibalismo, fez um punhado de policiais e filmes giallo bem legais, e foi o responsável por clássicos do cine-podreira como "Nightmare City" e "Cannibal Ferox".

Pois este mesmo Lenzi foi o visionário que enxergou potencial numa história sobre escravos negros zumbis, e não um cineasta, bem, brasileiro! BLACK DEMONS ("Demônios Negros") é o nome do filme em questão, rodado com uma pequena equipe meio italiana, meio brasileira (parece até sabor de pizza...) no interior do Rio de Janeiro, em 1991, quando a produção cinematográfica italiana já estava muito, mas muito mal das pernas. (Na mesma época, Lenzi também filmou no Brasil a tosquíssima aventura "Caçada ao Escorpião Dourado", aquela com Cecil Thiré como vilão!)

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BLACK DEMONS sempre foi aquele filme que todo mundo conhece, mas pouca gente viu. Apesar da trama, do cenário e de parte da equipe serem brasileiros, ele nunca chegou a ganhar exibição em nossos cinemas, nem mesmo distribuição em vídeo, DVD, blu-ray ou qualquer formato doméstico existente - embora exista uma velha lenda urbana de que cópias piratas em vídeo tenham circulado pelas locadoras brasileiras lá pela década de 90.

Logo, sem distribução oficial, o filme de zumbis brasileiros de Umberto Lenzi só foi visto pelos próprios brasileiros graças à antiga emissora CNT/Gazeta, que reprisou-o nada mais nada menos de três vezes (!!!) entre outubro de 1993 e setembro de 1994, rebatizando-o com o nome genérico "Noite Maldita". As críticas mal-humoradas do velho Guia de TV do jornal Folha de São Paulo são uma atração por si só, conforme você pode ver abaixo. Anos depois, em 2002, a obra finalmente ganhou um DVD, lançado nos Estados Unidos pela Shriek Show, e assim ficou mais acessível, graças à internet e aos downloads.

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Folha detonando o filme de Lenzi 3 vezes!

O caso é que embora a história seja bem interessante - ainda mais para nós, brasileiros, para quem o drama da escravidão ainda é relativamente recente -, o filme é bem ruinzinho e desperdiça qualquer potencial em situações forçadas, clichês e sustos fáceis.

Perdido em algum lugar entre a produção paupérrima e o elenco sem química, com quem confessadamente odiou trabalhar, Lenzi não pôde exercer plenamente o seu talento para cenas de horror e tensão, e o resultado é um "bom filme ruim", daqueles que você vê sem qualquer pretensão de levar a sério, e que pode até render umas boas gargalhadas caso você assista bêbado ou com os amigos - ou ambos. Porque sempre é engraçado ver atores americanos às voltas com ameaças brasileiras, como a macumba.

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Lenzi veio filmar aqui no Brasil com as bênçãos do também italiano Michele Massimo Tarantini (creditado como "diretor de arte" de BLACK DEMONS, sob seu tradicional pseudônimo "Michael E. Lemick"). Tarantini chegou ao Brasil nos anos 80 e rodou alguns engraçadíssimos filmes de baixo orçamento por aqui, mesclando mão-de-obra italiana e brasileira. Os mais populares são "Fêmeas em Fuga" e o meu favorito, "Perdidos no Vale dos Dinossauros".

No final desta década, já estabelecido no Rio, o esperto Tarantini começou a fazer o meio-de-campo para que outros colegas italianos viessem filmar no país. No caso de Lenzi, ele também foi um dos responsáveis pelo já citado "Caça ao Escorpião Dourado". Há um milhão de histórias e fofocas sobre as aventuras brasileiras de Tarantini, mas isso renderia um post à parte, então vamos parar por aqui.

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BLACK DEMONS já começa sem perder tempo, com os créditos rolando sobre as tradicionais imagens de cartão-postal do Rio de Janeiro, e apresentando o nosso trio de "heróis" estrangeiros: Jessica (a norte-americana Sonia Curtis), Kevin (o inglês Keith Van Hoven) e Dick (o norte-americano Joe Balogh, também dirigido por Lenzi em "A Passageira", e que é um verdadeiro clone do Kevin Bacon!). Os dois primeiros são namorados, e o último é o irmão mimado da moça.

Os gringos estão fazendo turismo de jipe pelo Brasil, mas Dick está aborrecido porque queria ver de perto os rituais de candomblé. Após uma discussão com a irmã e seu namorado, ele sai andando a esmo pelas ruas cariocas até chegar numa vila pobre, onde um grupo de crianças realiza um estranho ritual com tambores e máscaras (!!!).

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Atraído pela molecada, Dick encontra um pai-de-santo cego que tem um misterioso amuleto no pescoço. Aí uma mulher (a atriz brasileira Cléa Simões) surge do nada e sai puxando papo com o turista, mas o diálogo não sai em português, e sim num inglês de sotaque carregadíssimo - como se todo mundo no país falasse inglês normalmente no dia-a-dia.

Dick enche o saco da mulher para ver de perto um trabalho de macumba. O diálogo em inglês é hilariante: Balogh, que é americano, fala o idioma fluentemente, mas a atriz que contracena com ele escorrega feio no sotaque. Além disso, palavras em português aparecem nitidamente em meio aos diálogos - e, neste caso, carregadas do sotaque de Balogh.

Ao pedir à mulher se o cego é um pai-de-santo, por exemplo, o ator pronuncia algo como:"He is a péi-de-sénto, right?". Já sua interlocutora enche as frases em inglês com termos brasileiros, e é muito engraçado ouvir sentenças tipo"Let Iemanjá guide you" ou"I will guide you to the terreiro". No fim, só para resumir a história, a mulher concorda em levar Dick até um terreiro escondido na floresta (!!!), para ver de perto um ritual que, supostamente, teria o poder de despertar os mortos!

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Sem avisar os amigos, o jovem sai do hotel no meio da noite para ver de perto o tal ritual, que tem de tudo um pouco: o pai-de-santo cego sentado num canto, um mané que fica dançando e esfregando uma tocha bem na frente da câmera, uns mulatos batucando seus tambores, aquela cantoria típica ("Aêêê aêêêêê aêêêê") e uma mulata seminua saracoteando como se fosse abre-alas de alguma escola de samba.

Lenzi aparentemente não esqueceu dos seus tempos de assassino de animais em filmes como "Cannibal Ferox", por isso emenda uma cena real em que uma galinha preta tem a cabeça decepada, só para a dançarina em êxtase beber o sangue que escorre do pescoço da ave. Dick, fascinado, usa um gravador de áudio para registrar todo o ritual. No fim, ganha o amuleto usado pelo pai-de-santo, bebe algo alucinógeno e sai de órbita. Acorda, no dia seguinte, em seu quarto de hotel.

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É hora de seguir viagem, e no momento seguinte o trio de turistas aparece a bordo de seu jipe cruzando uma selva (talvez para alimentar aquela ideia equivocada de que, no Brasil, é tudo Floresta Amazônica). O veículo pifa no meio do caminho, mas eles dão sorte de encontrar um casal de brasileiros, José Barros (o ator brasileiro Felipe Murray, usando o pseudônimo "Phillip Murray") e Sonia (a atriz brasileira Juliana Teixeira).

Novamente, apesar de os brasileiros não saberem que o trio em apuros é formado por estrangeiros, eles já aparecem falando inglês carregado de sotaque! José oferece ajuda aos gringos, dizendo que vive em uma casa de fazenda a alguns quilômetros dali, e convida os desafortunados turistas para passarem a noite lá.

Na chegada, eles conhecem a empregada Maria (a atriz brasileira Maria Alves). Como toda doméstica-macumbeira-supersticiosa-cinematográfica brasileira, a moça logo fareja algo demoníaco em um dos visitantes - Dick, que aparentemente foi possuído por algum orixá (!!!) durante a cerimônia no terreiro.

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A noite cai e o grupo se retira para seus quartos. Mas enquanto todos dormem - e Maria realiza uns rituais de purificação em seu quarto -, o possuído Dick sai da casa e caminha até um cemitério próximo à fazenda, onde existem algumas covas do século 19, e até um crânio com um dos olhos intactos, sabe-se lá como!

No meio deste cemitério, o gringo liga o gravador e deixa tocar aquela ladainha que gravou no dia da cerimônia de candomblé. Bingo: o encantamento dos macumbeiros incendeia as tumbas e traz os mortos enterrados no cemitério de volta à vida!

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No caso, os tais mortos são seis escravos negros que foram enterrados ainda com os grilhões e correntes amarrados aos pulsos e tornozelos (até parece que o feitor não iria tirá-los na hora de sepultar...). E não sei como é que os cadáveres resistiram à decomposição estando sepultados em covas rasas durante um século, mas seus corpos continuam inteirinhos, apresentando apenas sinais de podridão no rosto (claro, senão não seriam zumbis!).

Para completar a balbúrdia, cada um dos mortos-vivos levanta do seu caixão portando uma arma branca: um segura um gancho, outro um machado, outro uma foice, outro um facão, e por aí vai. Quer dizer, os sujeitos foram sepultados com as armas, já pensando numa possível vingança futura! Coisa de louco! Parece até o que faziam com os faraós do Antigo Egito!

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A primeira vítima dos "demônio negros"é a pobre Sonia. Ela escuta um barulho vindo do lado de fora da fazenda e vai checar - vestindo apenas blusa e calcinha. É então cercada pelos zumbis, e tem um dos olhos extirpado com o auxílio do gancho metálico - em uma cena bem sangrenta. Mas a reação da atriz é bem engraçada: com o olho para fora da órbita, o que deve doer pra cacete, ela apenas fica repetindo "Please, no!", ao invés de berrar alucinadamente. E claro que ninguém na fazenda escuta os gritos da pobre moça...

A partir de então, a história é aquela de sempre, mas contada de forma bem ruinzinha. Apesar de serem mortos-vivos, os tais "demônios negros" ficam sumindo entre uma morte e outra, ao invés de já atacar todo mundo de uma vez - preferem pegar cada uma das vítimas de surpresa, tipo o Jason, mas não tem lógica alguma, pois onde seis mortos-vivos se esconderiam nos intervalos entre os assassinatos?

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Aí José surge com a tradicional "história do passado para justificar a trama", explicando que, no século 19, quando a fazenda pertencia a um rico proprietário de terras, seis escravos que tentaram fugir passaram por longas torturas antes de ser enforcados, mas juraram voltar para se vingar. Por isso, o sexteto agora voltou para acertar o placar, e precisam matar seis pessoas para fechar a fatura e poder descansar em paz.

Não que a coisa tenha muita lógica, considerando que eles deviam ter voltado para se vingar do fazendeiro que os matou 100 anos atrás, e não dos pobres inocentes que nada têm a ver com a história - incluindo três gringos que só estão ali por pura casualidade. Aliás, é até engraçado que a tal vingança anunciada um século antes só tenha acontecido um século depois porque um bocó ianque fez a burrada de gravar um ritual de macumba e reproduzi-lo no tal cemitério; caso contrário, a vingança dos seis escravos ficaria só na ameaça!

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BLACK DEMONSé uma salada de frutas que mistura elementos de vários outros filmes. Por exemplo: assim como os mortos cegos da famosa série espanhola de Amando de Ossorio, os escravos aqui também foram cegados pelo feitor (acima), mas isso acaba não fazendo nenhuma diferença no fim das contas!

O título em inglês nunca se justifica (por que chamar os vilões de demônios se eles são, claramente, zumbis?), e nem sei se a obra pode ser classificada rigorosamente como "filme de zumbis", já que é mais uma trama de vingança, com mortos-vivos que têm alvos bem específicos e não matam qualquer ser vivo em busca de comida, como acontece nos filmes de George A. Romero e suas imitações italianas.

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Curiosamente, na Itália a obra foi lançada com outro título,"Demoni 3" (como você deve ter visto no pôster no início da postagem), tentando forçar uma conexão inexistente entre uma história independente como esta e os bem-sucedidos "Demons" 1 e 2, dirigidos por Lamberto Bava em 1985 e 1986. (Veja abaixo os créditos da versão internacional e da versão italiana, para comprovar a picaretagem.)

Numa entrevista, o próprio Lenzi queixou-se do uso do título: "'Demoni 3'? Isso é uma estupidez, um absurdo! Eu nunca vi os filmes de Bava! A produção acabou se chamando 'Demoni 3' por causa do produtor [Giuseppe Gargiulo], que queria faturar em cima do título. Mas a história, claramente, não tem nada a ver com os filmes de Lamberto Bava".

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Créditos iniciais da versão internacional

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Créditos iniciais da versão italiana

No fim, o melhor é encarar BLACK DEMONS como comédia involuntária. O filme tem vários momentos de rolar de rir, como o fato de as vítimas serem mortas mesmo quando é virtualmente impossível ser apanhado pelos zumbis. Nunca vou conseguir entender como é que as criaturas sempre conseguem atacar suas vítimas de surpresa se as correntes em seus tornozelos arrastam pelo chão, fazendo o maior barulhão. Também queria saber qual deles carrega a máquina de gelo-seco, considerando que cada aparição dos mortos-vivos é precedida por uma névoa espessa!

Já o roteiro de Olga Pehar coloca alguns diálogos engraçadíssimos na boca dos seus personagens. Tipo quando Sonia solta um comentário depreciativo ao nosso pobre país: "Não se assustem se a água tiver cara de chá. Aqui é o Brasil, não Nova York!". Ou o duplo sentido involuntário dos diálogos envolvendo o pobre Dick, já que "dick", nos EUA, também é uma famosa gíria para o órgão sexual masculino. Nesse sentido, é engraçadíssimo quando Kevin larga um "I can't find Dick". Bem, se ele não consegue achar, eu é que não vou ajudá-lo a procurar...

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Porém o mais engraçado do filme é o fato de o inglês ter se transformado na língua oficial do Brasil - e como dói ouvir a maioria dos atores brasileiros falando um inglês quase ininteligível de tanto sotaque. Por exemplo, o diálogo da empregada Maria,"There isn't enough sheets for them all", sai como "Dérisen enáf shits for demól". Mais adiante, "Now I see it all clearly" vira "Nau ai si étol clirli". Por fim, "What's happened to her?" soa como"Uats répen tchu ãr?".

E mais: que o casal brasileiro José e Sonia fale em inglês com os turistas gringos, tudo bem; mas qual a real necessidade de eles se comunicarem com a empregada da fazenda também em inglês? Pois é...

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Apesar de ter sido filmado aqui, e de contar uma história tipicamente brasileira, BLACK DEMONS ironicamente é uma produção bem obscura em nosso país. E não só porque não teve distribuição "oficial", mas também porque faltam fontes sobre a produção (não saiu nada nos jornais e revistas de cinema da época, apesar de um filme de zumbis rodado no Brasil parecer um assuto bem curioso, pelo menos para mim!).

Para tentar saber mais sobre os bastidores, entrei em contato com uma das atrizes principais do elenco brasileiro, a baiana radicada no Rio de Janeiro Juliana Teixeira (é ela na foto abaixo), que há anos abandonou a carreira de vítima em filmes baratos de horror e hoje pode ser vista principalmente em peças de teatro - embora também já tenha feito algumas novelas da Globo.

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Pelo telefone, a atriz primeiro estranhou minha curiosidade por uma produção obscura como BLACK DEMONS, mas logo começou a falar animadamente sobre o assunto. Ela lembrou que, na época, participou de várias produções estrangeiras filmadas no Brasil por causa do seu inglês fluente. Além do trashão do Lenzi, ela pode ser vista em obras tão díspares quanto o norte-americano "O Quinto Macaco" (1990, de Éric Rochat) e os italianos "Lambada" (1990, de Giandomenico Curi) e "Butterfly" (uma minissérie de TV filmada no Rio em 1995, e dirigida por Tonino Cervi).

"Me indicaram para um teste, por saber falar inglês, e passei. Mas confesso que, no começo, fiquei com medo por ser um filme de terror e de zumbis, eu realmente não sabia o que esperar. E só fui ver o filme pronto recentemente, faz uns cinco anos. As pessoas falavam muito dele, e soube que passou na televisão, mas eu nunca tinha visto", lembrou ela.

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Sobre o filme, Juliana é sincera:"Achei muito tosco, é uma produção bem classe C". As filmagens, contou ela, aconteceram em Vassouras, uma pequena cidade a 120 km e cerca de duas horas do Rio de Janeiro."Passamos três semanas ali. Tinha uma equipe reduzida formada por alguns italianos e alguns brasileiros. Lembro que o maquiador [de efeitos] era muito bom e veio da Itália".

Ela provavelmente está se referindo ao responsável por arrancar seu olho em cena (abaixo), o italiano Franco Cosagni, que trabalhou em vários filmes de Dario Argento - entre eles, "Terror na Ópera" e "Síndrome Mortal". Mas a equipe de efeitos especiais também contou com um mestre brasileiro na área, Sérgio Farjala, creditado como "Serge Farjala" aqui.

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Juliana continua lembrando dos bastidores de BLACK DEMONS: "O chefe de produção se chamava Massimo, e era muito legal [ela se refere a Michele Massimo Tarantini]. Mas os outros produtores italianos eram bem grosseiros, bem difíceis de lidar. A equipe brasileira era a que fazia o trabalho pesado, e os figurantes eram todos daqui, inclusive os zumbis. Foi um trabalho árduo, mas achei bem divertido. E o elenco era ótimo, eu já conhecia o Felipe Murray e adorei a Sonia e os dois atores, o inglês [Keith] e o americano [Joe]".

A atriz brasileira só não guarda boas recordações do diretor Lenzi:"Era um homem difícil, que não falava muito com a gente e não dava muita abertura para que falássemos com ele. O pessoal do elenco brasileiro nunca sugeria nada por causa disso. Era muito mal-humorado, sempre bem seco. E eu fiquei magoada porque ele falou muito mal de nós numa entrevista, como se a culpa pelo resultado do filme fosse apenas dos atores brasileiros".

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A entrevista em questão está nos extras do DVD importado de BLACK DEMONS, em que Lenzi declarou o seguinte: "Eu preciso admitir que o filme não ficou muito bom. Não fiquei completamente satisfeito com ele, porque o elenco era bem fraco. Somente o protagonista, Joe Balogh, era um ótimo ator, mas neste filme ele não atuou tão bem porque nós filmamos no Brasil, em condições muito difíceis, nessa fazenda onde só era possível chegar de jipe, onde não havia estradas e passávamos o dia muito longe da cidade. E os outros atores do elenco são todos do Brasil, mas eram atores medíocres, somente a atriz que interpretava a feiticeira era talentosa".

(Eu, particularmente, não acho que os atores brasileiros se saíram tão mal, mas a careta com direito a língua de fora que Felipe Murray faz ao tomar uma punhalada do pescoço é muito engraçada!)

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Mas, justiça seja feita, o diretor também sentou as patas na pobre atriz norte-americana Sonia Curtis (foto abaixo) nessa mesma entrevista:"Ela não foi a atriz escolhida para o papel. Eu tinha escolhido uma outra atriz, muito bonita, de Los Angeles. Só que, no último minuto, ela desistiu do projeto, e quando o avião dos Estados Unidos chegou e fui recepcionar minha atriz, encontrei uma outra diferente da que eu esperava!".

Na opinião do italiano, Sonia era uma péssima atriz, e ele só não foi atrás de uma substituta porque não poderia parar a produção por vários dias. "Além de ser uma péssima atriz, ainda era baixinha e nem um pouco atraente", detonou Lenzi, que foi bastante deselegante (como diria a Sandra Annenberg) ao citar um fato ocorrido nos bastidores, quando a americana tomou leite recém-ordenhado na fazenda e ficou doente; nos dias posteriores, segundo o diretor, todos começaram a pensar que ela estava com Aids!!!

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O segundo principal ator brasileiro do longa, Felipe Murray, confirmou o clima difícil no set, em contato feito pelo Facebook depois de ler esta resenha:"Não considero que fiz um bom trabalho, mas acho que grande parte foi devido ao péssimo clima com o diretor. Ficamos travados, sem liberdade e criatividade. Aquela minha cara de nojo com a língua para fora - hilária! - ao levar a facada no pescoço reflete o que estávamos sentindo", justificou.

Segundo ele, a coisa foi complicada desde o início:"Fiz o teste e fui informado que eu tinha passado. O cachê já estava combinado desde antes do teste, mas no dia de assinar o contrato chamaram o outro ator que tinha ficado para a final comigo e colocaram na sala de espera comigo. Na hora que entrei, ficaram me pressionando a aceitar um cachê menor ou iriam fechar com o outro ator! Isso é de um profundo mau caráter, e foi tramoia do Massimo, que era o produtor e se radicou por aqui produzindo filmes de terceira para produções estrangeiras, utilizando esses artifícios para economizar recursos. Acabei fechando porque estava em um intervalo entre um trabalho e uma peça de teatro, e teria este mês disponível, mas ficou aquele clima de tapeação no ar".

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Meu xará - esse rapaz prestes a ser pego por trás na foto acima - também confirmou que não foi fácil trabalhar com o diretor: "O que a Juliana falou foi o que aconteceu, mas ela foi gentil ou não quis falar que o Lenzi era mesmo muito grosso! Ele só vivia aos gritos com a sua equipe e com os brasileiros, não dava espaço nenhum para nada, e o clima no set ficou insustentável. Todos se sentiam presos para criar e foi todo mundo se fechando. A Sonia sofreu muito com ele, e eu também. Você já deve ter reparado, pela maneira que ele fala dela ou de várias outras coisas, que ele é muito deselegante".

A situação chegou num ponto tão insustentável que, segundo Murray, os atores estrangeiros acabaram tomando as dores da equipe brasileira:"O Joe e o Keith eram bem legais, e teve um dia em que o Lenzi estava atacado, berrando um monte de grosserias, e os dois foram para o Massimo e falaram que não iriam filmar mais nada enquanto o Lenzi não falasse direito comigo e com os outros brasileiros. Foi a gota d'água para mais um dos ataques fenomenais e aos gritos do Lenzi. O clima era péssimo, mas deu a hora do almoço, os ânimos foram se acalmando, o Massimo conversou com ele e ele ficou mais calmo e tentou explicar de uma maneira mais entendível o que queria. Mas era muito perturbado".

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Pelo menos a pancadaria no set serviu para fortalecer a amizade entre os brasileiros e os atores gringos. Segundo Felipe, "na mesma noite, depois da 'greve' dos atores americanos, como o dia seguinte era folga, fomos os cinco que falavam inglês bem para passear na cidade. Fomos em alguns bares, jogamos sinuca e acabamos voltando para o hotel todos bêbados. Foi a maior farra, e uma válvula de escape para tanta pressão. Acabei ficando muito amigo do Joe e trocamos correspondências por alguns anos (naquela época não havia internet). Ele morava em Los Angeles, e quando fui morar lá, em 1998, procurei por ele, mas sem sucesso".

A exemplo de Juliana, Felipe Murray também abandonou a vida de vítima em filmes classe C: ele parou de atuar em 1995, passou por diferentes empregos no Brasil e no exterior, e há alguns anos preside uma ONG de voluntariado internacional, que recebe estrangeiros para trabalhar como voluntários em projetos sociais no Brasil. Para finalizar, ele defendeu o seu inglês: "Apesar de você ter criticado a fluência dos brasileiros, vale citar que eu e Juliana falamos bem. Eu aprendi quando criança em casa - meu pai era inglês, meu sobrenome é Murray -, e fiquei totalmente fluente quando fui estudar teatro em NYC com a Juliana, de 1986 a 87".

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O mais curioso é que o mesmo Lenzi que disse não gostar do filme nos extras do DVD importado mais tarde disse que considera BLACK DEMONS a sua obra-prima (!!!), numa outra entrevista diferente publicada nas páginas do livro "Spaghetti Nightmares", de Luca Palmerini e Gaetano Mistretta, em atitude digna de transtorno bipolar!

Pior: nas páginas do mesmo livro, o diretor alega que o ritual de macumba visto no filme é "totalmente real", numa daquelas declarações fantasiosas típicas do nosso querido José Mojica Marins. "
Na verdade, esta parte da filmagem foi muito perigosa e coisas esquisitas começaram a acontecer no set", declarou o fanfarrão. (Obrigado pela transcrição desse impagável trecho do livro, Carlos Primati!)

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Mágoas, fofocas, críticas e abobrinhas à parte, é preciso destacar que o filme pelo menos captura com fidelidade, em vários momentos, alguns costumes e tradições bem brasileiras. Quando Maria se desespera com vultos fantasmagóricos cercando a fazenda, por exemplo, ela se agarra numa imagem de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil - um detalhe simples, porém eficaz para o espectador brasileiro.

A mesma Maria, mais adiante, faz a popular "figa" com os dedos para tentar afastar os maus espíritos, em outro costume bem tradicional da nossa gente. E as cenas filmadas na favela, no início do filme, mostram um Brasil pobre sem maquiagem, com atores que, segundo Lenzi, foram recrutados na rua mesmo, poucas horas antes das gravações!

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O resultado, entretanto, está anos-luz distante do satisfatório, e só pode ser visto ou como comédia involuntária, ou pela nobre tentativa de se fazer um horror com história "100% nacional" - ainda que uma equipe italiana tenha vindo até o Brasil para fazer algo que deveria ter sido uma iniciativa dos nossos realizadores!

Na mesma entrevista dos extras do DVD importado, Lenzi dá uma de suas tradicionais viajadas ao tentar buscar uma "mensagem sociológica" em BLACK DEMONS: "É o conflito entre a chamada civilização dos homens brancos e os nativos, ou os negros que foram capturados na África e trazidos para a América como escravos", delira o cineasta.

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Segundo ele, "esse elemento não está claramente inserido no roteiro, mas serve como background. Os escravos fugiram e foram mortos, torturados, pelos donos da fazenda, que eram brancos de origem portuguesa. E então essa vingança, que acontece um ou dois séculos depois, pode ser considerada a vingança do terceiro mundo contra o mundo civilizado dos brancos".

Opa, mas peraí: dos três mortos pelos zumbis, apenas um é legítimo representante do "Primeiro Mundo", os outros são todos pobres cidadãos terceiro-mundistas! Pior: os "opressores" norte-americanos escapam praticamente ilesos do conflito!

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Por tudo isso, eu continuo esperando um bom filme de horror envolvendo todas essas superstições brasileiras, seja a macumba, sejam os zumbis de escravos negros voltando para dar o troco nos descendentes dos seus feitores.

Mas não só meia dúzia, como vimos aqui. Afinal, se o cadáver de todo escravo africano que foi explorado, torturado e morto por aqui no Brasil Colônia voltasse à vida, teríamos um apocalipse zumbi tupiniquim digno do "Guerra Mundial Z"!

Quanto a BLACK DEMONS... Bem, esse obviamente não conta, já que de terror tem muito pouco e hoje só serve para tirar onda. O tema certamente merece um outro olhar, quem sabe de um brasileiro desta vez. E de preferência com atores locais falando em português, para ninguém provocar risadas involuntárias ao derrapar no inglês!


Trailer de BLACK DEMONS



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Black Demons (1991, Itália)
Direção: Umberto Lenzi
Elenco: Keith Van Hoven, Joe Balogh, Sonia Curtis,
Felipe Murray, Juliana Teixeira, Maria Alves, 

Cléa Simões e Rita Monteiro.

AEROPORTO (1970)

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Muita gente acha que é um modismo dos filmes atuais destruir o mundo com terremotos, maremotos, quedas de meteoros e outras tragédias naturais (ou nem tanto). Mas o chamado "cinema-catástrofe" na verdade é tão velho quanto o próprio cinema: algumas semanas depois do terrível naufrágio do Titanic, no longínquo ano de 1912, produtores alemães já lançavam a primeira versão cinematográfica da tragédia, "In Nacht und Eis" - ou seja, 85 anos antes de James Cameron filmar aquela sua superestimada versão do mesmo naufrágio, em 1997.

Já o norte-americano "Deluge", de 1933, mostrava Nova York sendo destruída por um maremoto 71 anos antes de Roland Emmerich fazer o mesmo em "O Dia Depois de Amanhã" (2004), com direito a cena muito parecida da Estátua da Liberdade desaparecendo em meio às ondas gigantescas! E isso só para citar dois exemplos mais conhecidos, tem muita coisa por aí para ser redescoberta.

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Mas foi mesmo na década de 70 que o "cinema-catástrofe" atingiu o auge da popularidade (e lucratividade). E a maioria dos pesquisadores/historiadores do assunto concorda que isso aconteceu por causa de AEROPORTO, uma superprodução da Universal Pictures que chegou aos cinemas em 1970, e teve o então astronômico orçamento de 10 milhões de dólares.

Não seria exagero dizer que, na época em que foi feito, AEROPORTO era uma blockbuster tão caro e megalomaníaco quanto o "Titanic" de James Cameron. E, assim como este, também foi um sucesso estrondoso no mundo inteiro, faturando mais de 100 milhões de dólares só nos cinemas norte-americanos - ou, em valores atualizados,  558 milhões de dólares, tornando-o o 42º filme mais rentável de todos os tempos!

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O sucesso de bilheteria comprovou que a equação "astros famosos + grande tragédia + melodrama" podia ser bem rentável. E não demorou para os grandes estúdios começarem a investir em todo tipo de superprodução nessa linha: "O Destino do Poseidon", "Inferno na Torre", "Terremoto", "O Dirigível Hindenburg", "O Enxame", e por aí vai.

O próprio AEROPORTO virou uma franquia, com três continuações que não eram exatamente continuações, mas sim recriações do mesmo "suspense aéreo" do original. Ao invés de "Parte 2" ou "Parte 3" no título, as sequências passaram a ser batizadas com o ano em que foram realizadas (!!!): "Aeroporto 75", "Aeroporto 77" e, finalmente, "Aeroporto 80 - O Concorde". Ou seja, uma década inteira explorando o eterno medo de voar, já que os quatro filmes foram produzidos entre 1970 e 79.

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O mais curioso é que AEROPORTO nem foi o primeiro filme sobre aviões em perigo, embora seja lembrado assim até hoje. Nos anos 50, quando o transporte aéreo de passageiros ainda era coisa de luxo e as aeronaves bem menores, várias produções exploraram o potencial "desastroso" do meio de transporte: "No Highway in the Sky" (1951) trazia James Stewart como um engenheiro da aeronáutica preocupado com uma possível tragédia durante os testes de um novo avião de transporte; "Um Fio de Esperança" (1954) trazia John Wayne como o co-piloto que precisa assumir o comando de um avião de passageiros com problemas mecânicos, e "Zero Hour!" (1957) mostrava um avião abandonado à própria sorte quando a tripulação é envenenada pela comida de bordo (o mesmo argumento seria usado anos depois na comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!").

Já dez anos antes de AEROPORTO, em 1960, estreou "Céu de Agonia", de Joseph Pevney, cuja linha narrativa é muito parecida com a deste blockbuster da Universal: um jato militar entra em rota de colisão com um avião comercial e, com a tragédia iminente, acompanhamos os dramas pessoais da tripulação e dos passageiros. Mas nenhum desses filmes anteriores chegou perto do sucesso do seu "parente" mais famoso. (Clique na imagem abaixo para ampliar)

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Confesso aos nobres leitores do FILMES PARA DOIDOS que morro de medo de voar. A bem da verdade, só apelo para o transporte aéreo em último caso; se não há pressa para chegar ao destino, opto pelo velho e bom ônibus. Já encarei viagens de 18 horas de busão que poderiam ter sido feitas em apenas 1h30min via aérea. Mas, acredite ou não, fiquei mais tranquilo passando quase um dia inteiro na estrada do que menos de duas horas no ar.

E sim, eu sei que a probabilidade de sofrer um acidente na estrada é muito maior do que a de sofrer um acidente aéreo. Porém nada me tira da cabeça que você tem bastante chance de sobreviver a uma colisão automobilística, mas ao mesmo tempo não tem nenhuma chance de escapar caso o avião caia. Portanto, por via das dúvidas, prefiro ficar no chão, em terra firme, sempre que possível.

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Por causa desse medo de avião, a série "Aeroporto" deveria ser totalmente horripilante para mim, certo? Errado! Apesar de muitos imaginarem que AEROPORTO e suas sequências são filmes sobre tragédias aéreas, as quatro obras podem ser melhor definidas como melodramas insossos, que mais comprovam a segurança do transporte aéreo do que exploram os seus riscos. Afinal, nos quatro filmes, os passageiros geralmente escapam ilesos aos maiores desastres (menos os vilões, é claro) graças à perícia dos pilotos-heróis, à assessoria das equipes de terra e à tecnologia dos aviões, que podem ser controlados até por... aeromoças?!?

Sem medo de ser injusto, eu diria que nenhum dos quatro filmes da série "Aeroporto" têm algo tão assustador quanto a cena do desastre aéreo no início de "Premonição". Essa sim me dá calafrios toda vez que revejo, e inclusive eu lembro apavorado dessa maldita cena toda vez que sou obrigado a entrar num avião!

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Mas a verdade é que qualquer turbulência leve numa viagem aérea verdadeira é muito mais emocionante e assustadora do que tudo que foi mostrado nesta franquia clássica da Era de Ouro dos "Disaster Movies". Mesmo assim, resolvi enfrentar meus próprios medos e "presentear" o leitor do FILMES PARA DOIDOS com esta rápida "Maratona Aeroporto".

Serão cinco atualizações diárias com os quatro filmes da série "Aeroporto" e um quinto filme bastardo, "Concorde", que não faz parte da franquia da Universal e foi produzido na Itália (claro...) para aproveitar o lucrativo filão. Então aperte os cintos e prepare-se para a decolagem com AEROPORTO, o primeiro título da franquia e o suposto responsável pelo início da onda de cinema-catástrofe dos anos 70!

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AEROPORTO começou como um best-seller escrito por Arthur Hailey, que foi publicado dois anos antes, em 1968. Foi o segundo livro do autor envolvendo desastre aéreo: em 1958, Hailey já havia publicado "Runway Zero-Eight", novelização daquele velho filme "Zero Hour!" que citei lá atrás.

"Aeroporto", o romance, era um calhamaço de quase 500 páginas sobre os dramas pessoais e profissionais vividos pelos profissionais que trabalham no Lincoln International Airport, um aeroporto fictício de Chicago. A adaptação para o cinema foi feita pelo também diretor George Seaton, e você percebe a dificuldade que foi condensar as 500 páginas em pouco mais de duas horas pela quantidade de personagens e acontecimentos vistos na tela.

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Como no livro, o personagem central de AEROPORTOé o diretor de operações do Lincoln International Airport, Mel Bakersfeld (interpretado por Burt Lancaster). Mel precisa lidar com uma cacetada de problemas ao mesmo tempo: uma grande nevasca, a pior em muitos anos, está dificultando as operações no aeroporto; um avião que pousava ficou atolado na neve, obstruindo a principal pista de aterrissagem e exigindo sua retirada imediata; moradores de uma área próxima protestam por causa do barulho das decolagens; uma velhinha golpista (Helen Hayes) está voando sem pagar; sua esposa (Dana Wynter), negligenciada por causa do excesso de trabalho, ameaça pedir divórcio, e sua assistente Tanya (Jean Seberg), por quem ele é secretamente apaixonado, está prestes a pedir transferência para San Francisco.

Quando parece que a coisa não pode piorar, nosso herói recebe uma notícia bombástica, nesse caso literalmente: o voo da fictícia Trans Global Airlines, que acabou de sair do aeroporto com destino a Roma, leva como passageiro um psicótico, Guerrero (Van Heflin), que pretende explodir o avião com uma bomba durante a travessia do Atlântico, eliminando assim os vestígios da sabotagem para que sua esposa ganhe os milhões do seguro de vida que ele fez na véspera da viagem!

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No interior do desafortunado voo, a tripulação já tem seus próprios problemas ALÉM da ameaça de bomba. Afinal, uma das regras de ouro do cinema-catástrofe dos anos 70 era colocar o máximo possível de personagens secundários com dramas pessoais a desenvolver, e por isso o co-piloto interpretado por Dean Martin (!!!) está dividido entre a esposa (que é irmã de Mel!!!) e a amante aeromoça grávida (Jacqueline Bisset), a quem ele pediu que faça um aborto, numa época em que o tema ainda era tabu (ou MAIS tabu).

E é claro que, embora os tripulantes tentem resolver o problema da bomba pacificamente, a dita cuja acabará indo pelos ares, abrindo um rombo na fuselagem da aeronave e provocando sua despressurização. A aeromoça amante do co-piloto fica gravemente ferida e a tripulação precisa voltar a Chicago para um pouso de emergência... mas apenas se Mel conseguir liberar a pista obstruída por aquele outro avião atolado! Sentiu o drama?

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Confesso que só fui assistir AEROPORTO agora, mais de 40 anos depois do seu lançamento, e fiquei bastante frustrado com o pouco tempo que a história se passa no fatídico voo. Isso porque o foco da trama, como acontecia no livro de Hailey, fica mais no pessoal que trabalha em terra, no aeroporto, principalmente Mel, que precisa lidar de uma única vez e rapidamente com todos os problemas do filme, e ainda garantir o pouso em segurança da aeronave ameaçada.

Bem, justiça seja feita: o nome do filme é AEROPORTO, e não "Avião"! Isso justifica o fato de a trama ficar mais concentrada na equipe de terra do que no ar. Para o leitor ter uma ideia, o avião só decola depois que já passaram-se 50 minutos de filme, e as cenas de "tensão aérea" mal somam meia hora dos 137 minutos de projeção!

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Assim, a maior parte da ação transcorre no aeroporto, cujas cenas foram filmadas no Minneapolis-Saint Paul International Airport, em Minnesota. E uma grande qualidade do filme é a forma como ele detalha o trabalho dos pilotos e das equipes de emergência - exemplo: a cena em que uma mensagem cifrada é transmitida pelos alto-falantes do aeroporto para reunir todos os agentes de segurança sem provocar pânico generalizado.

Nos filmes seguintes da série, as histórias dariam muito mais destaque à ameaça no interior do próprio avião, e como ela afeta tripulação e passageiros, situando-se por menos tempo no aeroporto em si. Ao optar pelo contrário disso, AEROPORTO mal pode ser considerado um "filme-catástrofe", já que sequer há uma grande tragédia e praticamente ninguém morre (além do sujeito que detona a bomba e vai para os ares junto com ela).

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Eu até diria que o filme que iniciou a Era de Ouro do Cinema-Catástrofe é mais melodrama do que cinema-catástrofe! E considerando que os episódios posteriores vão direto ao assunto, e seus aviões geralmente decolam e se dão mal ainda nos primeiros 20 minutos, AEROPORTOé o título que eu menos gosto da quadrilogia, num daqueles casos raros de "sequências melhores que o original".

Mas não me interprete mal: analisando friamente todos eles são muito ruins, com a diferença de que os três posteriores são mais divertidos, mais puxados para o tom de "aventura absurda", e sem tanta enrolação quanto esse aqui. Em alguns momentos, o filme força tanto a barra no dramalhão que fica a impressão de estarmos assistindo uma novela mexicana, e os dramas pessoais dos personagens nem são tão emocionantes assim.

E se parece que o roteiro já tem situações e personagens demais, saiba que a adaptação deu até uma resumida no livro de Arthur Hailey: um irmão de Mel que trabalha como controlador de tráfego aéreo, e que tinha grande participação na história do livro, felizmente foi limado do filme!

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Se AEROPORTO tem seus méritos pela maneira realista como apresenta as operações num aeroporto, por outro lado fica difícil levar a sério uma história que tem uma velhinha larápia cujo hobby é voar de graça e um piloto de avião sério e heróico interpretado pelo lendário "Dino" Martin, geralmente associado a personagens bonachões como Matt Helm, ou a suas parcerias com Jerry Lewis, além de ser popularmente associado ao alcoolismo. Portanto, quem confiaria num avião pilotado por Dean Martin?

Além disso, é completamente impossível levar a sério o personagem do psicótico com a bomba, já que fica claro desde que o sujeito entra no avião que ele vai aprontar alguma - sempre suando, sempre nervoso, com olhos esbugalhados e segurando contra o peito uma maleta de mão contendo a bomba. Quer dizer, o sujeito é tão suspeito que é um verdadeiro milagre que tenha conseguido ENTRAR NO AVIÃO em primeiro lugar, quem dirá ficar incógnito entre os demais passageiros!

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E o que dizer do fato de haver três médicos a bordo do avião para cuidar dos feridos (com direito a maletas contendo injeções de adrenalina, como se todo médico viajasse preparado para salvar pessoas da morte), ou do dano bastante limitado provocado pela explosão da bomba a bordo?

Outro problema grave é que AEROPORTO parece querer abraçar o mundo, com muita história para contar e muitas intrigas secundárias que pouco ou nada acrescentam. Se só a situação do avião ameaçado pela bomba já seria suficiente para um filme do gênero, por que perder tanto tempo com a outra aeronave emperrada na pista, com os protestos dos moradores vizinhos e com a esposa do protagonista pedindo o divórcio? Essas situações todas só emperram a trama, fazendo com que a bomba no avião acabe se tornando o menor dos problemas do protagonista.

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Para "ganhar tempo" com tantas situações para desenvolver, o diretor Seaton usou e abusou de um recurso que ainda era relativamente novo na época, mas hoje já virou clichê: o chamado "split screen", que consiste em dividir a tela para mostrar ao mesmo tempo personagens que estão em lugares diferentes, durante ligações telefônicas ou transmissões de rádio.

Isso rende alguns momentos visualmente curiosos, como quando Mel liga para casa e fala com a esposa e as filhas, cada uma em seu pequeno "quadrinho" de split screen; ou na já citada cena em que os agentes de segurança do aeroporto são alertados via auto-falante.

Obviamente, um recurso como esse só funciona na versão original do filme, com formato de tela em widescreen. Por isso, quando AEROPORTO foi exibido na TV e a imagem teve que ser adaptada para "tela cheia" (com cortes nas laterais para que tudo coubesse na tela da televisão, sem as famigeradas faixas pretas), muitas dessas cenas em split screen foram "desmanchadas" e transformadas no tradicional "plano e contraplano".

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Dos quatro filmes da série oficial, AEROPORTOé o mais "sério" e realista, e talvez por isso mesmo eu ache mais fraco em comparação com o divertidíssimo fator trash das continuações. Além disso, o roteiro não se decide: ora é ultra-moralista (o único a morrer é o psicótico que leva a bomba ao avião, e o piloto interpretado por Dino logo se convence que é melhor assumir o bebê da amante a obrigá-la a fazer aborto), ora é extremamente hipócrita, passando a mensagem de que todos os problemas de um homem podem ser resolvidos caso ele abandone sua esposa e fique com uma garota mais nova (dois dos personagens principais fazem isso e têm direito a um "final feliz" longe das esposas megeras!).

Mesmo assim, AEROPORTO chegou a enganar os críticos na época do seu lançamento, ganhando muitas resenhas favoráveis, e foi indicado (pasmem) a 10 Oscars: Melhor Filme, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora, Som, Edição, Figurino, Fotografia, Direção de Arte e Atriz Coadjuvante, com duas indicações (para Maureen Stapleton e Helen Hayes).

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Ao contrário da rapa que aquele outro filme-catástrofe, "Titanic", faria em 1997, AEROPORTO faturou apenas uma das estatuetas, a de Melhor Coadjuvante para Helen Hayes, mas Maureen pôde se conformar com um Globo de Ouro pela sua performance (e nem deveria, pois, como a esposa do homem da bomba, sua atuação é exagerada e quase constrangedora).

Já a veterana Helen Hayes (abaixo), que estava com 70 anos na ocasião, interpreta uma espécie de alívio cômico (a velhinha trambiqueira) num filme que pretendia ser sério e tenso. Ela vinha dos tempos do cinema mudo (seu primeiro filme é de 1917!!!), e já tinha ganhado outro Oscar, esse como Melhor Atriz, em 1931, graças à sua atuação em "The Sin of Madelon Claudet". Falecida em 1993 (sendo que fez filmes até 1985!), Helen foi a primeira de diversos veteranos e veteranas que apareceriam nos filmes posteriores da franquia.

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Entre as demais caras conhecidas do elenco, além vale destacar ainda as presenças de Barry Nelson (o primeiro ator a interpretar 007, na versão televisiva de "Cassino Royale"), como o piloto do avião ameaçado pela bomba, e de George Kennedy como o mecânico Joe Patroni, o encarregado de "desencalhar" o avião que está obstruindo a pista de pouso do aeroporto.

Por sinal, coube a Kennedy a "honra" de ser o único ator a participar dos quatro filmes oficiais da série, já que Patroni voltou nas continuações, e em uma delas foi até absurdamente promovido de mecânico a piloto (!!!).

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Essa receita de unir astros da época e de outrora provou ser uma das razões do sucesso de AEROPORTO, e a partir de então todo filme-catástrofe digno dessa categoria buscaria juntar elencos milionários e cheios de nomes conhecidos, inclusive o pessoal da antiga que já não conseguia mais trabalho e tinha neste subgênero o seu "canto de cisne".

AEROPORTO também lançou uma regra que se repetiria em todas as continuações: os astros que lamentam ter feito parte da bagaça. Aqui, a honra coube ao respeitado Burt Lancaster. Embora sua interpretação seja convincente, o astro declarou o seguinte em entrevista da época:"Não sei porque 'Aeroporto' foi indicado a tantos Oscars. É o maior lixo já produzido!"

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No livro "Against Type: The Biography of Burt Lancaster", o escritor Gary Fishgall lembra que o astro vivia tempos difíceis na época das filmagens, pois estava se divorciando da esposa Norma Anderson (com quem era casado desde 1946 e tinha cinco filhos), e ainda participava ativamente dos protestos anti-Guerra do Vietnã.

Entrevistado por Fishgall para o livro, o produtor de AEROPORTO, Ross Hunter, lembrou como foi sua relação com Lancaster: "Ele era muito profissional, mas acho que não tinha o menor interesse no filme, e isso me incomodava, porque eu nunca tinha trabalhado com pessoas que faziam um filme sem gostar dele. Burt foi o único integrante do elenco que nunca disse 'obrigado', não foi à festa no final das filmagens e nunca fez nada para promover o filme. Eu até pensei comigo mesmo: 'Você é um idiota, devia ter contratado outro ator!'".

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Ironicamente, o sucesso comercial da produção rendeu tanto a Lancaster quanto ao seu colega de elenco Dean Martin uma fortuna considerável. Acontece que ambos foram espertinhos e colocaram cláusulas em seus contratos assegurando, além do salário habitual, o direito de receber 10% da bilheteria caso o filme fosse um sucesso.

E considerando que AEROPORTO está na lista das 50 produções mais lucrativas da história, ambos faturaram uma bela grana - Dino costumava dizer que ganhou 7 milhões de dólares ALÉM do seu cachê normal. Que barbada, hein?

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O grande problema de ver AEROPORTO hoje é que ele foi tão avacalhado no hilário "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!" (1980), de Jim Abrahams e David e Jerry Zucker, que fica muito difícil levá-lo a sério. Por exemplo: todo o plot do maluco querendo explodir a bomba no avião para que sua família ganhe o dinheiro do seguro virou piada na continuação "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu 2!" (1982), repetindo até diálogos e ângulos de câmera!

Embora não tenha nada de comédia, AEROPORTO acaba se tornando involuntariamente engraçado graças aos muitos diálogos pretensiosos ou sem-noção entre os personagens. Num deles, a velhinha vigarista exalta as qualidades como violinista do seu falecido marido: "Ele era tão bom que tocava a Valsa do Minuto em 58 segundos". Em outro, dois técnicos de aviação discutem sobre um procedimento arriscado:"O livro de instruções diz que isso é impossível", queixa-se o primeiro, e o segundo retruca "Bem, um 707 pode fazer qualquer coisa, menos ler!".

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E o que dizer da resposta engraçadinha do piloto em um momento que deveria ser tenso:"Se o avião se partir no meio, eu espero que você tenha oito milhões para pagar por ele!". Essas bobagens ajudam a transformar o filme numa espécie de comédia fanfarrona, e fico imaginando se alguém algum dia levou o filme a sério.

Tecnicamente, pelo menos, o filme faz jus ao seu orçamento milionário: as cenas de nevasca são impressionantes pelo realismo, e isso que a produção teve que apelar para neve artificial quando o clima não ajudou na hora de gravar as externas. Consta que algumas dessas cenas de nevasca foram filmadas por Henry Hathaway, o diretor de "Bravura Indômita", como um favor para o produtor Hunter, e sem ganhar crédito.

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Várias cópias de AEROPORTO foram produzidas desde então, a maioria abaixo da crítica e sem repetir o mesmo sucesso. No final da década de 1990, houve até uma tentativa de resgatar o climão da série com a trilogia "Turbulência" (o original é de 1997, e as duas continuações horríveis de 1999 e 2001).

Claro que os efeitos especiais são melhores e permitem criar cenas bem mais tensas do que aquelas produzidas nos anos 70, e o elenco desses novos filmes também mistura atores famosos com outros conhecidos (Ray Liotta, Lauren Holly, Jennifer Beals, Tom Berenger, Gabrielle Anwar, Rutger Hauer, Joe Mantegna e Craig Sheffer foram alguns dos que pagaram mico nessa trilogia). Mas não deu muito certo, e sequer chegou perto do estrondoso sucesso de bilheteria de AEROPORTO e suas continuações.

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Por fim, numa daquelas ironias estilo "A vida imita a arte", o mesmo avião que nas telas resistiu a uma explosão e a uma aterrissagem difícil foi personagem principal de um grande desastre aéreo da vida real... e aqui no Brasil! Acontece que a mesma aeronave usada em AEROPORTO (um Boeing 707 de prefixo PT-TCS, pertencente à empresa Flying Tiger Line) tinha sido adquirida pela extinta Transbrasil para o transporte de cargas na rota São Paulo-Manaus.

Em 21 de março de 1989, o então rebatizado Voo Transbrasil 801 caiu durante o pouso no  Aeroporto de Guarulhos, atingindo a favela do Jardim Ipanema, a cerca de três quilômetros da pista. A aeronave não levava passageiros, mas estava carregada com 26 toneladas de equipamentos eletrônicos provenientes da Zona Franca de Manaus. O combustível explodiu com a queda, destruindo o famoso avião de AEROPORTO e matando os seus três tripulantes e mais 22 pessoas em terra, além de deixar centenas de feridos.

É nessas horas que faz falta um Burt Lancaster ou Dean Martin para salvar o dia...


Trailer de AEROPORTO



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Airport (1970, EUA)
Direção: George Seaton
Elenco: Burt Lancaster, Dean Martin, Jean Seberg,
Helen Hayes, Jacqueline Bisset, George Kennedy,
Van Heflin, Barry Nelson e Maureen Stapleton.

AEROPORTO 75 (1974)

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Se 1970 foi o ano em que "Aeroporto" provou que era possível lucrar com a desgraça alheia, 1974 foi o grande ano do cinema-catástrofe: num curtíssimo espaço de tempo, estrearam "Inferno em Alto Mar", de Richard Lester (setembro/74), a primeira continuação de "Aeroporto", chamada AEROPORTO 75 (outubro/74, mas usando o ano de 1975 no título para não ficar datado quando lançado em outros países), "Terremoto", de Mark Robson (novembro/74), e "Inferno na Torre", de John Guillermin (dezembro/74).

Todos esses filmes levaram ao pé da letra a fórmula aprendida com "Aeroporto" alguns anos antes, de que astros famosos + grande tragédia + melodrama = sucesso de bilheteria. E coitadas das celebridades que se metiam nessas tranqueiras, gente graúda omo Walter Matthau, Ava Gardner, Steve McQueen, Fred Astaire, Paul Newman, William Holden, Richard Chamberlain, Richard Harris, Omar Sharif, David Hemmings, Anthony Hopkins, Ian Holm, etc etc etc.

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No caso de AEROPORTO 75, o mais interessante é que ele não foi originalmente concebido como uma continuação. Pelo contrário: o roteirista Don Ingalls, que costumava trabalhar com seriados, tinha ideias mais humildes e apresentou seu roteiro para a divisão televisiva da Universal, como proposta para um simples filme produzido para a TV.

Só que o produtor Jennings Lang leu, gostou, e deve ter se lembrado que o "Aeroporto" original foi a maior bilheteria da Universal até então. Com cifrões nos olhos, ele deu sinal verde para transformar o outrora humilde roteiro de Ingalls em algo muito maior, rebatizando-o como continuação de "Aeroporto".

No auge da cara-de-pau, colocaram até um crédito hilário no início que diz "Inspirado no filme 'Aeroporto', que foi inspirado no livro de Arthur Hailey", associando assim uma continuação sem relação com o autor do best-seller que deu origem ao primeiro filme! (Esta mesma frase seria usada também nos filmes seguintes.)

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Nenhum dos realizadores do original voltou para essa sequência - nem o produtor Ross Hunter, nem o diretor George Seaton. E o único astro do primeiro filme que reaparece é George Kennedy, repetindo o papel de Joe Patroni, embora completamente descaracterizado (conforme veremos em seguida).

Já a direção ficou a cargo de Jack Smight, que muitos cinéfilos devem lembrar como o responsável por "Harper, O Caçador de Aventuras" (1966) e "Herança Nuclear" (1977). No papel principal, sai Burt Lancaster e entra Charlton Heston, que poderia ganhar o título de "Muso do Cinema-Catástrofe" por ter sido o único astro a estrelar nada menos de cinco produções do gênero: esta, "Voo 502 em Perigo" (1972), "Terremoto" (1974), "Pânico na Multidão" (1976) e "S.O.S. Submarino Nuclear" (1978). Pelo visto, o velho Moisés gostava de uma boa tragédia...

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Heston interpreta o piloto Alan Murdock, e já havia aparecido como piloto às voltas com tragédias aéreas em seu filme-catástrofe anterior, "Voo 502 em Perigo". Murdock namora a aeromoça Nancy Pryor (a finada Karen Black, comprovando aqui que tinha uma das vozes mais irritantes da história do cinema), mas foge de compromisso como o diabo da cruz. É claro que uma pequena tragédia servirá para colocar o casal nos trilhos no final.

Os caminhos dos pombinhos se separam no Aeroporto Washington Dulles International: o piloto vai para um lado, e Nancy embarca no Voo 409 da Columbia Airlines, um Boeing 747 lotado com destino a Los Angeles. A tripulação é formada pelo Capitão Stacy (Efrem Zimbalist Jr.), seu co-piloto Urias (Roy Thinnes) e pelo navegador latino Julio (Erik Estrada!).

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Como este é um filme-catástrofe, e exige a inclusão de inúmeros personagens com seus próprios dramas pessoais, o avião está repleto de alguns dos mais excêntricos passageiros já vistos num filme "sério": tem três bebuns que já embarcam mamados e ainda passam o tempo inteiro atrás de goró; duas freiras, uma delas cantora; uma velhota alcoólatra; um ator que só está no voo para assistir o filme de bordo, em que ele fez uma pequena participação (o filme em questão é "American Graffiti", de George Lucas); uma veterana estrela de cinema e sua assistente, e até uma menina doente que está viajando para Los Angeles para fazer um transplante de rim, e tem as horas contadas para chegar à mesa de operação! Está bom de dramalhão ou quer mais?

Então tome mais: longe dali, um vendedor que tem uma reunião de negócios urgente freta um jatinho e encara um voo solitário com clima desfavorável. A cobiça será sua sentença de morte, pois ele sofre um ataque cardíaco durante o voo e acaba arrebentando seu jatinho no cockpit do Voo 409, abrindo um rombo na aeronave que fere gravemente o piloto e mata seus auxiliares!

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E como o Capitão Stacy teve os olhos machucados na colisão e não pode pilotar às cegas, sobra para a pobre aeromoça Nancy a responsabilidade de comandar a aeronave avariada e fazer um pouso de emergência. Ah, não esqueça da pobre menina lá atrás, que tem as horas contadas para o seu transplante de rim!

No início, a corajosa aeromoça recebe instruções via rádio do seu namorado Murdock e do veterano da série "Aeroporto" Patroni. Mas a dupla logo chega à conclusão de que Nancy jamais conseguirá pousar sozinha, e resolvem pôr em prática um plano ousado: transferir um piloto "de verdade" para dentro do avião em voo, pelo rombo aberto no cockpit, usando um helicóptero!!!

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AEROPORTO 75 pode até ser uma bomba como cinema (e é!), mas não tem importância: o resultado é divertidaço como entretenimento. Inclusive acho o filme muito melhor, menos sério e menos enrolado do que o original. Com meia hora a menos que "Aeroporto", a trama vai direto ao assunto (em menos de 20 minutos o avião já está no ar), e trabalha melhor os elementos de tensão e suspense. Até a tragédia da vez é bem mais interessante do que aquela enfocada no primeiro filme.

Outra diferença da "continuação" para o original é o fato de este dar mais destaque à tripulação da aeronave e aos passageiros em perigo do que à equipe em terra, ao contrário do que acontecia no filme de 1970. Na verdade, o espetáculo é todo comandado por Karen Black e pelos excêntricos passageiros que ela precisa salvar da morte quase certa; o "herói" Heston e seu sidekick George Kennedy aparecem berrando algumas ordens via rádio e só têm participação mais ativa no final - quando, claro, o piloto machão vai voluntariar-se para tentar retomar o controle do avião onde está sua namorada!

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A situação evolui para uma façanha complexa: um piloto é transferido de um helicóptero para dentro do avião, pelo rombo na fuselagem, através de um cabo de aço, e com ambas as aeronaves em pleno voo!

É o tipo de cena que, mesmo com algumas trucagens visíveis (dublê substituído por boneco, filmagem em estúdio com tela projetada no fundo), deixa o espectador na ponta da cadeira, e certamente hoje seria feita de maneira pouco convincente através de computação gráfica.

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O curioso é que AEROPORTO 75 foi produzido com muito menos grana que o original (US$ 4 milhões contra os 10 milhões do primeiro filme), e mesmo assim parece muito melhor produzido!

Mas as filmagens foram complicadas porque a Universal estava gravando outro filme-catástrofe (o bem mais caro "Terremoto") ao mesmo tempo, e as duas produções dividiam atores principais (Charlton Heston e George Kennedy), o mesmo diretor de fotografia (Philip H. Lathrop) e o mesmo produtor (Jennings Lang). Não foi fácil acertar os cronogramas dos "desastres", mas este aqui ficou pronto e foi lançado antes.

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No fim, AEROPORTO 75 vale menos pela história e mais pelas bobagens, pelo fator trash e pelas insólitas celebridades reunidas. Uma delas é a veterana dos tempos do cinema mudo Gloria Swanson, que estreou no cinema em 1915 (!!!), e aqui parece ter a mesma função que a também veterana Helen Hayes teve em "Aeroporto"; ou seja, a de homenagear as pioneiras da sétima arte (embora dessa vez sem direito a Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, como aconteceu no filme anterior).

O curioso é que Gloria Swanson interpreta... Gloria Swanson?!? Exato! Num curiosíssimo toque de metalinguagem, o roteiro coloca a veterana atriz como ela mesma! No filme, Gloria chega a citar celebridades de verdade com quem trabalhou, tipo o diretor Cecil B. de Mille, a atriz Carole Lombard e a cantora de ópera Grace Moore - sendo que essas duas últimas coincidentemente morreram em acidentes de avião em 1942 e 1947, e talvez até por isso tenham sido citadas.

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Na época das filmagens, Gloria estava com 75 anos de idade e já não trabalhava no cinema desde 1956. O papel de velha estrela tinha sido originalmente oferecido a Greta Garbo (que, por sua vez, estava aposentada desde os anos 40), mas Greta recusou e Gloria resolveu assumir a vaga, já que não tinha nada melhor para fazer mesmo (ok, essa foi maldosa...).

Em entrevistas da época, a veterana declarou o seguinte:"Eu estava esperando que me convidassem para um filme que pudesse levar meus netos para ver, que fosse emocionante e contemporâneo, sem apelar para violência sem sentido". Hã... Dona Gloria, acho que a senhora não foi muito feliz na escolha, viu? Mas AEROPORTO 75 acabou sendo o último filme da atriz, que morreu em 1983 sem voltar a pisar num set de filmagem.

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Outra veterana, que aparece interpretando a coroa bebum, é Myrna Loy. Ela também começou sua carreira nos tempos do cinema mudo, em 1925, e estava com 69 anos ao interpretar uma das passageiras de AEROPORTO 75. Depois, Myrna ainda fez mais alguns filmes (incluindo a tralha "Formigas Assassinas") antes de morrer em 1993, aos 88 anos.

Entre as presenças ilustres também está a "atriz-mirim" Linda Blair, então com 15 anos, no papel da garota doente que precisa receber um novo rim o mais rápido possível. Ela tinha recém-saído do set de "O Exorcista", e é impossível não lembrar disso quando vemos sua personagem deitada o tempo inteiro e sendo paparicada por uma das freiras a bordo - ironicamente, no seu filme anterior a personagem de Linda não tinha lá muita simpatia pelos representantes da Igreja!

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Vale ressaltar que a tal freira, que fica tocando violão e cantando para a pobre Linda Blair, é interpretada pela cantora australiana Helen Reddy, aqui fazendo sua estreia no cinema. Hoje o nome talvez não seja tão conhecido, mas, na época das filmagens, Helen era conhecida como a "Rainha do Pop dos Anos 70", e inclusive havia acabado de ganhar um Grammy pelo seu hit "I Am Woman", em 1973.

Surpreendentemente, a cantora-atriz foi indicada ao Globo de Ouro de "Melhor Revelação" por sua atuação como freira em AEROPORTO 75, mas depois não fez mais nada digno de nota além de "Meu Amigo, O Dragão", em 1977. Bela revelação...

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AEROPORTO 75 ainda permitiu um breve reencontro de Charlton Heston com duas atrizes com quem trabalhou anteriormente. Uma delas é Martha Scott (no papel da outra freira), com quem contracenou em "Os Dez Mandamentos" e "Ben Hur"; a outra é Linda Harrison, a gatinha que interpretou sua "namorada" Nova em "O Planeta dos Macacos" e "De Volta ao Planeta dos Macacos". Linda aparece no papel de Winnie, a assistente de Gloria Swanson, e infelizmente está vestida demais, aposentando os trajes sumários que usava lá no Planeta dos Macacos.

Por último, mas não menos importante, vale registrar as presenças dos comediantes Sid Caesar, como o ator que quer se ver no filme de bordo, e Jerry Stiller, como um dos passageiros bêbados.

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Também tem algo de muito curioso em AEROPORTO 75: a trama lembra bastante um outro filme sobre tragédias aéreas que eu citei na minha resenha anterior, "Céu de Agonia", de 1960. Neste filme, é um jato militar que entra em rota de colisão com um avião comercial, mas o argumento é bem parecido.

Não sei se foi uma citação intencional ou a mais bizarra das coincidências, mas veja só que maluquice: em "Céu de Agonia", Dana Andrews interpretava o piloto do avião comercial e Efrem Zimbalist Jr. o responsável pelo jato que provocava a tragédia. Pois aqui, em AEROPORTO 75, os mesmos atores aparecem em papéis trocados: Zimbalist Jr. agora é o piloto do avião comercial ameaçado pelo jatinho pilotado por Andrews (abaixo)!

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Como eu expliquei lá em cima, o roteiro de David Ingalls não foi originalmente escrito como uma continuação direta de "Aeroporto". Quando o produtor Lang teve a ideia de transformá-lo numa sequência, Ingalls foi obrigado a criar uma mínima relação que fosse com o filme de 1970. É aí que deve ter entrado o personagem de George Kennedy.

O problema é que Ingalls não respeitou as características que esse personagem (Joe Patroni) tinha em "Aeroporto", e simplesmente trocou o nome de algum outro personagem secundário do seu roteiro original. Duvida? Pois se em "Aeroporto" Patroni era o melhor mecânico da TWA, aqui ele foi misteriosamente promovido a vice-presidente de operações da Columbia Air Lines, e agora vive em Washington, não em Chicago!

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Tudo bem, vai que o sujeito tenha sido promovido depois de sua façanha de desatolar o Boeing da neve no final do primeiro filme, não é mesmo? Só que aí o roteiro cria outra complicação: em "Aeroporto", Patroni era casado com uma mulher chamada Marie (interpretada por Jodean Lawrence), e dizia ter cinco filhos; aqui, ele aparece com uma nova esposa chamada Helen (interpretada por Susan Clark) e anuncia ter um único filho, Joe Jr., de 12 anos! Por sinal, esposa e filho estão no voo fatídico, dando a Patroni uma razão pessoal para impedir a tragédia desta vez.

O engraçado é que, em fóruns da internet, alguns fãs da série tentam justificar essa presepada do roteirista alegando que Patroni na verdade levava uma vida dupla, com duas esposas e dois empregos em cidades diferentes! Aham...

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Enquanto "Aeroporto" foi uma das maiores bilheterias de todos os tempos, ganhou boas críticas e enganou até os membros da Academia, sendo indicado a 10 Oscars, AEROPORTO 75 já foi recebido com mais ceticismo, sem indicações ao Oscar e com críticas demolidoras.

Mesmo assim, repetiu o sucesso de bilheteria (47 milhões de dólares só nos cinemas norte-americanos), conquistando a sexta posição entre os filmes mais vistos nos EUA naquele ano, logo abaixo de "O Poderoso Chefão Parte 2" e sete posições acima de... "Chinatown", do Polanski!!!

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Mas o auge do "sucesso" foi sua inclusão no clássico livro "The Fifty Worst Films of All Time" (Os 50 Piores Filmes de Todos os Tempos), de Harry Medved e Randy Dreyfuss. Graças à bem-humorada análise da dupla nesse volume, AEROPORTO 75 ganhou certa aura de filme de culto, inclusive sendo redescoberto por uma nova geração de fãs que hoje o apreciam justamente pelos seus exageros, absurdos e - por que não? - pela sua divertida ruindade.

Eu sou um desses fãs, e repito que acho esse segundo filme muito melhor e menos pomposo que o original de 1970. Tem mais ação, mais tragédia, mais suspense, mais celebridades interpretando personagens cretinos e absurdos, e não fica enrolando tanto com os encontros e desencontros dessa gente como o episódio anterior. Também tem uma direção de arte doidona, repleta de roxo e rosa-choque (imagens abaixo), como se o responsável por este departamento tivesse trabalhado sob efeito de LSD.

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Principalmente, o filme parece não se levar tão a sério quanto seu antecessor: os passageiros são tão exóticos, e as situações são tão hilárias, que AEROPORTO 75 poderia muito bem ser o resultado de alguém filmando a sério o roteiro da comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!", do trio ZAZ.

Fica até difícil de dissociar um filme do outro, considerando que algumas piadas hilárias de "Apertem os Cintos..." foram tiradas daqui mesmo: a clássica comédia também tem uma menina doente a bordo, que viaja para fazer um transplante de coração, e que é animada por uma aeromoça que toca violão; além disso, "Apertem os Cintos..." repete a situação da aeromoça que precisa manter o avião no piloto automático quando o voo perde sua tripulação, com a diferença de que na comédia aparece um engraçadíssimo "piloto automático inflável" para comandar o avião!

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Já as cenas de ação e tensão de AEROPORTO 75 são tão boas que depois foram vendidas e reeditadas em diversas outras produções, incluindo um episódio do velho seriado do Incrível Hulk, em 1978, e até um filme recente, "Impacto", de 2000 - que usou as cenas antigas do piloto sendo transportado do helicóptero para dentro do avião em uma história nova rodada a preço de banana e estrelada por James Russo e Ice-T!

Mais do que um "filme-catástrofe", AEROPORTO 75 pode ser considerado um ótimo veículo de propaganda para a tecnologia dos aviões e para o profissionalismo das tripulações dos voos comerciais norte-americanos. Pouca gente morre no desastre, e a aeronave é tão boa que pode ser tranquilamente pilotada por uma aeromoça recebendo ordens via rádio.

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Fico me perguntando por que diabos os pilotos passam anos fazendo cursos e simulações de voo se, na hora H, a presença deles no cockpit não faz nenhuma diferença, e qualquer pessoa sem preparo pode controlar um avião com relativa facilidade - ou pelo menos essa é a mensagem passada por filmes como esse e, mais tarde, "Turbulência".

Claro que essas imbecilidades todas apenas tornam a coisa toda mais engraçada. E convenhamos que não tem como levar a sério um suposto dramalhão repleto de diálogos hilários, tipo aquele que se refere à menina que vai receber transplante: "Coitadinha! Ela está em Washington e o seu rim está em Los Angeles".

Com essa, encerro minha análise dessa comédia brilhante que é AEROPORTO 75. E se você quiser levar o filme a sério, azar o seu!


Trailer de AEROPORTO 75



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Airport 1975 (1974, EUA)
Direção: Jack Smight
Elenco: Charlton Heston, Karen Black, George Kennedy,
Efrem Zimbalist Jr., Gloria Swanson, Dana Andrews,
Myrna Loy, Sid Caesar, Helen Reddy e Linda Blair.

AEROPORTO 77 (1977)

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Nos sete anos anteriores, a Universal produzira dois filmes envolvendo desastres aéreos ("Aeroporto" e "Aeroporto 75") que foram muito bem nas bilheterias, especialmente o primeiro. Os produtores achavam que o tema "aviões em perigo" ainda tinha fôlego para um terceiro episódio. Nos dois anteriores, as ameaças aéreas foram, respectivamente, uma bomba que abria um rombo na fuselagem de um avião e o choque de uma aeronave comercial com um jatinho, que matava a tripulação e forçava a aeromoça a tomar o controle.

Assim, tudo considerado, qual seria a escolha mais lógica para o argumento de um terceiro "Aeroporto"?
a-)Um avião que cai no meio do oceano e afunda, ameaçando afogar todos os passageiros quando a água invadir a aeronave?
b-)Uma tragédia aérea no temido Triângulo das Bermudas?
c-) Um avião particular, que está sendo usado como palco para uma festa de ricaços, colide com uma plataforma de petróleo, colocando a vida de todos em risco?
d-) Criminosos que sequestram um avião para roubar sua valiosa carga?
e-)Todas as alternativas acima?

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Pode até parecer inacreditável, mas a resposta para a pergunta é a opção"e"! Não sei de qual hospício a Universal tirou os roteiristas Michael Scheff e David Spector, mas a dupla simplesmente misturou todos esses argumentos num único filme, e o resultado foi AEROPORTO 77 - disparado o melhor filme da franquia.

Inacreditável, também, é que um negócio chamado AEROPORTO 77 tenha tão poucas cenas no próprio aeroporto ou nos ares. Porque se nas aventuras anteriores o desastre aéreo era controlado pelos protagonistas, aqui a tragédia finalmente se consuma e o avião cai. Felizmente (ou não), a aeronave cai no meio do oceano, afunda e cria toda uma nova situação de perigo para tripulação e passageiros: como sair dessa fria antes que o oxigênio no interior do avião acabe, ou que a fuselagem arrebente, matando a todos afogados?

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Não precisa pensar muito para perceber de onde veio a inspiração para um filme de avião que se passa debaixo d'água (!!!): em 1972, logo depois do sucesso do "Aeroporto" original, a 20th Century Fox lançou "O Destino do Poseidon", de Ronald Neame, sobre o naufrágio de um transatlântico e o drama de celebridades como Gene Hackman, Ernest Borgnine e Shelley Winters para escapar da terrível morte por afogamento. Foi outro grande sucesso de bilheteria (refilmado por Wolfgang Petersen em 2006).

Além disso, já não havia mais muito a acrescentar depois de dois "Aeroporto" e dos diversos filmes para a TV mostrando aviões em perigo, como "Assassinato no Voo 502" (1975), de George McCowan, com Robert Stack e Farrah Fawcett, e "Voo para o Holocausto" (1977), de Bernard L. Kowalski, com Christopher Mitchum e Desi Arnaz Jr.

Espertinha, a Universal resolveu fazer uma espécie de "crossover" unindo as duas tragédias, aérea e naval. E se parte do público já sofria com a situação claustrofóbica de passageiros indefesos à mercê de uma aeronave em perigo, o que dizer da duplamente claustrofóbica sensação de estar preso dentro de um avião em perigo SUBMERSO?

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Novamente produzido por Jennings Lang e William Frye (a dupla responsável pelo anterior "Aeroporto 75"), e dessa vez dirigido por Jerry Jameson, AEROPORTO 77 descarta logo de cara o tradicional voo comercial dos filmes anteriores. Aqui, somos levados a bordo de um luxuoso Boeing 747-100 particular, modificado por um bilionário para ser seu brinquedinho particular, com direito a piano-bar, jogos eletrônicos, escritórios e até quartos para seus distintos convidados.

O dinheirudo em questão é Philip Stevens (James Stewart, que em 1951 enfrentou problemas aéreos em "Na Estrada do Céu", mas aqui nem chega perto do avião). Ele convida amigos da alta sociedade, celebridades e familiares para fazer a viagem inaugural do luxuoso avião, entre Washington e Palm Beach. Não bastasse transportar boa parte do PIB da região, o 747 também leva, no compartimento de carga, a coleção particular de arte de Stevens, de valor incalculável, que está sendo transferida para um novo museu.

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É claro que isso atrai a cobiça de uma organizadíssima quadrilha de ladrões profissionais, que infiltra-se entre a tripulação e coloca todo mundo para dormir com gás durante a travessia do Atlântico. O co-piloto Chambers (Robert Foxworth), que está mancomunado com os bandidos, desce com a aeronave para voar rente ao nível do oceano, fazendo-a desaparecer do radar.

O plano dos ladrões era pousar na pista abandonada de uma ilha próxima antes que todo mundo acordasse, mas é óbvio que a coisa não vai ser tão simples: bem no meio da região conhecida como Triângulo das Bermudas (coincidência??? hein? hein? hein?), Chambers desvia tarde demais de uma plataforma de petróleo escondida pela densa neblina, e o choque destrói os motores de uma das asas.

O avião descontrolado acaba caindo no oceano e afunda rapidamente. Para piorar, as equipes de resgate sequer sabem o local onde a aeronave naufragou, já que os bandidos fizeram com que ela sumisse do radar e saíram do curso normal por um bom tempo!

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Num daqueles casos clássicos de justiça poética, dois dos criminosos são mortos na queda do avião, e apenas Chambers sobrevive. Os demais passageiros acordam e, horrorizados, percebem que estão submersos a 30 metros da superfície e dentro de um negócio cuja fuselagem não foi projetada para aguentar a pressão da água - ou seja: pode arrebentar a qualquer momento e afogar todo mundo, até porque o avião parou na beira de um abismo e ainda corre o risco de despencar para uma profundidade desconhecida!

A única esperança dos desafortunados ricaços reside no intrépido piloto Don Gallagher (Jack Lemmon!!!), o único que consegue manter a cabeça no lugar e pensar com a lógica em meio a uma situação tão complicada. Ainda há o problema de vários passageiros terem se ferido gravemente na queda, e o fato de o único "médico" a bordo ser um veterinário! E agora, José? Como sair dessa?

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AEROPORTO 77 não apenas tem o maior número de desastres consecutivos (queda de avião E naufrágio no mesmo filme!), mas também possui, de longe, o elenco mais estelar da franquia. Além dos lendários James Stewart e Jack Lemmon, que eu jamais imaginei que veria num filme-catástrofe, vários astros surgem em pequenas participações interpretando os passageiros do fatídico voo naufragado, e todos eles com seus próprios dramas pessoais, claro.

Temos, por exemplo, o casal em crise formado pela oscarizada Lee Grant e por... putzgrila! Christopher Lee (que dessa vez, acredite se quiser, NÃO é um dos vilões!!!). Temos um pianista cego (Tom Sullivan) e a garota que é apaixonada por ele (Kathleen Quinlan). Temos Lisa, a filha do milionário (Pamela Bellwood), e seu próprio filho, Benjy (Anthony Battaglia), que viaja para conhecer o avô. Temos a coroa em crise (Olivia de Havilland) que encontra um velho admirador a bordo (Joseph Cotten). Temos o garçom negro (Robert Hooks) que espera o telefonema da esposa grávida e prestes a dar à luz. E ainda Brenda Vaccaro, M. Emmeth Walsh, Darren McGavin, Michael Pataki (como um dos ladrões, é claro!) e o eterno coadjuvante da série, George Kennedy, mais uma vez dando as caras como Joe Patroni, que era mecânico em "Aeroporto", vice-presidente de outra companhia aérea em "Aeroporto 75" e aqui aparece trabalhando numa terceira empresa!!!

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Ok, é preciso dar um desconto para a premissa absurda, já que a situação representada no filme jamais poderia acontecer na vida real por dois motivos: primeiro, o impacto de uma "aterrissagem" no mar àquela velocidade arrebentaria o avião no meio; segundo, a aeronave não afundaria tão rápido como mostrado no filme, pois o interior pressurizado a manteria mais leve que a água durante tempo suficiente para providenciar o desembarque dos passageiros, mesmo com o buraco na fuselagem provocado pela colisão na plataforma de petróleo.

Mas e quem diabos espera realismo numa aventura tosqueira como essa? O que importa é que o filme funciona e, dos quatro episódios oficiais da série "Aeroporto", este é o que traz mais situações de tensão e perigo e menos dramalhão. Até porque, nos outros, o avião fica no ar e os personagens não têm muito o que fazer além de ficar sentadinhos, gritar e confiar nos pilotos (ou na aeromoça); aqui já há uma interação muito maior entre todos, e também mais momentos de suspense, principalmente quando a água começa lentamente a invadir o interior da aeronave.

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Quando filmou AEROPORTO 77, o diretor Jameson já era praticamente um especialista em cinema-catástrofe, tendo dirigido várias produções televisivas com histórias do gênero: "Heat Wave!", sobre um casal tentando sobreviver durante uma implacável onda de calor que secou todas as fontes de água da sua cidadezinha; "The Elevator", sobre o drama de pessoas presas dentro de um elevador no topo de um arranha-céu (?!?); "Hurricane", uma história sobre caçadores de tornados filmada 20 anos antes de "Twister"; "Terror on the 40th Floor", que era uma cópia barata de "Inferno na Torre", e até "The Deadly Tower", baseado no episódio real do sniper Charles Whitman, aqui interpretado por... um jovem Kurt Russell!

Enfim, com tantos trabalhos pregressos nessa linha, Jameson já estava mais do que preparado para dirigir uma superprodução "catastrófica" como essa, e não faz feio. Pelo contrário: em comparação com a direção burocrática dos outros episódios, ele até que se sai bem demais, colocando seus personagens em constantes situações arriscadas, matando vários deles sem dó e até criando algumas cenas de roer as unhas.

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Um dos pontos altos envolve Jack Lemmon e Christopher Lee enfrentando um arriscado mergulho, em que o Drácula acaba se dando mal (imagens acima). Sem nenhuma frescura, o próprio Lee fez as cenas em que seu cadáver afogado aparece flutuando! A meia hora final do filme também é ótima, e envolve a tentativa de resgate do avião submerso. Para isso, a Marinha norte-americana põe em prática um plano mirabolante, usando mergulhadores e balões cheios de gás.

Consta que a produção primou pelo realismo nesse aspecto, e os procedimentos mostrados estariam dentro dos padrões usados para resgates semelhantes (ou pelo menos assim confirma o letreiro no fim do filme). Isso provavelmente credenciou Jameson para dirigir o posterior "O Resgate do Titanic" (1980), sobre outra operação delicada de resgate cujo título já entrega (mas, apesar da ideia interessante, este outro filme é bem ruim).

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AEROPORTO 77 teve um orçamento maior que o da segunda parte (cerca de 6 milhões de dólares) e repetiu o sucesso de bilheteria, embora arrecadando menos que as aventuras anteriores (em torno de 30 milhões nos cinemas norte-americanos). Também foi o segundo filme da série a chegar à entrega do Oscar, sendo indicado a duas estatuetas: Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino (perdeu os dois prêmios para um tal de "Guerra nas Estrelas"...).

O sucesso de público comprovou que ainda havia potencial para histórias sobre aviões em perigo, e até surgiram mais algumas imitações feitas para a TV: "Ameaça no Supersônico" (1977), de David Lowell Rich, com Burgess Meredith, Peter Graves e um jovem Billy Cristal; "A Queda do Voo 401" (1978), de Barry Shear, com William Shatner e Adrienne Barbeau; e "O Fantasma do Voo 401" (1978), dirigido por Steven Hilliard Stern e com Ernest Borgnine e uma jovem Kim Basinger.

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Embora subverta a situação básica dos outros filmes (o avião fica pouquíssimo tempo no ar, para o alívio dos que têm medo de voar), este terceiro filme mantém as principais características da franquia. Traz, por exemplo, a tradicional atriz veterana homenageada. Enquanto nos anteriores essa "honra" coube a Helen Hayes, Gloria Swanson e Mirna Loy, aqui a distinção foi aplicada a Olivia de Havilland (abaixo), que estreou como atriz em 1935 e, entre outros filmes, atuou no clássico "E o Vento Levou...".

Só que ela não foi a primeira opção para o papel: outra veterana, Joan Crawford, foi convidada mas pulou fora). Olivia já não trabalha no cinema desde 1988, mas, "até o fechamento desta edição" (dezembro/2013), ainda estava viva, aos 97 anos de idade! Antes de AEROPORTO 77, ela já tinha sido convidada para ser a "celebridade das antigas em perigo" em "Inferno da Torre" (1974), mas recusou. Acabou cumprindo essa função aqui e também no péssimo "O Enxame", de Irwin Allen, lançado em 1978.

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Outra característica da série "Aeroporto" que se repete aqui são os astros que cospem no prato em que comeram, arrependendo-se de ter aparecido no filme e fazendo campanha contra ele. No original, essa responsabilidade ficou a cargo de Burt Lancaster; em AEROPORTO 77, tanto Jack Lemmon quanto Christopher Lee assumiram em entrevistas que acharam "um erro" fazer o filme. Lee inclusive declarou que só aceitou participar para ter a oportunidade de atuar ao lado de Lemmon, cujo trabalho admirava.

Finalmente, o roteiro também está inbuído de todo aquele melodrama e moralismo típicos da franquia. Os malvados são castigados pela tragédia, assim como a mulher adúltera, enquanto pouquíssimos dos personagens inocentes morrem, e muito menos a criança que passa a história toda moribunda e prestes a bater as botas - essa se salva, óbvio, porque "Deus é grande".

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Mesmo que Lemmon tenha se arrependido de estrelar o filme, ele está muito bem como o piloto que protagoniza pelo menos duas grandes cenas de ação: a primeira quando precisa sair do avião submerso pela área de carga inundada para assinalar a localização da aeronave; a segunda durante o resgate dos passageiros, quando enfrenta a água que invade rapidamente o interior do avião. Tudo somado, ele é o mais heroíco e atuante dos pilotos da série "Aeroporto".

Já Patroni, o personagem pau-pra-toda-obra de George Kennedy, não faz muita coisa aqui, e nem participa diretamente da operação de resgate da aeronave. Ele parece estar de má vontade depois de ter ajudado a salvar o dia nos dois filmes anteriores. Mas tudo bem: Patroni voltaria em alto estilo no quarto e último filme da série, dessa vez promovido a piloto (?!?).

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AEROPORTO 77 foi lançado numa época em que a franquia já era bastante popular na televisão. Assim, os produtores decidiram filmar mais uma hora de cenas adicionais (!!!) que foram depois inseridas numa versão mais longa para a TV. E bota longa nisso: a versão televisiva ficou com 190 minutos (1h10min a mais que na versão de cinema!), e foi exibida pela emissora NBC em dois dias (!!!), 18 e 20 de setembro de 1978, como se fosse uma minissérie.

A tal versão estendida virou uma espécie de raridade. Como nunca foi lançada comercialmente, ela até hoje circula em versões com imagem bem ruim que foram gravadas da TV na época da sua exibição. Os 70 minutos a mais tentam tornar os personagens-passageiros mais "humanos", dando-lhes flashbacks que explicam seu passado e suas motivações (a história de Kathleen Quinlan com o pianista cego é muito melhor desenvolvida nessa versão, por exemplo); também mostram algumas novas cenas de ação, incluindo a invasão dos bandidos a um laboratório de segurança máxima para roubar o gás utilizado para "apagar" os passageiros do avião posteriormente.

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George Kennedy e seu Joe Patroni também aparecem mais na versão televisiva de AEROPORTO 77, que inclusive resgata o filho do personagem, Joe Jr., que havia aparecido moleque em "Aeroporto 75", mas aqui já está crescido. Nas cenas adicionais, Patroni precisa faltar à formatura do filho para tratar da terceira tragédia aérea da sua carreira.

Além dos flashbacks dos personagens, a edição mais longa inclui ainda mais cenas de cadáveres submersos das vítimas da tragédia, que estranhamente foram cortadas da versão para o cinema (geralmente acontecia o contrário). Para ver imagens dessas cenas adicionais, vale a pena conferir esse site especializado em "disaster-movies".

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Para finalizar, duas curiosidades. Primeiro, o fato de AEROPORTO 77 ter virado uma atração no mínimo excêntrica do Universal Studios Tour: até a metade dos anos 80, os visitantes do estúdio podiam participar como "atores" de uma recriação das principais cenas do filme, em cenários bastante parecidos com os da própria produção! 

Toda a brincadeira era filmada e editada na hora, e depois os visitantes podiam levar para casa sua participação em AEROPORTO 77 em vídeo ou película 8mm. No YouTube é possível ver uma dessas recriações, devidamente capturada por alguém que visitou a atração na época.

A outra curiosidade é a oportunidade de ver toda a tecnologia do final dos anos 70 disponível no super-avião do milionário (abaixo), incluindo jogos de videogame (o clássico Pong da época pré-Atari, que aqui no Brasil foi jogado por quem teve o pré-histórico "Telejogo Philco"!) e até um rudimentar aparelho reprodutor de laser-disc, o Magnavox Magnavision VLP, usado para projetar um filme com um disco laser do tamanho de um bolachão em vinil (este era o avô do aparelho de DVD, mas na época não colou por causa do preço muito alto).

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E se você acha que depois do drama de uma bomba a bordo, de uma aeromoça promovida a piloto e de um avião submerso no oceano os produtores de "Aeroporto" não teriam mais o que inventar, saiba que, poucos meses após a estreia de AEROPORTO 77, o produtor Jennings Lang já estava dando sinal verde para a produção do quarto e último filme da série, "Aeroporto 80 - O Concorde".

Mas digamos apenas que este não é um daqueles casos em que guardaram o melhor para o final: a última aventura da franquia é tão trash, mas tão trash, que faz com que as anteriores pareçam "Cidadão Kane"! Porque se AEROPORTO 77é o melhor da série como filme de suspense e aventura, "Aeroporto 80"é definitivamente o mais divertido e mais involuntariamente cômico!

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PS 1: Diversas cenas de AEROPORTO 77 foram "emprestadas" por Fred Olen Ray e editadas em seu filme "Resgate nas Profundezas" (2000), com Fred Williamson e Tim Thomerson. Na verdade, o que Fred fez foi reaproveitar todas as cenas do avião sobrevoando o oceano, caindo, afundando, enchendo de água e sendo resgatado. Ele só filmou os takes com seus atores para substituir os do filme original, e nada mais. Ah, a magia do cinema (e da edição)...

PS 2: Se fazer uma festa de ricaços dentro de um avião em pleno voo parece ideia de jerico, saiba que a franquia "Turbulência", aquela imitação barata da série "Aeroporto" produzida nos anos 90, foi ainda mais longe: em "Turbulência 3" (2001), de Jorge Montesi, um show de heavy metal é realizado em uma aeronave em movimento!!! Menos mal que o avião dessa vez não chega a cair no oceano, mas isso não poupa do mico gente boa e conhecida como Gabrielle Anwar, Rutger Hauer e Joe Mantegna!


Trailer de AEROPORTO 77



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Airport 77 (1977, EUA)
Direção: Jerry Jameson
Elenco: Jack Lemmon, Lee Grant, George Kennedy,
James Stewart, Joseph Cotten, Christopher Lee,
Olivia de Havilland e Robert Foxworth.

AEROPORTO 80 - O CONCORDE (1979)

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Uma ameaça de bomba num avião ("Aeroporto", 1970), um voo que perde a tripulação e precisa ser pilotado pela aeromoça ("Aeroporto 75") e uma aeronave que cai no Triângulo das Bermudas e afunda ("Aeroporto 77"). Parecia não haver assunto para um novo filme da série "Aeroporto", ainda mais depois que o terceiro conseguiu a façanha de transformar uma franquia que explorava o medo de voar em um subproduto dos filmes de naufrágio estilo "O Destino do Poseidon".

Mas aí algo novo surgiu no horizonte: o Concorde. E, com ele, uma nova "catástrofe aérea"; neste caso, AEROPORTO 80 - O CONCORDE (o título original é "Airport 79", mas como o filme foi lançado no Brasil só em 1980...).

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Grande novidade e o máximo de tecnologia da época, o Concorde foi um avião supersônico para transporte de passageiros, produzido em conjunto por empresas do Reino Unido e da França, e operado apenas por companhias desses países (British Airways e Air France, respectivamente).

O avião era caríssimo, mas podia atingir a espantosa velocidade Mach 2.04 (cerca de 2.500 km/h!), enquanto o Boeing 747 chegava no máximo a Mach 0.84 (893 km/h). Perfeito para quem tinha pressa, não?

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Os voos comerciais com o Concorde começaram em 21 de janeiro de 1976, mas claro que eram coisa para gente rica, devido ao alto custo da passagem. Mesmo assim, havia quem não se importasse em pagar a mais por um voo mais curto: o Concorde fazia o trajeto Nova York-Londres em cerca de três horas e meia, enquanto o voo convencional durava mais de 10 horas!

Entretanto, por ser um avião supersônico, ele ultrapassava a velocidade do som, emitindo muito ruído e poluição, o que deu origem a protestos em muitos países. Isso, somado aos altos custos de manutenção, decretou a aposentadoria do Concorde dez anos atrás, em 2003. Apenas 20 aeronaves foram produzidas, e hoje estão em museus.

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AEROPORTO 80 - O CONCORDE explora essa novidade tecnológica, mas, acredite ou não, àquela altura este foi o TERCEIRO filme sobre aviões supersônicos em perigo a ser produzido! Quem saiu na frente, tão rápido quanto o próprio Concorde, foi "Ameaça no Supersônico", filme para a TV produzido e exibido pela rede ABC em 1977. Depois, ao saber que a Universal faria seu "Aeroporto" oficial com um Concorde no lugar do Boeing tradicional, produtores italianos correram para realizar a sua própria versão, "Concorde Affaire '79", que foi dirigida por Ruggero Deodato e lançada nos cinemas europeus ANTES do Concorde da Universal! (Sobre este falaremos na próxima atualização)

Quem se deu bem nessa história toda foi o diretor David Lowell Rich: ele havia feito o pioneiro "Ameaça no Supersônico", e este telefilme lhe serviu como credencial para assumir o comando de AEROPORTO 80, uma produção muito mais cara para o cinema, uma das poucas de uma filmografia recheada de obras para a TV - incluindo outro filme-catástrofe, "Runaway!" (1973), sobre um trem desgovernado.

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Dos outros "Aeroporto", voltam apenas o produtor Jennings Lang (aqui tentando espremer os últimos centavos da franquia) e, claro, o ator George Kennedy, pela quarta e última vez no papel de Joe Patroni, personagem ligado a cada uma das tragédias aéreas dos filmes anteriores, e aqui envolvido em mais uma - pense num cara azarado para se contratar para trabalhar na sua companhia aérea!

O ator estava tão marcado pela franquia na época que rodou o mundo divulgando o filme, e, vejam só, deu até uma passadinha no Rio de Janeiro em novembro de 1979. A reportagem abaixo, publicada pela Folha de São Paulo em 26 de novembro daquele ano, registra a ilustre visita (mas aposto que muita gente lamentou que não tenha vindo Alain Delon ou Sylvia Kristel no lugar do rechonchudo Jorginho...).

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Joe Patroni passou pelo Brasil!

O ator provavelmente pediu um papel de maior destaque no filme, já que em "Aeroporto 77" foi deixado de molho e participou muito pouco da trama principal. Assim, o mesmo Joe Patroni que foi mecânico da Trans-World Airlines (em "Aeroporto", 1970), vice-diretor da Columbia Airlines (em "Aeroporto 75") e supervisor contratado pela empresa particular Stevens Enterprises (em "Aeroporto 77"), agora foi promovido a PILOTO DE CONCORDE (!!!), e para uma nova empresa, a Federation World Airlines! Que currículo invejável, o desse Joe Patroni!

E isso que, na época de AEROPORTO 80, o ator George Kennedy já estava com 54 anos - imagine o que Joe Patroni faria aos 60 anos, caso a franquia não tivesse morrido! Mas essa promoção miraculosa do personagem de George Kennedy a piloto não é nem de longe o único problema do filme. Tudo bem que todos os "Aeroporto" são bem ruinzinhos, mas esse aqui exagera na dose!

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AEROPORTO 80é tão ruim, mas TÃO RUIM, que em suas primeiras exibições de teste as pessoas se mijavam de rir, e isso num filme que deveria ser sério! Quando o "fenômeno" repetiu-se nas salas de cinema durante a premiére, a Universal viu-se forçada a mudar o marketing do filme e divulgá-lo como comédia assumida. As frases no novo cartaz diziam:"Apertem os cintos que os arrepios são muitos... e as risadas também!".

Enfim, AEROPORTO 80 é a verdadeira definição da palavra "trash" (geralmente utilizada de forma incorreta): aquele filme feito a sério, mas que no final acaba se revelando tão ruim que só tem valor como comédia! É dar play e preparar-se para as gargalhadas!

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A história começa com a chegada do Concorde ao Washington Dulles International Airport, enfrentando uma rápida situação de risco graças ao protesto de ecologistas contrários ao uso da aeronave (algo comum na época, quando se discutia muito os danos à natureza provocados pelo supersônico).

Seu comandante é o piloto francês Paul Metrand (Alain Delon), que aproveita o pernoite nos Estados Unidos para dar uns pegas na sensual aeromoça francesa Isabelle, com quem já tem um longo caso. Caso o nome da personagem e minha ênfase no "sensual" já não tenha entregado, a personagem é interpretada pela musa do cinema erótico Sylvia Kristel, recentemente falecida, e é claro que o nome "Isabelle" tenta criar um paralelo com sua personagem mais famosa, Emmanuelle!

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Naquela mesma noite, a repórter e âncora de telejornal Maggie Whelan (Susan Blakely) é procurada por um homem que afirma ter provas de que uma grande empresa norte-americana fabricante de armas está fazendo contratos ilegais com países em guerra civil e organizações terroristas.

O homem é executado na frente da jornalista por um assassino profissional, contratado pela tal empresa para "queima de arquivo", e Maggie consegue fugir da morte por muito pouco.

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No dia seguinte, ela se encontra com o presidente da tal empresa, Kevin Harrison (Robert Wagner), com quem tem um caso, e conta a ele sobre o atentado e sobre a acusação de venda ilegal de armas. Harrison convence a moça de que estão armando uma contra ele, mas na verdade sabe muito bem dos negócios escusos da sua empresa. Ora, mas e o que você esperava? Ele é o Nº 2 da quadrilha do Dr. Evil, pombas! (E não acredito que fiz uma citação à série "Austin Powers" aqui...)

Quando a jornalista embarca no Concorde com destino a Moscou, para cobrir a cerimônia de lançamento dos Jogos Olímpicos por lá, o vilão descobre que ela está levando documentos que comprovam seu envolvimento no escândalo. Resta-lhe uma única alternativa para silenciar Maggie e destruir as provas, tudo de uma única vez: derrubar o Concorde!

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Além da jornalista e alvo ambulante, o voo do Concorde com escala em Paris tem uma miríade de passageiros excêntricos, o grupo mais absurdo de toda a série (alguns deles devem ter sido contratados para aparecer na comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!", lançada em 1980, mas erraram de filme). Há um grupo de atletas russos e seus treinadores, um deles levando junto a filha surdo-muda, que garante a dose habitual de dramalhão (se criança em perigo já é um clichê baixo, imagine então uma criança com deficiência física!). Há um saxofonista negro (Jimmie Walker) que passa o tempo inteiro fumando maconha e tocando sax no banheiro do avião. Há uma mãe desesperada (Cicely Tyson) que está levando um coração congelado (?!?) para o transplante do filho moribundo. Há o ricaço dono da companhia (Eddie Albert) e sua esposa-troféu, uma gostosa muito mais jovem do que ele, interpretada pela musa peituda do cinema B Sybil Danning. Há uma envelhecida cantora de jazz que lamenta estar perdendo a fama (interpretada pela cantora da vida real Monica Lewis, que era casada com o produtor Jennings Lang e já tinha aparecido em "Aeroporto 77" como outra personagem!). Há uma ginasta russa de 24 anos (a americana Andrea Marcovicci, que na época já estava com 31!), que vive um amor platônico por um repórter norte-americano que viaja no mesmo voo (lembre-se que eram tempos de Guerra Fria). E há uma dondoca latina (a cantora Charo, muito popular na época) que provoca um escândalo por querer levar seu chihuahua de estimação no voo, escondido dentro do casaco de peles!!!

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Enquanto isso, em terra, Harrison prepara-se para dar um fim na jornalista abelhuda - e, de brinde, em todos os outros passageiros que não têm culpa de nada, só de estar na mesma aeronave. Como sua empresa vai testar um novo míssil experimental guiado por computador, ele aproveita para sabotar o equipamento e fazê-lo perseguir o Concorde.

Só que o vilão não contava com a perícia do piloto americano Joe Patroni (George Kennedy, claro!): ele controla o avião como se estivesse pilotando alguma nave espacial de filme barato de ficção científica, fazendo acrobacias absurdas, piruetas, voando de cabeça para baixo, e por aí vai. Pobres passageiros... Eu até acredito que se o tal míssil atingisse a aeronave, faria muito menos estrago!

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Quando o plano A falha, Harrison resolve pôr em prática o plano B: entra em contato com um cúmplice em Paris e consegue convencê-lo a mandar um caça carregado com mísseis para explodir o Concorde. É quando acontece a cena mais sem-noção de AEROPORTO 80, digna de figurar em qualquer coletânea dos momentos mais ridículos do cinema mundial.

O caça inimigo dispara mísseis guiados por temperatura, que obviamente são atraídos pelo calor das turbinas do Concorde. Sabendo que não há escapatória, Metrand bota o avião para voar de cabeça pra baixo enquanto o heróico Patroni pega uma pistola sinalizadora, abre uma das janelinhas do cockpit e dispara "flares" (sinalizadores) para fora do supersônico, atraindo os mísseis no sentido contrário!

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"O quê? Como é que é?", pode perguntar o nobre leitor do FILMES PARA DOIDOS, e eu fiquei com a mesma cara de panaca ao ver tal façanha sendo realizada num filme originalmente produzido para ser sério.

Mas sim, George Kennedy ABRE UMA JANELA DO AVIÃO, voando a 100 mil km/h e a 60 mil pés, coloca A MÃO PARA FORA segurando uma pistola sinalizadora (quando a velocidade de deslocamento deveria arrancar não só a pistola da sua mão, mas A PRÓPRIA MÃO!), dispara alguns flares, e os mísseis GUIADOS POR CALOR ignoram completamente o calor dos QUATRO JATOS MUITO MAIORES DO CONCORDE para perseguir um simples sinalizador cuja temperatura deve ser ridícula, ainda mais àquela altitude!

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Bem, o caso é que esta é a grande cena de AEROPORTO 80, e me faz rolar de rir toda vez que revejo, mas o filme ainda está na metade! Eis que, num anti-climáx pavoroso, o Concorde consegue pousar em segurança em Paris, proporcionando uma noite de amor para os pilotos Metrand e Patroni (com direito ao velho clichê da lareira crepitando ao fundo e tudo mais).

E no dia seguinte, apesar da viagem infernal que tiveram, de todos os perigos e de por muito pouco não terem morrido pelo menos umas quatro vezes, TODOS OS PASSAGEIROS VOLTAM A EMBARCAR NO CONCORDE para a segunda parte da viagem, rumo a Moscou! Caramba, isso que é gente corajosa: se por uma simples turbulência eu já deixei de voar, imagina como esses caras deveriam estar traumatizados depois da experiência de virar alvo para mísseis!

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Pior: a própria jornalista e alvo em potencial Maggie, que àquela altura já deveria ter entendido que tudo aquilo é muito suspeito, também embarca outra vez no Concorde sem nenhum receio, e sem sequer dar o devido encaminhamento aos documentos comprometedores que leva com ela, e que são a única prova de uma mega-conspiração. Bela jornalista...

Claro que o malvado Harrison vai apelar para o plano C e tentar derrubar o supersônico mais uma vez. E isso que ele teve a oportunidade de matar APENAS A JORNALISTA quando ela estava em terra, mas imbecilmente deixou passar só para poder novamente ameaçar a aeronave inteira, seus tripulantes e passageiros, e proporcionar à audiência mais uma dose de tensão e adrenalina. Ah, essas conveniências de roteiro...

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AEROPORTO 80 volta para os céus para o último ato dessa hilária bobagem: um mecânico subornado pelo vilão sabotou uma escotilha do compartimento de carga do Concorde, que se abre durante o voo e ameaça romper a aeronave no meio graças à despressurização. Isso obriga nossos heróis Patroni e Metrand a tentarem um arriscado pouso de emergência... nos Alpes Suíços!

Conseguirão os bravos pilotos pousarem o Concorde em segurança? Conseguirá Harrison eliminar as provas de suas vendas ilegais de armas? Conseguirá o rombo na fuselagem da aeronave sugar para a morte algum dos pobres passageiros? Conseguirá o jornalista americano casar-se com sua amada atleta russa? E por último, mas não menos importante: conseguirá a gostosa peituda da Sybil Danning dar uma com seu maridão geriátrico décadas antes da invenção do Viagra?

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A resposta para todas essas perguntas (bem, menos para a última) está reservada para o ato final de AEROPORTO 80, se é que alguém ainda está levando a história a sério para se importar com o destino daqueles personagens que parecem saídos das sátiras de filmes da revista Mad - e se envolvem em situações tão ridículas e cômicas quanto.

Tenho um carinho nostálgico por este último "Aeroporto" porque foi o único que vi na TV, entre final da década de 80 e início dos anos 90. A Globo exibiu a versão televisiva da obra, remontada para exibição nos EUA em 1982, com aquelas tradicionais cenas extras esmiuçando alguns dos dramas pessoais dos passageiros. Pelo menos são apenas uns 20 minutos adicionais, ao contrário da loucura que foi transformar "Aeroporto 77" num "épico" com mais de três horas de duração!

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As tais cenas adicionais não trazem nada de tão interessante assim: entre as coisas que me lembro, estão a ação da polícia derrubando com um tiro o balão dos manifestantes anti-Concorde no início, um desfecho alternativo (e bem mais legal) para o personagem vilanesco de Robert Wagner, e alguns flashbacks dando um pouco mais de "tragédia" ao personagem de Patroni.

Nesta cena, que tem cerca de 10 minutos, descobrimos que a esposa do "ex-mecânico agora piloto" morreu um ano antes num acidente automobilístico, e ele se recorda do último encontro com a amada num quarto de hospital (você pode conferir este cândido momento clicando aqui).

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Tal cena adicional também ajuda a aumentar a quantidade de erros de continuidade da franquia: em "Aeroporto" a esposa de Patroni chamava-se Marie e ele dizia ter cinco filhos; em "Aeroporto 75", o nome da esposa passou a ser Helen e o número de filhos diminuiu para um, Joe Jr. (citado também nas cenas adicionais da versão televisiva de "Aeroporto 77"); aqui, Patroni diz, durante um encontro com um francesinha, que sua esposa quis ter um único filho.

Para piorar, o nome da personagem volta a ser Marie, como no original! Pelo menos nas cenas adicionais, Jessica Walter tornou-se a terceira atriz a interpretar a esposa de Patroni, depois de Jodean Lawrence no original e de Susan Clark em "Aeroporto 75". Entretanto, ela não aparece em nenhum momento da edição para cinema/DVD do filme.

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Se todas as bobagens já elencadas não fossem razão mais do que suficiente para recomendar AEROPORTO 80 como a belíssima comédia que é, ainda tem mais um detalhezinho: o roteiro de Eric Roth (baseado em argumento do produtor Lang) está repleto daquelas tiradas que você não sabe se ri ou se chora, além de toda sorte de moralismos baratos, tipo o mecânico que sabotou o Concorde morrer "atropelado" PELO PRÓPRIO CONCORDE, com direito a take do dinheiro que ganhou pela sabotagem espalhando-se ao vento...

Em matéria de diálogos, um dos mais clássicos acontece quando a aeromoça interpreta por Sylvia Kristel vai servir café para os pilotos e sensualiza: "Vocês, pilotos, são tão HOMENS!", apenas para George Kennedy retrucar, num trocadilho intraduzível: "They don't call it the cockpit for nothing, honey".

Digamos apenas que "Cock"é um dos apelidos em inglês para o órgão sexual masculino, e Kristel obviamente foi escolhida para o papel de aeromoça "saidinha" porque no clássico "Emmanuelle", de 1974, ela protagonizava uma cena de sexo a bordo de um avião!

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Outro momento simplesmente genial ocorre na escala em Paris, quando Metrand apresenta uma "amiga" para que Patroni pare de choramingar a perda da esposa. A noitada evolui para uma bizarra cena romântica dos dois em frente à lareira, com direito a George Kennedy sem camisa (argh!). Na manhã seguinte, quando os amigos comentam o lance, desenrola-se a seguinte conversa:
- Patroni: Nem sei como te agradecer! Nunca acreditei em amor à primeira vista, mas aquela Francine... Uau! Que noite! Ela foi mesmo especial!
- Metrand: Por 2.000 francos, é bom mesmo que ela tenha sido especial.
- Patroni: O quê? Espere aí... Você está tentando me dizer que ela era... uma prostituta?!?
- Metrand: Como vocês americanos dizem, uma verdadeira profissional!
- Patroni (gritando alegremente): Seu filho da puta! Ela foi demais!
- Metrand:E para que servem os amigos?

(Existe uma cena muito parecida com esta em "O Pentelho", quando Jim Carrey revela ao personagem de Matthew Broderick que a garota com quem ele transou na noite anterior era uma prostituta. A diferença é que em "O Pentelho", uma comédia assumida, tal cena não é TÃO ENGRAÇADA quanto em AEROPORTO 80, que, por ironia, foi produzido como um filme "sério"!)

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Ah, caso não tenha caído a ficha, o roteirista Eric Roth ficaria mais famoso alguns anos depois, ao escrever um tal de "Forrest Gump", que rendeu-lhe o Oscar de Melhor Roteiro. Estes seus dois roteiros, completamente diferentes, comprovam que Roth de certa forma é um especialista em escrever sobre personagens idiotas e suas idiotices.

O roteirista também seria indicado a outros três Oscars de Melhor Roteiro (por "O Informante", "Munique" e "O Curioso Caso de Benjamin Button"), e certamente faria qualquer coisa ao seu alcance para apagar seu nome dessa bomba chamada AEROPORTO 80. Eu, por outro lado, faria o possível e o impossível para perguntar-lhe sobre a experiência numa entrevista!

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Mantendo a tradição dos filmes da franquia, este quarto episódio também traz um veterano dos primórdios do cinema sendo "homenageado" com ingrata participação especial. Depois de Helen Hayes, Gloria Swanson, Mirna Loy e Olivia de Havilland, o dinossauro da vez é Eddie Albert (acima), que estreou no cinema em 1938, mas é mais famoso pelos seus trabalhos na televisão. Aliás, o cara é tão veterano que começou a trabalhar com TV desde os primeiros experimentos com transmissão de imagens, antes mesmo de o aparelho ser vendido ao público!

Dois outros nomes famosos do elenco que merecem menção são a atriz Mercedes McCambridge, mais conhecida como a voz do demônio Pazuzu em "O Exorcista", e David Warner (abaixo) como navegador do Concorde, ele que interpretou uma extensa galeria de vilões e foi um desafortunado fotógrafo em "A Profecia". A propósito: com dois atores que apareceram em filmes sobre o Coisa Ruim no elenco de AEROPORTO 80, era mais do que certo que ia dar merda!

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Destaque, ainda, para uma rápida participação de Robert Kerman (abaixo) como controlador de voo do aeroporto de Washington. Até então, ele ainda era conhecido apenas por sua atuação como ator pornô (usando o pseudônimo "Robert Bolla"), mas de 1979 em diante acabaria eternamente vinculado ao papel de protagonista do clássico "Cannibal Holocaust", de Ruggero Deodato.

Curiosamente, o ator também apareceu rapidamente como controlador de voo no "outro filme com Concorde", a cópia italiana "Concorde", de Ruggero Deodato, lançada nos cinemas naquele mesmo ano.

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Por fim, AEROPORTO 80 ainda tem a distinção de trazer os piores efeitos especiais de toda a série. Perde até para o "Aeroporto" original, com seu avião em miniatura "voando" em meio a nuvens de gelo seco. Afinal, o que vemos aqui são imagens tosquíssimas em chroma-key, com modelos totalmente fora de perspectiva, o que mais uma vez ajuda a transformar o que era para ser sério numa comédia escrachada.

Talvez os produtores estivessem tentando dar uma cara mais "moderninha"à franquia, para atrair a molecada que, nos anos anteriores, lotou os cinemas para ver filmes como "Guerra nas Estrelas" e "Superman" (o do Richard Donner). Assim, AEROPORTO 80é praticamente uma montanha-russa em que as cenas de ação e situações de perigo vão se acumulando - o completo oposto daquele "Aeroporto" lento e ultra-realista que começou a franquia, lá em 1970.

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Mas a ruindade colossal desse quarto filme decretou a morte definitiva da série. "Será que eles continuariam fazendo outros filmes? Para que direção iriam?", pode me perguntar o leitor do FILMES PARA DOIDOS. Bem, de fato o tema "avião em perigo" já não era exatamente original, por causa das continuações e das diversas cópias para a TV ("Ameaça no Supersônico", "A Queda do Voo 401", "O Fantasma do Voo 401", e por aí vai).

Até os russos resolveram imitar o cinemão americano (em plena Guerra Fria!!!) e fizeram uma imitação da série "Aeroporto", chamada "Tripulação" (Ezipazh, 1980), só que obviamente mais puxada para o dramalhão, com pouquíssimas cenas envolvendo o "suspense aéreo".

Mas o próprio cinema-desastre estava em decadência (com o fracasso da superprodução "O Dia em que o Mundo Acabou", em 1980), e a onda era tirar sarro de histórias do gênero depois da estreia da comédia "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!" (também em 1980).

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Não fosse por isso, talvez um provável "Aeroporto 87" pudesse ter se inspirado na onda dos voos de ônibus espaciais, agora promovendo Joe Patroni a astronauta! Ainda mais considerando a tragédia verdadeira envolvendo a nave Challenger em 1986 - que pode até não ter virado episódio da franquia "Aeroporto", mas inspirou o telefilme "Challenger - Um Voo Sem Retorno", em 1990.

Ainda que no cinema o tema tenha saído da ordem do dia, histórias sobre tragédias aéreas continuaram sendo produzidas para a telinha. Jerry Jameson, de "Aeroporto 77", dirigiu o telefilme "Rota do Perigo" em 1983, sobre a história do fictício primeiro voo "hipersônico" (que, claro, apresenta problemas), estrelando Lee Majors, Ray Milland e um jovem Robert Englund.

Até mesmo o veterano das desgraças aéreas George Kennedy voltou a lidar com problemas do gênero em "International Airport" (1985), telefilme dirigido por Don Chaffey e Charles S. Dubin, que também tem os veteranos Vera Miles e Robert Vaughn no elenco.

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Para finalizar, AEROPORTO 80 também ficou marcado como um daqueles tristes casos de "a vida imita a arte", já que a aeronave usada nas filmagens se envolveu num desastre real muito tempo depois do filme - a exemplo do que já havia acontecido com o "Aeroporto" original.

Dessa vez foi o Concorde usado nas filmagens - o sétimo dos 20 únicos construídos -, que transportava passageiros para a Air France e explodiu durante decolagem do Aeroporto Charles De Gaulle, em Paris, em 25 de julho de 2000. O desastre foi provocado por vazamento de combutível, matando os 109 passageiros, os tripulantes e mais quatro pessoas em solo.

E como eu já havia comentado na resenha de "Aeroporto", nessas horas nem Alain Delon no comando, ou mesmo George Kennedy disparando flares pela janelinha do cockpit, poderiam salvar a pátria, pois na vida real o buraco é mais embaixo...


Trailer de AEROPORTO 80 - O CONCORDE



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The Concorde... Airport '79 (1979, EUA)
Direção: David Lowell Rich
Elenco: Alain Delon, Sylvia Kristel, George Kennedy, Susan
Blakely, Robert Wagner, Eddie Albert, Andrea Marcovicci,
David Warner, Sybil Danning e Mercedes McCambridge.

CONCORDE (1979)

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"Rip-off"é o termo em inglês usado para definir aqueles filmes baratos realizados com o objetivo de faturar em cima de superproduções de sucesso de Hollywood, reutilizando temas e até títulos semelhantes. Não foram os produtores italianos que inventaram a prática, mas com certeza estão entre os que a aproveitaram com mais frequência, principalmente entre as décadas de 1970-80.

Para cada blockbuster hollywoodiano, lá estava a sua versão barata italiana; por exemplo, para cada "O Exorcista", "Tubarão", "A Profecia" e "Guerra nas Estrelas", os carcamanos atacavam com seus, respectivamente, "O Anticristo", "Tentáculos", "Holocaust 2000" e "Starcrash". E nem vamos falar nas cópias italianas dos zumbis de George Romero, dos filmes tipo "Mad Max" e das aventuras estilo "Conan" ou "Rambo", caso contrário o assunto vai longe.

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Pois eis que, por volta de 1978, espalhou-se o boato de que o quarto filme da série "Aeroporto", a ser lançado no ano seguinte, seria sobre o novo avião supersônico Concorde. Os produtores italianos Mino Loy e Luciano Martino, que de bobos não tinham nada, resolveram financiar sua própria versão barata dos filmes-catástrofe hollywoodianos, usando o Concorde na trama e no título para sair na frente do "produto oficial" e faturar uma graninha com aquele público que trocava gato por lebre.

Assim surgiu "Concorde Affaire '79", lançado em VHS no Brasil simplesmente como CONCORDE (embora tenha sido exibido algumas vezes na TV como "O Caso Concorde").

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A tática de Loy e Martino funcionou: CONCORDE chegou aos cinemas da Europa meses antes do "filme oficial", o ultra-trash "Aeroporto 80 - O Concorde": enquanto a superprodução da Universal estreou oficialmente em 3 de agosto de 1979, e chegou aos países europeus apenas no final daquele ano e início de 1980, o CONCORDE carcamano aterrissou antes por lá, estreando nos cinemas de Roma em 23 de março de 1979.

Como o título original era muito parecido com o da franquia "Aeroporto" (com direito à citação do ano, 79!), muitos cinéfilos correram ao cinema acreditando que aquele era o "oficial", a superprodução sobre o Concorde da qual tanto se falava. Quebraram a cara, é claro: a cópia italiana não é exatamente um filme-catástrofe, como os episódios da série em que se inspirou, e usa o desastre aéreo e o próprio supersônico com muita economia. Mas até que o pessoal descobrisse a malandragem, CONCORDE já tinha feito uma bela bilheteria na Europa - mais do que faria, depois, o oficial "Aeroporto 80 - O Concorde"!

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Curioso é constatar quem comandou esta versão macarrônica: um tal de "Roger Deodato", que vem a ser o único e consagrado Ruggero Deodato, diretor do clássico "Cannibal Holocaust". Inclusive CONCORDEé uma obra meio desconhecida/esquecida da sua filmografia porque ficou "ensanduichada" entre dois excelentes filmes exploitation de horror e sangueira, "O Último Mundo dos Canibais" (1977) e "Cannibal Holocaust" (1980).

Numa entrevista ao livro "Cannibal Holocaust and the Savage Cinema of Ruggero Deodato", de Harvey Fenton, Julian Grainger e Gian Luca Castoldi, o diretor declarou o seguinte:"Se eu tivesse um milhão de liras a mais, o filme seria uma obra-prima, poderia ser comparado às produções americanas daquela época". Deodato também destacou que a Universal tentou processar os realizadores por lançarem seu rip-off antes do oficial, mas não deu em nada.

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Bem, permita-me discordar, Sr. Deodato, mas de obra-prima CONCORDE não tem nada - e duvido que ficaria melhor mesmo com 10 milhões de liras a mais. Embora chupe na maior cara-de-pau alguns elementos do popular cinema-catástrofe da época (sim, há um Concorde em perigo, e também um elenco de astros, embora nesse caso sejam astros de segundo escalão), CONCORDE é uma enganação: um filme meia-boca de ação que usa a aeronave como pano de fundo, e não atração principal. As cenas aéreas, e com o supersônico em risco, não chegam a somar 15 minutos da narrativa!

Assim, na maior parte do tempo, o que vemos é o galã de segunda divisão James Franciscus ("De Volta ao Planeta dos Macacos") zanzando para lá e para cá numa ilha caribenha, passando por paisagens de cartão-postal e enfrentando capangas que querem matá-lo. Também há um montão de cenas submarinas, talvez inspiradas por "Aeroporto 77"; inclusive o filme tem muito mais cenas debaixo d'água do que no ar!

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Mas vamos à trama: CONCORDE começa com a queda de um supersônico enquanto sobrevoava as Antilhas. Há uma pane geral nos equipamentos e a aeronave, que estava em testes, sem passageiros, cai no meio do Oceano Atlântico, matando todos os tripulantes, com exceção da aeromoça Jean Beneyton (Mimsy Farmer, de "Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza"), que é resgatada e sequestrada por piratas (?!?).

Somos então apresentados a Milland e Danker (respectivamente Joseph Cotten, que apareceu em "Aeroporto 77", e Edmund Purdom), os malignos executivos de uma empresa cujo faturamento vem da exploração de linhas aéreas na América do Sul. Eles temem que o surgimento do Concorde, com maior velocidade e menos tempo de voo, possa comprometer seus lucrativos negócios. Logo, resolvem sabotar os voos do supersônico para derrubar o maior número de aeronaves, fazendo com que o programa seja considerado inseguro e cancelado!

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Os malvados capitalistas só não contavam com a astúcia do repórter nova-iorquino Moses Brody (James Franciscus, quem mais?). No mesmo momento em que surge a notícia de que o Concorde em testes desapareceu em algum lugar do Atlântico, Moses recebe um telefonema da sua ex-esposa Nicole (Fiamma Maglione), chamando-o para ir rapidamente à Martinica e prometendo uma "grande manchete".

Só que quando o jornalista chega à ilha, descobre que sua ex foi assassinada na véspera - pelos mesmos homens que estão mantendo a aeromoça como refém e chantageando os executivos sabotadores, exigindo milhões de dólares pelo seu silêncio. E, como Moses vai descobrir da pior forma possível, quem chega muito perto da verdade (ou seja, do Concorde naufragado ali perto) acaba morrendo.

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Com a ajuda de um amigo da finada ex, George (Francisco Charles), o jornalista mergulha e encontra o Concorde submerso. Mas, quando tenta alertar as autoridades, todas as evidências são apagadas. A única chance de Moses conseguir provar a verdade é resgatar a aeromoça sobrevivente das mãos dos chantagistas.

Paralelamente, Milland e Danker põem em prática mais um plano de sabotagem a um segundo Concorde, este com passageiros, e que começa a enfrentar problemas em pleno voo, sofrendo da mesma pane generalizada que derrubou o primeiro supersônico. A vida dos tripulantes e passageiros agora depende de Moses e de Jean, que por sua vez ainda precisam fugir dos vilões que querem eliminá-los.

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Sendo um filme obscuro e pouco discutido, é difícil saber quem é o verdadeiro responsável por CONCORDE ser o que é: se o diretor "Roger Deodato", os produtores ou os roteiristas Ernesto Gastaldi e Renzo Genta, trabalhando a partir de argumento de Alberto Fioretti. Fato é que os italianos parecem não ter aprendido direito a lição ensinada pelo cinema-catástrofe de primeira linha feito em Hollywood: além do desastre aéreo aqui ser um elemento secundário na trama, o drama da tripulação e dos passageiros não é suficientemente explorado.

Afinal, a graça da franquia "Aeroporto"é que sempre temos famosões interpretando pilotos e passageiros dos voos em perigo, e os filmes enfocam seus dramas pessoais e relações em meio à tragédia. Na versão macarrônica, nenhum dos astros sequer chega a pisar no Concorde, muito menos voar nele para fazer parte do bloco do "desastre aéreo". O único ator conhecido no ar é o veterano Van Johnson, então decadente, como o capitão do supersônico (abaixo).

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Os outros astros ficam todos em terra e nunca participam diretamente da trama do Concorde - e eu não usaria a palavra "astros" para nenhum deles, nem mesmo James Franciscus, trocando a expressão para "atores conhecidos". Logo, os passageiros do voo condenado são interpretados por anônimos sem nenhuma expressão, com quem o espectador nunca simpatiza nem se solidariza - a bem da verdade, sequer sabemos seus nomes, tão primário é o desenvolvimento do "núcleo aéreo" da narrativa.

No fim, CONCORDE não é um filme-catástrofe sobre um voo em perigo, como o título e o pôster levam a acreditar, mas sim, quem diria, um filminho de ação bem convencional sobre James Franciscus fugindo de bandidos em terra firme mesmo, ou então mergulhando em busca de evidências da sabotagem no avião que caiu.

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Se os efeitos especiais do filme oficial, "Aeroporto 80", já não eram grande coisa, e isso numa produção milionária bancada pela Universal, os mostrados em CONCORDE chegam a ser constrangedores. Enquanto a produção hollywoodiana conseguiu seu supersônico com autorização da Air France, Deodato e cia. pediram autorização à outra única empresa que produzia a aeronave, a British Airways.

Ao que parece, a empresa britânica permitiu que gravassem algumas cenas externas com o Concorde em voo, mas esses trechos são tão granulados e com qualidade tão inferior ao restante do filme (imagens abaixo), que provavelmente são cenas de arquivo cedidas pela própria companhia aérea. Com menos grana para efeitos especiais espetaculares como os da série "Aeroporto", os realizadores tiveram que se virar com miniaturas para simular o Concorde em perigo - em momentos que quase nunca convencem.

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Enquanto as cenas aéreas são bem toscas, as aquáticas são ótimas e estão entre as melhores partes do filme. Ok, a produção é barateira o suficiente para usar uma miniatura constrangedora do Concorde submerso nesses trechos, mas ainda assim Deodato consegue criar um ótimo clima de suspense (e exagero), ao jogar seu protagonista em enrascadas cada vez piores.

Primeiro, Franciscus enfrenta um rápido ataque de tubarão (antecipando a ameaça que o mesmo Franciscus enfrentaria alguns anos depois em "O Último Tubarão", de Enzo G. Castellari); depois, quando a mão do seu parceiro de mergulho fica presa na porta do supersônico naufragado, Moses precisa decepá-la com uma faca, lembrando os bons tempos de cinema sensacionalista do diretor.

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Além dos atores conhecidos já citados, é preciso citar outro nome "ilustre" em CONCORDE: o ator pornô nova-iorquino Robert Kerman (quem em seus filmes hardcore assinava "Robert Bolla"), no papel do controlador de tráfego aéreo do aeroporto de Londres, um personagem que - veja só - se chama "Kelman"! Vale lembrar que o ator repetiria este mesmo papel na franquia oficial, com uma pequena participação em "Aeroporto 80 - O Concorde".

Sem bigode, Kerman apareceu não-creditado aqui, mas seu trabalho posterior com Deodato foi "Cannibal Holocaust". E aí ele se transformou, da noite para o dia, num astro do cinema exploitation italiano (que também fez outros dois filmes sobre canibais, "Os Vivos Serão Devorados" e "Cannibal Ferox").

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Curiosamente, os intérpretes dos outros controladores de voo que trabalham com "Kelman" no aeroporto de Londres também são provenientes do cinema X-Rated! Não sei quem foi o responsável pelo casting, mas repare na foto acima: Robert Kerman está ladeado pelos atores hardcore Michael Gaunt (sentado, à esquerda) e Jake Teague, do clássico "Debbie Does Dallas" (o careca sentado, à direita)!

Ambos também tentaram a sorte no cinema italiano, mas não foram muito longe: talvez por influência do próprio Kerman, Teague teve pequenas participações em "Os Vivos Serão Devorados" e "Cannibal Ferox", e faleceu logo depois, em 1983; já Gaunt aparece como um dos coveiros na cena do cemitério de "Pavor na Cidade dos Zumbis", de Lucio Fulci!

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Embora os quatro filmes oficiais da série "Aeroporto" sejam bem ruins, CONCORDE consegue ser ainda mais fraco. Ok, "Aeroporto 80 - O Concorde", a produção que os carcamanos chuparam diretamente, é péssima, mas pelo menos diverte - coisa que este filme do Deodato não faz tão bem.

Até tem seus momentos, e um certo charme na misturança de elementos e situações (desastre aéreo, piratas chantagistas, aeromoça em perigo, jornalista heróico, perseguições de carro, cenas aquáticas, tubarões, paisagens de cartão-postal e uma pitada de gore). Além da música do mestre Stelvio Cipriani, que lembra bastante o tema que ele compôs, dois anos antes, para "Tentáculos", de Ovidio G. Assonitis.

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Mas a tragédia envolvendo o Concorde parece ter sido jogada num outro roteiro qualquer para justificar o título e a chupação, e os atores principais (Franciscus, Cotten, Purdom) nunca se envolvem diretamente com a aeronave em perigo, o que é frustrante. Eu certamente não citaria a obra entre as mais memoráveis de Deodato.

Por outro lado, não deixa de ser irônico o fato de "Concorde Affaire '79" ter sido o único dos cinco filmes analisados a chegar às videolocadoras brasileiras, e DUAS VEZES, primeiro pela VideoCast, depois pela VideoBan (ao lado - com um agradecimento especial ao Albino Albertim, do excelente blog VHS - O Último Reduto, por ter mandado a capinha da VideoBan; clique na imagem abaixo para ampliar).


E digo que é irônico porque os quatro episódios oficiais da franquia "Aeroporto", apesar de grandes sucessos nos cinemas e mesmo nas reprises na TV brasileira, nunca foram lançados em VHS, e só saíram aqui no país mais recentemente, já na era do DVD.

Não que alguém tenha sentido falta, claro...

PS: Atendendo a pedidos de diversos leitores, a "Maratona Aeroporto" continua ainda esta semana com resenhas das duas famosas sátiras da série, "Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!" Partes 1 e 2!


Créditos iniciais de CONCORDE



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Concorde Affaire '79 (1979, Itália)
Direção: Ruggero Deodato
Elenco: James Franciscus, Mimsy Farmer, Joseph Cotten,
Edmund Purdom, Venantino Venantini, Fiamma Maglione,
Ottaviano Dell'Acqua e Robert Kerman.

APERTEM OS CINTOS... O PILOTO SUMIU! (1980)

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Nunca vou me esquecer da primeira vez que vi APERTEM OS CINTOS... O PILOTO SUMIU!

Eu ainda era um molequinho com meus 8 ou 9 anos de idade, e estava acostumado às narrativas "tradicionais" no cinema. Até aquela noite em que assisti o filme na TV com a minha mãe. A cada minuto, um choque. "Mãe, a velhinha acabou de se suicidar e ninguém faz nada?". Ou "Como é que o nariz do médico cresceu e agora está do tamanho normal de novo?". Ou ainda:"Mas o co-piloto não estava vestido como jogador de basquete antes!".

Como se percebe, foi APERTEM OS CINTOS... que me apresentou a esse tipo de humor "nonsense" (que aqui no Brasil, durante muito tempo, foi chamado de... argh!... "besteirol"), em que tudo pode acontecer a qualquer momento em busca do riso, sem compromisso com a lógica ou com a "vida real". E, por isso, tenho uma dívida de gratidão eterna com ele.

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Não bastasse a gratidão eterna, APERTEM OS CINTOS... também é uma comédia engraçadíssima, que eu colocaria tranquilamente numa lista de melhores comédias de todos os tempos, se não achasse perda de tempo fazer esse tipo de lista. Daquelas que você pode rever 50 vezes (e, contando por cima, acho que já vi umas 30) e ainda dar gargalhadas. Até porque a cada reassistida você pega uma piada nova ou gozação rolando no fundo da cena, e que não tinha visto antes porque estava prestando atenção em outro lugar.

Por exemplo: esta semana mesmo, quando revia o filme pela, talvez, 31ª vez para escrever essa resenha, finalmente percebi que na já clássica cena em que um avião invade a área de embarque do aeroporto, uma mãe corre desperada e, no processo, atira para longe o seu bebê de colo (foto abaixo), algo que eu nunca tinha percebido nas, talvez, 30 vezes anteriores!

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Bem, mas para começar a falar sobre APERTEM OS CINTOS..., é preciso antes escrever algumas linhas sobre dois filmes completamente diferentes.

O primeiro é um pequeno filme de baixo orçamento chamado "Zero Hour!" ("Entre a Vida e a Morte", no Brasil), de 1957, sobre um voo comercial em perigo depois que a tripulação e parte dos passageiros acabam envenenados por intoxicação alimentar. A única esperança para pousar a aeronave recai sobre Ted Stryker, um piloto veterano da Segunda Guerra, e que tem trauma de voar desde então.

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"Zero Hour!"é aquele típico filme que envelheceu muito mal, repleto de personagens absurdos interpretados com bastante exagero pelos atores, que "declamam" frases imbecis em tom solene, como se estivessem numa peça de Shakespeare. Enfim, aquele tipo de filme que foi feito para ser levado a sério, mas hoje está mais para comédia involuntária do que qualquer outra coisa.

E a segunda produção sobre a qual precisamos deliberar é a comédia voluntária "The Kentucky Fried Chicken", de 1977. Quem dirigiu foi um jovem John Landis, mas a obra é mais lembrada pelo seu trio de roteiristas, Jim Abrahams e os irmãos David e Jerry Zucker, que ficaram mundialmente conhecidos como "Trio ZAZ" devido às iniciais de seus sobrenomes.

Desde o começo dos anos 1970, os três apresentavam um show de teatro chamado "Kentucky Fried Theater", composto de esquetes cômicos satirizando filmes e comerciais de TV da época.

O longa dirigido por Landis é uma coletânea dessas piadas soltas, mas, lá pelas tantas, apresenta um segmento um pouco mais longo chamado "Por um Punhado de Ienes" - uma sátira das aventuras de artes marciais da época, e que seria o embrião de praticamente todas as comédias que o Trio ZAZ faria na década seguinte.

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E o que esses dois filmes têm em comum com APERTEM OS CINTOS... afinal?

Bem, digamos que tudo.

Na época em que escreviam seus esquetes, Jim, David e Jerry costumavam gravar qualquer coisa que passasse na TV de madrugada, em busca de inspiração para novas piadas, justificando que era nesse horário que as emissoras exibiam as maiores bobagens da sua grade de programação (e isso que eles nem conheciam a TV brasileira!).

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Pois numa dessas madrugadas eles toparam, por puro acidente, com uma reprise de "Zero Hour!", e simplesmente não conseguiam parar de rir daquele filme outrora "sério". Isso aconteceu na década de 70, quando a onda do "cinema-catástrofe" estava no auge, e a cada ano novas superproduções entravam em cartaz mostrando astros de Hollywood enfrentando as consequências de alguma tragédia devastadora.

O próprio Trio ZAZ já tinha brincado com isso ao escrever um dos trailers falsos exibidos em "The Kentucky Fried Movie", que se chamava "That's Armageddon", e mostrava um time de atores famosos (George Lazenby, Donald Sutherland...) numa sequência de desastres que parodiavam as produções da época.


Trailer falso "That's Armageddon"



O caso é que os três amigos acharam o velho "Zero Hour!" tão cômico que resolveram que, se houvesse um "The Kentucky Fried Movie Parte 2", ele teria uma sátira desses filmes de desastre aéreo, assim como o primeiro teve uma das aventuras de artes marciais.

E embora a Parte 2 da comédia nunca tenha saído, o Trio ZAZ não desistiu de sacanear "Zero Hour!" e todos aqueles filmes-catrástrofe com aviões em perigo, tipo a série "Aeroporto", que era bastante popular no período. Por isso, decidiram transformar o que inicialmente seria um esquete num longa-metragem, e assim nasceu APERTEM OS CINTOS...

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O curioso é que, apesar de ser uma comédia assumida e declarada, APERTEM OS CINTOS... também é praticamente uma refilmagem cena a cena de "Zero Hour!", aquele filme feito para ser sério lá nos anos 50. Muitos espectadores podem ficar chocados ao descobrir que algumas cenas mais engraçadas dessa comédia, como a passageira histérica que precisa ser contida por diversos outros passageiros, já existiam antes, A SÉRIO, em "Zero Hour!" (repare que, ao longo dessa resenha, usarei cenas dos dois filmes para mostrar a semelhança).

Mais incrível ainda: alguns dos melhores diálogos da comédia do Trio ZAZ também foram pronunciados A SÉRIO em "Zero Hour!", tipo:
- Acho que escolhi a semana errada para parar de fumar.
- A nossa sobrevivência depende de uma coisa: encontrar alguém que não apenas possa pilotar esse avião, mas que não tenha comido peixe no jantar!
- Posso até arranhar seu precioso avião, mas vou pousá-lo!
- Pegajoso, como uma esponja molhada.
- Pilotar um avião não é mais difícil que andar de bicicleta.
- Essa foi provavelmente a pior aterrissagem na história desse aeroporto, mas todos aqui, eu inclusive, gostariam de apertar sua mão e lhe pagar um drink.

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A trama também é praticamente a mesma, incluindo o nome dos personagens principais: se em "Zero Hour!" Dana Andrews interpretava o herói Ted Stryker, aqui é Robert Hays quem encarna o mesmo personagem (porém com a grafia "Striker"), um veterano da guerra (nunca fica claro qual guerra) que embarca num avião com destino a Chicago atrás da sua amada, a aeromoça Elaine, interpretada por Julie Hagerty.

Em "Zero Hour!", Stryker ia atrás da sua esposa Ellen, que tinha acabado de deixá-lo e estava se mudando de cidade junto com o filho pequeno do casal, um personagem-mirim que não existe em APERTEM OS CINTOS... O resto é praticamente igual, mas, por meio de flashbacks que não existiam em "Zero Hour!", a comédia mostra mais do passado do casal, incluindo uma bizarra passagem pela África como missionários!

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A tripulação do avião em que estão Ted e Elaine é comandada pelo Capitão Clarence Oveur (Peter Graves), que não consegue esconder suas tendências pedófilas quando a cabine do avião é visitada por um garotinho sorridente - outra situação que acontecia em "Zero Hour!", mas sem citações de pedofilia, claro! E sempre admirei muito o ator Peter Graves por conseguir manter a cara séria ao perguntar para o moleque coisas como "Joey, você já viu um homem adulto pelado?", ou "Você gosta de filmes de gladiadores?".

Além de Oveur, o outro nome importante no cockpit é o co-piloto Roger Murdock, interpretado pelo astro do basquete da época Kareem Abdul-Jabbar. O curioso é que mais adiante descobriremos que o personagem é o próprio Kareem fazendo-se passar por piloto de avião, numa divertida brincadeira de metalinguagem - além de outra brincadeira interna, já que, em "Zero Hour!", quem interpretou o piloto do avião foi Elroy "Crazylegs" Hirsch, um famoso jogador de futebol americano, numa de suas poucas participações no cinema.

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E a doideira se estende aos passageiros, pois o avião de APERTEM OS CINTOS... está repleto daquela colorida e exótica fauna que havíamos visto, a sério, nos episódios da franquia "Aeroporto": tem uma dupla de negros descolados que só se comunica usando gírias incompreensíveis (os seus diálogos são legendados em inglês "normal" para o espectador entender, numa das tantas piadas que se perde na tradução em porutuguês), uma freira cantora, uma menina doente que precisa ir a Chicago para receber um coração transplantado, hare-krishnas vestidos a rigor, um general japonês da Segunda Guerra Mundial que pratica hara-kiri (uma pequena participação de James Hong), e por aí vai.

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Os problemas começam quando, a exemplo do que acontecia em "Zero Hour!", o peixe servido no jantar de bordo deixa toda a tripulação doente, e ainda ameaça provocar a morte de vários passageiros - que já estão até soltando ovos pela boca! No desespero que se segue, o traumatizado Striker é a única pessoa com um mínimo de conhecimento para pilotar e pousar a aeronave, enquanto um médico que milagrosamente estava no mesmo voo, o Dr. Rumack (Leslie Nielsen!!!), cuida dos doentes.

Para conseguir salvar o dia, Striker terá que enfrentar primeiro aquele velho trauma de guerra, que lhe rendeu um "drinking problem" (problema com a bebida, na tradução brasileira), mas que não tem nada a ver com alcoolismo: toda vez que vai tentar beber qualquer coisa, seja um simples copo d'água, o herói erra a boca e entorna o copo no próprio rosto!

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Assim como o Ted Stryker de Dana Andrews, o Ted Striker de Robert Hays também tem flashbacks da sua participação na guerra exibidos em cenas super-impostas sobre takes do seu rosto contemplativo. A diferença é que enquanto Andrews via cenas da Segunda Guerra Mundial, lá pelas tantas Robert Hays começa a enxergar até os testes das primeiras aeronaves, construídas no início do século 20 (abaixo)!

E como o traumatizado piloto anda meio enferrujado, ele precisará da ajuda da equipe de terra para pousar o avião, como também acontecia em "Zero Hour!". Só que o estressado controlador de voo Steve McCroskey (Lloyd Bridges) acaba chamando para o serviço um velho rival de Striker na guerra, o Capitão Rex Kramer, interpretado por Robert Stack - num papel que, em "Zero Hour!", foi ocupado por Sterling Hayden.

(Vale destacar que o Trio ZAZ já havia criado um personagem com o nome Rex Kramer para a comédia "The Kentucky Fried Movie". Lá, Rex era um aventureiro que "desafiava o perigo" ao dar uma voltinha num bairro barra-pesada e gritar "Niggers!!!" no meio de um grupo de negrões mal-encarados!)

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Paralelamente a toda essa trama que avacalha com "Zero Hour!" e seus personagens, APERTEM OS CINTOS... atira para todos os lados, bombardeando o espectador com gags visuais, trocadilhos e cenas satirizando momentos famosos de filmes de sucesso, tipo a dança de John Travolta na pista de uma discoteca em "Os Embalos de Sábado à Noite", o casal se beijando na praia em "A um Passo da Eternidade" e a brincadeira com "Tubarão", em que a cauda do avião aparece como se fosse a barbatana do bicho.

A diferença de APERTEM OS CINTOS... para muitas outras "sátiras" produzidas desde então é que, aqui, você não é obrigado a conhecer as produções e cenas satirizadas para achar graça do filme, ao contrário de 99% das "comédias" de hoje - claro que estou me referindo a essas bobagens tipo "Todo Mundo em Pânico" ou "Não é Mais um Besteirol Americano", em que a "graça" reside em arrumar sósias de atores famosos e refazer as cenas de filmes de sucesso, mas a compreensão das piadas fica completamente prejudicada caso você não tenha visto os tais filmes antes!

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Não é o que acontece aqui: você não precisa sequer conhecer o filme que inspirou a sátira, "Zero Hour!", para divertir-se - e muito - com APERTEM OS CINTOS... E mesmo que identificar as cenas satirizadas seja parte da diversão, não é pré-requisito para divertir-se com o restante, já que há uma cacetada de piadas de todos os tipos e para todos os públicos.

Os primeiros 10 minutos do filme, por exemplo, trazem uma verdadeira saraivada de gags das mais diversas, desde uma discussão entre os locutores da mensagem que anuncia a zona branca para embarque e desembarque de passageiros até a plaquinha na parte de revistas adultas de uma banca de jornais, que diz "Whacking Material" (Material para Punheteiros, em tradução literal).

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É bom destacar que não foram os três diretores-roteiristas que inventaram esse tipo de humor "nonsense". Naquela mesma época, e anos antes de APERTEM OS CINTOS..., Mel Brooks já era um especialista em comédias satirizando filmes e principalmente clichês do cinema, como "O Jovem Frankenstein", "Banzé no Oeste" e "Alta Fidelidade".

Mas até mesmo o tresloucado Brooks parece um sujeito comportado perto da anarquia do Trio ZAZ, que joga tantas piadas por minuto (ou segundo) sobre o espectador que lá pelas tantas você nem sabe se presta atenção nos diálogos, para tentar identificar algum trocadilho ou citação, ou no que está acontecendo no fundo da cena.

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Um grande problema para o público fora dos Estados Unidos é que APERTEM OS CINTOS... apela o tempo inteiro para trocadilhos em inglês, muitos deles intraduzíveis. Deve ter sido um autêntico pesadelo para os tradutores dos demais países do mundo tentar adaptar diálogos como aquele em que Striker diz para o Dr. Rumack"Surely you can't be serious", e o médico responde"I am serious. And don't call me Shirley".

(Na versão brasileira, Striker exclama "Minha mãe, você não está falando sério!", e o médico responde algo como "Estou falando muito sério. E não sou mãe de ninguém", o que, convenhamos, está muito longe de ser tão engraçado quanto o trocadilho original, que se aproveita da semelhança de pronúncia entre a palavra "surely" e o nome próprio Shirley.)

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Outro momento clássico que se perdeu completamente na tradução envolve os nomes dos tripulantes do avião: Oveur tem a mesma pronúncia de "over", ou "câmbio"; Roger, o primeiro nome do co-piloto, lembra "roger", a expressão usada em comunicações via rádio, que significa "entendido"; e Victor, o nome do navegador, soa como "vector" ("vetor", em português).

Pois, lá pelas tantas, os três tripulantes começam a ter problemas para se comunicar devido às semelhanças fonéticas entre seus nomes e as respectivas palavras. Aqui no Brasil, até tentaram rebatizar o Capitão Oveur como "Capitão Câmbio" para tentar salvar um ou outro trocadilho, mas não havia muito o que fazer com os demais. Por isso, o aloprado diálogo entre os tripulantes na decolagem, repleto de trocadilhos tipo"We have clearance, Clarence"e "What's our vector, Victor?", perde completamente o sentido na tradução!

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Mesmo que o obscuro "Zero Hour!" seja a grande fonte de inspiração de APERTEM OS CINTOS..., o cinema-catástrofe dos anos 70 também é sacaneado sem dó nem piedade, principalmente a série "Aeroporto". Já começa pelo título original do filme, que, fazendo contraste com "Airport" (Aeroporto), é apenas "Airplane!" (Avião!).

Claro que por aqui os tradutores preferiram a adaptação gigantesca para APERTEM OS CINTOS, O PILOTO SUMIU!, já que títulos enormes e sem muita relação com o original estavam na moda naqueles tempos (tipo "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" para "Annie Hall", ou "Brincou com Fogo… Acabou Fisgado" para "Continental Divide").

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Algumas situações secundárias também foram inspiradas em "Aeroporto 75", o segundo filme da série, de onde saíram personagens como a menina doente (uma citação a Linda Blair em "Aeroporto 75"); a freira que toca violão e a aeromoça forçada a manter o avião no piloto automático quando a tripulação é inutilizada - sendo que o piloto automático, aqui, é um boneco inflável que assume o comando da aeronave!

Além disso, a freira cantora é interpretada pela cantora da vida real Maureen McGovern, numa aparição-simbólica que cria um elo com a época de ouro do cinema-catástrofe: Maureen cantou as oscarizadas músicas-tema de dois sucessos desse subgênero, "O Destino do Poseidon" (1972) e "Inferno na Torre" (1974).

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Mas não é preciso fazer cursinho e nem ver esses filmes todos para divertir-se com APERTEM OS CINTOS..., já que a maior parte das piadas envolve gags visuais e tiradas de duplo sentido. Quando jornalistas anunciam que vão "tirar algumas fotos", por exemplo, eles simplesmente retiram as fotografias emolduradas das paredes, ao invés de fotografar!

E há ainda diversas tiradas para quem gosta de um humor mais grosseiro, com sexo e consumo de drogas, incluindo peitos gigantescos balançando durante uma turbulência (eles pertencem a Kitten Natividad, uma das musas peitudas do cineasta Russ Meyer) e uma velhinha que recusa a oferta de um gole de uísque (o que também acontecia em "Zero Hour!"), apenas para cheirar cocaína no momento seguinte - em cena que costumava ser cortada nas exibições na TV, arruinando completamente a piada.

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Os diretores-roteiristas são tão lazarentos que não param de fazer graça nem mesmo quando o filme termina. Durante os créditos finais, eles incluíram diversas categorias estapafúrdias, tipo"Worst Boy ... Adolf Hitler" ou "Thirteenth President of the United States ... Millard Filmore", e gracinhas como "Author of A Tale of Two Cities ... Charles Dickens".

Colocaram também um agradecimento à "Argon Oil Company", uma empresa de mentirinha que já tinha sido citada em "The Kentucky Fried Movie". Dessa forma, os safados conseguiram manter os espectadores ligados na tela até o final dos créditos, quando geralmente as pessoas começavam a levantar e sair do cinema! (Eles repetiriam essa prática em seus filmes seguintes.)

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Enfim, é tanta piada, gag, trocadilho e tiração de sarro que diversas vezes o espectador perde alguma coisa, e por isso reassistir APERTEM OS CINTOS... de tempos em tempos é sempre uma redescoberta. Nos comentários em áudio do DVD, o Trio ZAZ inclusive lamenta o fato de que muitas piadas passam completamente desapercebidas no meio da overdose de gracinhas.

Uma delas, e que eu confesso que só "peguei" ao assistir o filme com os comentários dos diretores, envolve o personagem de Robert Stack se arrumando em frente a um "espelho" que na verdade é uma simples porta - algo que só vendo para entender.

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Entre os muitos acertos dessa sua estreia num filme próprio, a grande bola dentro do Trio ZAZ foi recrutar atores veteranos (Bridges, Stack, Nielsen e Graves), conhecidos por seus papéis "sérios", e pedir que interpretassem seus personagens em APERTEM OS CINTOS... com a mesma seriedade, de maneira que o espectador acaba rindo exatamente por isso. "Eram atores que até então nunca tinham feito comédia, mas nós achávamos que eles eram muito mais divertidos do que os comediantes da época", justificou David Zucker numa entrevista.

Vale destacar que a presença desses veteranos no elenco está ligada à participação deles em produções "sérias" sobre desastres aéreos: Stack foi um piloto à beira de um ataque de nervos em "Um Fio de Esperança" (1954); Bridges trabalhava num aeroporto no seriado "San Francisco International Airport" (1970-71); e Graves era uma das celebridades em perigo no telefilme "Ameaça no Supersônico" (1977). Já Nielsen apareceu em dois filmes-catástrofe da época, "O Destino do Poseidon" e "Cidade em Chamas" (1979).

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Ironicamente, três desses veteranos não queriam participar de APERTEM OS CINTOS... no primeiro contato: Stack teve que ser convencido pelos três diretores, já que eles escreveram o personagem Rex Kramer já pensando nos trejeitos do ator como Eliott Ness no seriado "Os Intocáveis"; Bridges foi convencido pelos seus filhos, e Graves chegou a ser aconselhado pelo seu agente a recusar o papel por causa das piadas envolvendo pedofilia.

Mas os três mudaram de ideia, e hoje é impossível dissociá-los dos personagens que interpretam. Stack e Graves retornaram à comédia esporadicamente depois dessa experiência, sempre fazendo tipões mais sérios, enquanto Lloyd Bridges abraçou o humor de vez e reapareceu em outras sátiras, tipo "Top Gang - Ases Muito Loucos" Partes 1 e 2 e "Jane Austen's Máfia".

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O único dos quatro veteranos que não precisou ser convencido a fazer APERTEM OS CINTOS... foi Leslie Nielsen, que estava louco para fazer algo diferente dos papéis "sérios" que lhe ofereciam até então. E ele ficou tão marcado como personagem cômico que, a partir de então, praticamente só conseguiu papéis em comédias, e geralmente sátiras "nonsense" na linha deste aqui.

O próprio Trio ZAZ escalou Nielsen para interpretar o inesquecível policial Frank Drebin - primeiro num seriado de TV chamado "Police Squad", que não emplacou, e depois em "Corra que a Polícia Vem Aí!". Mas a interpretação de Nielsen em APERTEM OS CINTOS...é diferente de tudo que ele fez depois: sem caretas, sem reações bobocas às piadas, sem parecer que está numa comédia, enfim.

Mesmo quando dispara os bordões mais imbecis (tipo o clássico "And don't call me Shirley"), o ator mantém a expressão completamente séria, e portanto fica impossível não se mijar de rir. O curioso é que Nielsen não foi a primeira opção para interpretar o médico: um tal de Christopher Lee foi inicialmente convidado, mas recusou o papel.

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Ainda que não tenha ficado tão popular quanto Leslie Nielsen no ramo da comédia, é Lloyd Bridges quem rouba a cena em APERTEM OS CINTOS..., na minha modesta opinião. Inclusive seu personagem (o estressado McCroskey) é um dos meus preferidos, sempre vomitando ordens sem sentido (como esse tipo de personagem adora fazer nas "situações tensas" de filmes sérios) e acendendo um cigarro no outro.

E é McCroskey quem repete a clássica frase "Acho que escolhi a semana errada para parar de fumar", de "Zero Hour!", mas aqui complementa dizendo que também escolheu a semana errada para parar de tomar anfetaminas e de cheirar cola, em outra piada que costumava ser cortada nas exibições do filme na TV.

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Consta que o Trio ZAZ também foi atrás de outros famosões conhecidos pela seriedade e que estavam envolvidos com a série "Aeroporto", mas a Universal ameaçou a turma de processo e eles recuaram. Dois atores da franquia que chegaram a ser contatados foram Helen Reddy, que reprisaria seu papel de freira cantora de "Aeroporto 75", e George Kennedy, que interpretou Joe Patroni nos quatro episódios da famosa franquia de desastres aéreos.

Pelo menos Kennedy teve a oportunidade de trabalhar com os realizadores mais tarde, quando foi chamado para interpretar o Capitão Ed, superior de Leslie Nielsen em "Corra que a Polícia Vem Aí!".

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Num elenco em que todo mundo tenta se passar por sério, a exceção é o afeminado controlador de voo Johnny, interpretado por Stephen Stucker (do impagável "Delinquent Schoolgirls"). Ele parece ser o único ator/personagem consciente de estar numa comédia absurda, e que os diretores deixaram atuar como tal (não por acaso, Stucker fazia parte da trupe "Kentucky Fried Theater" desde o início).

No seu grande momento no filme, Johnny desliga as luzes da pista de pouco no momento mais tenso da aterrissagem, simplesmente puxando uma tomada na torre de controle (!!!), e então olha sorridente para a câmera (e para o espectador) e dispara: "Brincadeirinha!". Por essas e por outras, Johnny tornou-se um personagem tão popular que, mesmo aparecendo só de vez em quando, garantiu seu retorno na sequência "Apertem os Cintos... 2ª Parte".

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Assim como a maioria dos intérpretes, a trilha sonora do veteraníssimo Elmer Bernstein também se leva bastante a sério, sem buscar o tom leve ou engraçadinho de uma comédia. O tema principal, que toca durante os créditos iniciais, é simplesmente antológico - daqueles que você fica assobiando por dias, até semanas, depois de ver o rever o filme. E poderia muito bem estar num filme sério de suspense, tipo os que são satirizados aqui.

Já o "tema romântico" de Ted e Elaine parece ser uma citação (plágio?) do tema romântico composto por Paul Sawtell para o filme "Raposas de Fogo" (1958), de Dick Powell, um drama de guerra sobre... surpresa!... um piloto de caça durante a Guerra da Coréia (interpretado por Robert Mitchum).

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Filmado em apenas 34 dias no final de 1979, APERTEM OS CINTOS... estreou nos cinemas norte-americanos em 1980. Os diretores tinham um pouco de receio de que seu humor caótico e absurdo pudesse não agradar o público. Mas a previsão não se confirmou: produzido com 3,5 milhões de dólares, o filme faturou mais de 80 milhões nas bilheterias só na América do Norte, repetindo a boa recepção na maior parte do mundo.

Não demorou para tornar-se um clássico também na TV, inclusive no Brasil, onde em áureos tempos reprisava pelo menos uma vez por ano! Nos Estados Unidos, algumas cenas adicionais foram incluídas na montagem para que se pudesse eliminar piadas mais fortes. Uma dessas cenas envolve outro brilhante (e intraduzível) trocadilho verbal, quando um homem no aeroporto cumprimenta um amigo gritando "Hi, Jack!", e é imediatamente preso pelas autoridades, já que "hijack"é "sequestro" em inglês, e na época já havia o medo de terroristas sequestrarem aviões comerciais!

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Com o sucesso de seu filme de estreia, o Trio ZAZ foi convidado para dirigir uma sequência já no ano seguinte. Porém, acreditando que já tinham esgotado todas as piadas com o tema, os diretores-roteiristas preferiram abandonar o projeto e levar seu humor anárquico para a televisão, criando e escrevendo o já citado seriado "Police Squad", que estreou em 1982 (o mesmo ano de "Apertem os Cintos... 2ª Parte").

Somente uma temporada foi produzida, mas os seis únicos episódios são hilários por fazerem com o universo dos enlatados policiais televisivos o que APERTEM OS CINTOS... fez com o cinema-catástrofe. Com direito até a uma brincadeira com o "freeze frame" no final de cada episódio, e que na verdade não era bem um "freeze frame" - os próprios atores fingiam estar "congelados" até que acabassem os créditos finais!

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Dois anos depois, em 1984, o Trio ZAZ satirizou as aventuras de espionagem em "Top Secret - Super Confidencial", que considero uma obra-prima das comédias nonsense no mesmo nível de APERTEM OS CINTOS..., se não melhor. Depois de "Por Favor Matem Minha Mulher" e "Corra que a Polícia Vem Aí!", os três amigos se separaram, no final dos anos 80, e cada um seguiu seu caminho.

David e Jim continuaram fazendo comédias parecidas, embora com resultado bem distante de seus trabalhos mais antigos (David fez "Todo Mundo em Pânico" 3 e 4, e Jim os dois "Top Gang"). Jerry Zucker foi o que acabou fazendo mais sucesso em carreira solo, ao dirigir filmes de outros gêneros, como "Ghost - Do Outro Lado da Vida" e "Primeiro Cavaleiro".

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Recentemente, metade do mundo foi ao delírio com a notícia de que o grupo humorístico inglês Monty Python pensava em se reunir, depois de décadas, para fazer um show comemorativo. Mais até do que os Pythons, eu confesso que adoraria ver o retorno do Trio ZAZ ao que eles fazem de melhor - ou seja, as comédias na linha de APERTEM OS CINTOS...

Temo, entretanto, que as gags e trocadilhos de Jerry, Jim e David sejam muito sofisticadas para a média do "humor" que se vê hoje, já que as produções atuais nesse estilo simplesmente não têm graça alguma (e falo de atrocidades como "Espartalhões" e "Os Vampiros que se Mordam").

E falando especificamente aqui do Brasil, quando o referencial de "humor" de uma geração é "Crô - O Filme" num extremo e Fábio Porchat e Bruno Mazzeo no outro, o melhor mesmo é recorrer ao DVD de APERTEM OS CINTOS..., pois suas piadas revistas pela 32ª vez continuam mais engraçadas do que todas as dessa turminha contadas pela primeira vez!

PS: Dois mestres dos efeitos especiais da década de 1980, Rob Bottin ("O Enigma do Outro Mundo") e Chris Wallas ("A Mosca"), trabalharam na equipe técnica deste filme.


Trailer de APERTEM OS CINTOS...



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Airplane! (1980, EUA)
Direção: Jim Abrahams, David e Jerry Zucker
Elenco: Robert Hayes, Julie Hagerty, Robert Stack,
Leslie Nielsen, Lloyd Bridges, Peter Graves, Kareem
Abdul-Jabbar e Lorna Patterson.

APERTEM OS CINTOS... O PILOTO SUMIU! 2ª PARTE (1982)

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"Ted, eu tenho a estranha sensação de que já passamos por isso tudo antes", diz Elaine Dickinson, a aeromoça interpretada por Julie Hagerty, lá pela metade de APERTEM OS CINTOS... O PILOTO SUMIU! 2ª PARTE, quando seu eterno par romântico Ted Striker (Robert Hays) é obrigado a assumir o posto de piloto de uma aeronave depois da morte da tripulação - mais ou menos como já havia acontecido em "Apertem os Cintos... Parte 1"!

É possível que tenha sido apenas mais uma piada dos realizadores dessa sequência, filmada e lançada apenas dois anos depois do sucesso do original. Mas o diálogo de Elaine/Julie também pode ser encarado como uma honesta auto-crítica, como se os realizadores e intérpretes da continuação tivessem noção de que não estão fazendo nada de diferente além de trocar um avião por um ônibus espacial, mas repetindo as situações (e piadas) do primeiro filme.

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Inicialmente, roteiro e direção de APERTEM OS CINTOS... 2ª PARTE (subtitulado, no original, "The Sequel", ou "A Sequência") foram oferecidos aos mesmos responsáveis pelo primeiro, o famoso Trio ZAZ - formado por Jim Abrahams e pelos irmãos David e Jerry Zucker. Mas eles recusaram a proposta, alegando que já tinham esgotado todas as piadas com cinema-catástrofe e aeronaves em perigo no primeiro filme, e não teriam nada de novo para mostrar (ou com que brincar).

Assim, o estúdio responsável por "Apertem os Cintos..." (Paramount) resolveu contratar um diretor-roteirista genérico qualquer para imitar o Trio ZAZ, acreditando que uma sequência ainda teria potencial para arrecadar alguns milhões de dólares nas bilheterias. O escolhido foi o canadense Ken Finkleman, um nome de pouca expressão que, até aquele momento, havia escrito o roteiro de uma outra continuação, "Grease 2".

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Sabendo que tinha uma batata quente nas mãos, já que o primeiro "Apertem os Cintos..." tinha sido um grande sucesso de público E de crítica, Finkleman se acomodou numa zona de conforto e resolveu não inventar muito, basicamente apenas reciclando as piadas que já tinham funcionado no original, e até resgatando a maioria dos seus personagens, já que "em time que está ganhando não se mexe".

A tática nem sempre funciona, e a sensação é de se estar ouvindo a mesma piada pela segunda vez, só que agora contada por alguém que não sabe contar piadas direito. E embora continue explorando os clichês dos filmes-catástrofe tipo "Aeroporto", APERTEM OS CINTOS... 2ª PARTE muda o alvo da sátira para outra direção: os filmes de ficção científica.

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No início, um letreiro que "sobe" pela tela, da mesma maneira que os letreiros iniciais da série "Star Wars", explica que estamos no futuro, que a humanidade começou a colonizar a Lua e prepara o primeiro lançamento de um voo comercial para o satélite natural da Terra - o ônibus espacial Mayflower I.

Não demora para a história contada pelo letreiro se transformar numa narrativa pornográfica barata, que é interrompida quando o próprio ônibus espacial cruza a tela e despedaça o letreiro como se tivesse atravessado uma placa de vidro. Engraçadinho...

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A partir de então, desenrola-se a sequência de créditos iniciais ao som da clássica música-tema de Elmer Bernstein, bombardeando o espectador com uma verdadeira saraivada de piadas diversas, como acontecia no original: tem aparelho de raio-X do aeroporto que mostra mulheres sem roupa, uma mãe que despacha seu bebê de colo para o compartimento de bagagens da aeronave, e até uma mulher que vai ao balcão de informações do aeroporto perguntar se deve fingir os seus orgasmos!

Finkleman está tão ansioso em mostrar serviço que brinca até com a morte de diversos inocentes, quando uma turma de estudantes vai visitar a torre de comando do aeroporto e um moleque confunde o computador que ajuda um ônibus espacial a aterrissar com um videogame, explodindo a nave em pleno ar!

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Logo o espectador descobre que Ted Striker, o herói do primeiro filme, foi promovido a piloto de testes do tal ônibus espacial que vai para a Lua, mas sofreu um novo colapso nervoso depois de uma aterrissagem que deu errado. Ted alegava problemas com o equipamento da nave, mas foi julgado e condenado a internação num manicômio cujo nome é uma "homenagem" ao ex-presidente norte-americano Ronald Reagan.

Já sua amada, a aeromoça Elaine, foi promovida a técnica de computadores e encontrou um novo amor no piloto espacial almofadinha Simon (Chad Everett), com quem fará a viagem lunar. Ambos já estão com o casamento agendado para a volta.

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É claro que Striker tinha razão sobre os problemas técnicos do Mayflower. E, ao saber que a aeronave fará sua viagem inaugural para o espaço, ele resolve fugir do hospício e arrumar um lugarzinho no voo, para poder estar por perto caso algo aconteça - as passagens já estão esgotadas, mas Ted consegue a sua facilmente com um cambista no próprio aeroporto!

Do time original, também volta o Capitão Oveur (Peter Graves), agora promovido a piloto de ônibus espacial, talvez numa brincadeira com o personagem de George Kennedy na série "Aeroporto", que sempre era promovido de um filme para o outro, conforme a necessidade de ele aparecer. Oveur continua com uma atração irresistível por garotinhos, e faz aquelas mesmas perguntinhas impertinentes a um garoto que visita o cockpit da nave, como acontecia em "Apertem os Cintos...".

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Vários passageiros do filme original retornam para uma nova viagem fadada ao desastre, e interpretados pelos mesmos atores. Alguns reprisam seus papéis apenas na cena do julgamento de Striker, quando são chamados a testemunhar sobre os eventos ocorridos em "Apertem os Cintos..." - tipo a mulher histérica que precisa ser contida a tabefes (Lee Bryant), algo que se repete em pleno tribunal, e o negro que só fala por meio de gírias incompreensíveis (Al White).

Os hare-krishnas que estavam no avião no filme original também reaparecem, mas não chegam a participar da "tragédia" dessa vez: eles ficam em terra, no balcão da sua nova empresa aérea chamada "Transcedental Air"!

Como passageiros do voo em perigo, temos uma família em que o marido está fugindo acusado de estupro, e que viaja com a esposa, o filho pequeno e o cachorrinho de estimação; um padre sem-vergonha; uma ninfomaníaca que usa a tragédia iminente como desculpa para transar com todos os demais passageiros, e um casal de velhotes que já tinha aparecido no primeiro filme.

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Quando o Mayflower entra em órbita, a suspeita de Striker se confirma: o computador de bordo, ROK 9000 (provavelmente um parente distante do HAL 9000, de "2001 - Uma Odisseia no Espaço", e que fala com a voz do próprio diretor Finkleman), enlouquece e assume o controle da nave, mudando o curso para enviá-la diretamente para o Sol. Os tripulantes tentam deter a ameaça computadorizada, mas ROK se livra dos humanos fazendo com que sejam sugados para o espaço, ou então envenenando-os com gás tóxico.

Aí sobra para Ted Striker o desafio de salvar a pátria mais uma vez. Para isso, ele precisa não apenas lutar contra o computador e retomar o controle da nave, mas também lidar com uma ameaça de bomba, já que um dos passageiros, Joe Seluchi (interpretado por Sonny Bono), pretende explodir o ônibus espacial no ar para que sua esposa ganhe o dinheiro do seguro (uma citação direta a "Aeroporto", inclusive repetindo alguns dos diálogos daquele filme).

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No momento em que a nave perde sua tripulação, retornam também os controladores de voo de "Apertem os Cintos...", Steve McCroskey (Lloyd Bridges) e o hilário Johnny (Stephen Stucker), aqui inexplicavelmente rebatizado como Jacobs - e em papel-duplo, já que ele também aparece na cena do tribunal como um personagem diferente.

Só que a "jurisdição" da equipe acaba na Terra, e eles logo passam a bola para o comandante da base lunar de Alfa Beta, Buck Murdock (William Shatner!!!), que voou com Striker na trágica missão de guerra em Macho Grande (!!!). Murdock precisa esquecer o rancor para ajudá-lo a pousar a nave, e é uma cópia mal-disfarçada do Rex Kramer interpretado por Robert Stack no original, já que o veterano ator provavelmente recusou-se a voltar na sequência.

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Quem melhor definiu APERTEM OS CINTOS... 2ª PARTE foi o crítico de cinema norte-americano Roger Ebert, ao dizer que em nenhum momento realmente importa o fato de o filme se passar num espaçonave, pois todas as situações envolvendo tripulantes e passageiros são idênticas às de um avião comercial - e, neste caso, idênticas àquelas já mostradas em "Apertem os Cintos... Parte 1".

Parece até que o diretor-roteirista Finkleman não estava à vontade para tentar criar algo novo, repetindo a maioria das piadas, como as coisas jogadas para fora do quadro que são atiradas de volta, o "drinking problem" de Striker e até a cena em que ele conta uma história do seu passado para uma velhinha e ela aparece morta no final da narrativa - detalhe: é a MESMA ATRIZ (Ann Nelson) que se suicida após ouvir a história do protagonista na Parte 1!

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Finkleman também cai na mesma armadilha que muitos imitadores do Trio ZAZ caem até hoje: piadas com outros filmes que só fazem sentido caso o espectador tenha visto estes filmes. A brincadeira com E.T. ligando para casa até que é fácil de entender, mas e quando Striker foge do manicômio escondido num caminhão carregado com vagens gigantes, numa citação a "Vampiros de Almas" (1956)?

E se a aparição de Shatner como comandante da base lunar é uma óbvia referência a "Jornada nas Estrelas" (a nave Enterprise até faz uma participação especial!), pouquíssima gente vai pescar a mesma homenagem a "Battlestar Galactica" - a trilha sonora da série toca no filme, e o navegador da Mayflower é interpretado por Kent McCord, o Capitão Troy do seriado "Galactica 1980". Ou a participação de Raymond Burr como juiz (só a turma das antigas vai reconhecer o ator que fazia o famoso advogado Perry Manson, no seriado dos anos 1950-60).

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Abrahams e os Zuckers também brincaram com filmes de sucesso em "Apertem os Cintos...", mas a diferença lá era que você não precisava saber de onde vinham as citações para rir da piada. Quando eles bagunçaram a cena da discoteca de "Os Embalos de Sábado à Noite", por exemplo, muita gente riu porque entendeu a referência e tinha visto o filme do Travolta, mas outros tantos riram apenas porque Robert Hays dançava de um jeito engraçado (eu inclusive, pois só fui ver "Os Embalos de Sábado à Noite" recentemente).

Já Finkleman, como muitos outros "diretores de sátiras" que viriam depois (tipo os Irmãos Wayans, da série "Todo Mundo em Pânico"), condicionam a graça das brincadeiras a conhecer/ter visto os filmes satirizados. Eis o problema: ninguém vai abrir sequer um sorriso amarelo com o computador ROK 9000 caso não tenha visto "2001", por exemplo.

(Menos mal que ele foi visionário e colocou, no fundo de uma cena, o pôster de cinema de "Rocky 38", com a imagem de um lutador bem velhinho. Aposto que ninguém na época imaginou que Stallone faria "Rocky Balboa" aos 60 anos!)

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O diretor-roteirista sai-se bem melhor quando esquece as referências específicas e brinca com os clichês do cinema de ficção científica em geral, e aí até se aproxima um pouco do que o Trio ZAZ fez no original. Uma piada que me provoca risadas a cada revisão é a das portas acionadas por voz da estação de Alfa Beta: os personagens simplesmente fazem"shhhh" para abrir as portas, já que esse é o som que elas emitem no processo de abrir e fechar!

Outra piada genial é aquela em que um dos técnicos da equipe de Murdock informa que eles ainda não descobriram qual é a utilidade de um aparelho enorme com luzes vermelhas piscantes. O comandante dá um esporro:"Deve ter alguma função! O Governo não gastaria milhões numa luz vermelha que vai e volta! Continuem trabalhando nisso". Pois o tal aparelho era um objeto de cena bastante popular em seriados de TV e filmes de ficção científica da época, e apareceu inclusive em "Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan" e "O Último Guerreiro das Estrelas", sem que sua função fosse explicada em nenhum deles!

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Como já acontecia em "Apertem os Cintos...", várias piadas desta sequência envolvem trocadilhos intraduzíveis, que só serão compreendidos por quem tem uma mínima noção de inglês. Quem se guiar pelas legendas em português do DVD (ou mesmo pela velha dublagem da TV) nunca vai entender porque Murdock pede a "ficha pessoal" de Striker e recebe um disco gravado por ele (em inglês, a palavra "record" pode ser tanto a ficha da pessoa quanto gravação, ou disco).

Eu mesmo nunca entendi porque, quando Murdock diz que o ônibus espacial precisa pousar em segurança, aparece um cofre caindo do céu no fundo da cena, até rever o filme recentemente e perceber que Murdock usa a expressão "down safe" - e, em inglês, "safe" não significa apenas "em segurança", mas também "cofre", numa gag visual extremamente débil-mental!

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Também se perde na tradução a piada em que Striker passa por uma porta no interior da Mayflower que diz "Danger: Vacuum". Obviamente, a placa parece estar se referindo ao vácuo espacial; mas, quando Striker abre a porta, é atacado por um aspirador de pó, que em inglês se chama "vacuum cleaner"!

Por fim, entre diversos outros trocadilhos, a pequena participação (sem ironia) do anão Hervé Villechaize (o Tattoo do velho seriado "Ilha da Fantasia") fica sem sentido nas legendas/dublagem, pois ele surge depois que uma das aeromoças diz "I sure can use a little breather". A tradução literal é "Preciso parar para respirar um pouco", mas claro que, neste caso, a expressão em inglês "little breather" também pode se referir ao anão, mas fica impossível adaptá-la para o português (só se fizessem um trocadilho besta tipo "ah não"!).

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Além dessas gags de duplo sentido, há uma cacetada de diálogos intraduzíveis, na linha daquela conversa entre tripulantes chamados Oveur, Roger e Victor no original. Um deles envolve, novamente, uma conversa entre os pilotos da Mayflower, cujos sobrenomes são Oveur, Dunn e Unger. Só que trocadilhos como "Dunn was under Oveur and I was under Dunn"e "You were under Oveur and over Unger" não fazem sentido na tradução - tanto que o responsável pelas legendas/dublagem nem se preocupou em fazer a mínima adaptação e deixou rolar de qualquer jeito.

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O mesmo acontece com o diálogo entre o promotor e uma testemunha no julgamento de Striker, que também perde completamente a graça em outro idioma. Isso porque a testemunha usa algumas palavras em inglês e o promotor retruca citando nomes de pessoas cuja pronúncia é parecida com a das palavras, dessa forma:
- But he couldn't handle it.
- "Buddy" (But he) couldn't handle it? Was Buddy one of your crew?
- Right. Buddy was the bombardier. But it was Striker who couldn't handle it, and he went to pieces.
- "Andy" (And he) went to pieces?
- No. Andy was the navigator. He was all right. Buddy went to pieces. It was awful how he came unglued.
- "Howie" (How he) came unglued?

Por isso, como já havia acontecido em "Apertem os Cintos... Parte 1", este filme deve ter sido um verdadeiro pesadelo para o pessoal que fez a tradução para o português, ou qualquer outro idioma!

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Embora seja ligeiramente inferior ao original, APERTEM OS CINTOS... 2ª PARTE continua bastante divertido, principalmente em comparação com as comédias "nonsense" atuais, já que essas não têm graça alguma. Sem contar que é muito legal ver personagens fantásticos como Ted Striker, Elaine e o Capitão Oveur juntos novamente, mesmo que eles tenham poucas piadas novas para contar.

É uma pena que Robert Stack e Leslie Nielsen não tenham voltado junto com o resto da trupe. Finkleman até tentou criar alguns novos personagens para compensar, tipo o "Sargento" interpretado por Chuck Connors, mas sem sucesso. No fim, a melhor "novidade" de APERTEM OS CINTOS... 2ª PARTEé o personagem de William Shatner, parodiando seu famoso Capitão Kirk.

Também é uma pena que o estressado McCroskey de Lloyd Bridges tenha uma participação bem pequena aqui. Numa cena que foi excluída, descobrimos que McCroskey estava internado num hospício (talvez por ter cheirado muita cola no final de "Apertem os Cintos... Parte 1"), porque começou a pensar que era... Lloyd Bridges!

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APERTEM OS CINTOS... 2ª PARTE não teve a mesma repercussão do original e nem fez o mesmo sucesso, faturando 27 milhões de dólares nas bilheterias norte-americanas contra os mais de 80 milhões do original. Ken Finkleman só dirigiu mais um filme ("Executivos em Apuros", 1985) e escreveu o roteiro de "Quem é Essa Garota?" para Madonna em 1987. Depois, bandeou-se para a TV, onde está até hoje como diretor, roteirista e ator de seriados tipo "Good Dog" e "The Newsroom".

O Trio ZAZ garantiu, na faixa de comentários do DVD do primeiro filme, que nenhum deles jamais se interessou em ver a continuação, e que teriam até protestado quando o projeto foi anunciado. Já as críticas foram praticamente todas negativas, abortando os planos de realização de um "Airplane 3" pela Paramount!

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O curioso é que, depois dos créditos finais dessa Parte 2, aparece até uma chamada anunciando o terceiro filme (acima), seguida de uma cena em que William Shatner, citando Robert Stack no original, diz: "That's exactly what they'll be expecting us to do!".

Eu sempre imaginei que era apenas mais uma piada dos realizadores, tipo Mel Brooks anunciando "A História do Mundo Parte 2" no final da Parte 1, mas a Paramount realmente tinha planos de fazer "Apertem os Cintos... Parte 3"!

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Bem, eles poderiam ter economizado dinheiro e relançado "Aeroporto 80 - O Concorde" nos cinemas, apenas trocando o título para "Apertem os Cintos... Parte 3 - O Concorde". Aposto que ninguém perceberia a diferença, e as risadas seriam garantidas - já que as "piadas", neste caso, não são repetidas, e são tão engraçadas quanto as tiradas do Trio ZAZ!

PS 1: As musas do cinema classe B dos anos 80 Laurene Landon, Sandahl Bergman e Monique Gabrielle fazem pequenas participações (essa última mostrando os belos peitos na cena do raio-X do aeroporto, como de costume).

PS 2: Não deixe de ver o divertidíssimo trailer do filme abaixo, que faz piadas citando os atores que NÃO estão no filme e até o uso de óculos 3-D, já que naquela época (começo dos anos 1980) as produções filmadas em três dimensões estavam voltando à moda.


Trailer de APERTEM OS CINTOS... 2ª PARTE



*******************************************************
Airplane II: The Sequel (1982, EUA)
Direção: Ken Finkleman
Elenco: Robert Hayes, Julie Hagerty, Lloyd Bridges,
Peter Graves, Wiliam Shatner, Chuck Connors, Rip Torn,
Chad Everett, Raymond Burr e John Vernon.

A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES (1976)

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Em determinado momento de A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES, o proprietário do estabelecimento citado no título, que é interpretado por José Mojica Marins, diz para uma de suas funcionárias: "As emoções não fazem sentido". Confesso que não entendi o que o personagem quis dizer no contexto da cena, mas ele bem que poderia estar se referindo ao próprio filme.

Afinal, A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES não faz o menor sentido - e me refiro tanto à história quanto ao fato de um negócio como esse existir em primeiro lugar! Curto e grosso, o filme é desconexo, arrastado e redundante, e passa a impressão de ser um curta-metragem esticado para longa só para poder passar nos cinemas.

Mesmo assim, o resultado é uma daquelas maluquices estranhamente hipnóticas que, por mais que esteja odiando, o espectador não consegue parar de ver. E muito disso advém da criatividade do nosso "Zé do Caixão" para filmar com um mínimo de recursos e ainda assim conseguir tirar algo minimamente original de quase nada.

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A história por trás de A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES já é bem conhecida: em 1975, quando enfrentava problemas financeiros e familiares, Mojica entregou o projeto para que um integrante da sua trupe, Marcelo Motta, dirigisse em seu lugar. O "discípulo" já fazia parte do seu grupo de colaboradores habituais desde 1969, e havia inclusive trabalhado como assistente de direção em seu longa anterior, "Exorcismo Negro" (1974).

A princípio, Mojica iria aparecer apenas como ator. Porém, lá pelas tantas, ele foi obrigado a assumir o controle sobre o filme, mexendo na edição e filmando novas cenas para o que acabou sendo a montagem final. Pesquisadores da obra do diretor são unânimes em afirmar que o resultado parece mais coisa dele do que de Marcelo Motta - e duvido que o próprio Mojica saiba dizer, hoje, quem filmou o quê, embora alguns momentos claramente "mojiquianos" sejam facilmente identificáveis.

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Ninguém sabe ao certo, também, porque Mojica precisou assumir a cadeira de diretor que pertencia ao discípulo para terminar o filme. A versão mais comum indica a falta de experiência de Motta como motivo principal, já que o material filmado por ele estaria repleto de erros de continuidade e cenas fora de foco, acarretando em atrasos e custos desnecessários com refilmagens (e se um cara barateiro como o Mojica optou por refilmar cenas, é porque o negócio estava brabo MESMO!).

A outra versão (repetida pelo próprio Mojica numa entrevista que fiz com ele em São Paulo no ano passado) é um pouquinho mais complicada: na época das filmagens, Marcelo Motta estaria enfrentando problemas amorosos com uma namorada prestes a deixá-lo e isso se refletiu no trabalho, forçando Mojica a assumir o comando para que o filme não ficasse inacabado. A obra foi finalmente finalizada e lançada em 1976.

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Seja como for, A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES marca uma espécie de fase de transição na carreira do popular Zé: ele tinha acabado de sair da sua primeira "superprodução" - "Exorcismo Negro", de 1974, bancada pelo todo-poderoso Aníbal Massaini Neto e sua Cinedistri -, onde pôde pela primeira vez trabalhar com um orçamento decente e atores mais famosos, tipo Joffre Soares.

Mas, a partir de então, Mojica despencaria de volta para os filmes de baixo ou nenhum orçamento, engatando uma sequência de obras inexpressivas que, assim como A ESTRANHA HOSPEDARIA..., ficariam muito melhores como curtas-metragens. E, caso fossem reeditados e transformados em episódios de meia hora, poderiam até compor uma coletânea estilo "O Estranho Mundo de Zé do Caixão Parte 2", e funcionar bem melhor.

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A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES também marca o surgimento da própria companhia de Mojica, a Produções Cinematográficas Zé do Caixão. Só que esta primeira produção da empresa era tão barata que apenas ele, a editora Nilcemar Leyart e o diretor de fotografia Giorgio Attili eram técnicos profissionais; todos os demais, incluindo o diretor Motta e diversos dos atores, eram integrantes da trupe de Mojica ou alunos de sua escola de atores, que ajudaram a bancar o filme comprando cotas dele!

O roteiro é de Rubens Francisco Lucchetti e, segundo algumas fontes, teria sido adaptado de um dos episódios do velho seriado de horror apresentado por Mojica - só não se sabe se de "Além, Muito Além", exibido pela Bandeirantes entre 1967-68, ou de "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", exibido pela Tupi entre julho e novembro de 1968. Inclusive o personagem do dono da hospedaria, aqui assumido pelo Zé, teria sido interpretado por Juca de Oliveira no episódio original do seriado.

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A trama é bastante simples e poderia muito bem ser resumida num curtinha de 20 minutos ou até menos: Mojica é o misterioso proprietário da "Hospedaria dos Prazeres", que fica num local ermo, mas mesmo assim recebe dezenas de clientes numa noite de sexta-feira, 13 de agosto - e uma noite de tempestade, claro!

Apesar de o personagem a priori não ter nada a ver com Zé do Caixão, a única diferença entre eles é que aqui o ator usa um chapéu-coco no lugar de cartola; o resto, das divagações sem sentido às unhas compridas e olhos arregalados em close, é exatamente igual. Mas sempre é engraçado ver Mojica tentando interpretar um sujeito mais dócil e "refinado", bem diferente do sádico e fiasquento Zé do Caixão.

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Os hóspedes - doze, no total - são um casal de noivos que passa o filme inteiro trepando (interpretados por Caçador Guerreiro e pela linda Marizeth Baumgartem), um grupo de motoqueiros/hippies, industriais preparando alguma negociata secreta, jogadores de pôquer, um sujeito (José Peres Ortega) que seduz coroas ricas para roubar-lhes o dinheiro, uma mulher desmemoriada, um suicida em potencial (Tomé Francisco) e até uma quadrilha de ladrões de joalherias!

Todos esses dementes chegam à Hospedaria dos Prazeres na mesma noite, com um curto intervalo de tempo entre um e outro.

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A partir daí, não acontece muita coisa nem há qualquer tipo de conflito entre os personagens: confinados em seus respectivos quartos, o casal de noivos trepa; os hippies fazem uma suruba e ficam cantando "Tá todo mundo nu, oba!"; os jogadores de pôquer jogam pôquer e fumam muito; os industriais ficam assinando contratos; a mulher desmemoriada fica se perguntando"Quem sou eu? Onde estou?"; a quadrilha de ladrões fica dividindo o produto do roubo, e assim por diante.

Depois de uns bons 50 minutos simplesmente pulando de um quarto para outro até encher o saco, já que nada de muito emocionante acontece, finalmente surge a reviravolta, quando o espectador descobre que o dono do local na verdade é a própria Morte, e todos os seus hóspedes "desencarnaram" momentos antes de aparecer na hospedaria: os bandidos foram mortos num tiroteio com a polícia, o suicida explodiu os próprios miolos, o sedutor de coroas tomou um pipoco de uma amante enciumada, os hippies despencaram com suas motos de um barranco...

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Assim, a Hospedaria dos Prazeres seria uma sucursal do Além, uma espécie de sala de espera para as almas dos falecidos antes que elas sejam encaminhadas ao seu destino final. Ou, talvez, o inferno particular de cada finado - e convenhamos que não seria nada mal um inferno particular onde você passasse a eternidade numa suruba de hippies, ou numa cama transando com a Marizeth Baumgartem!

Enfim, o filme não se preocupa em explicar o que exatamente é a hospedaria além de um local de concentração de almas desencarnadas, e cada um fica livre para imaginar o que quiser: se dali eles partirão para um local melhor/pior, ou se estão condenados a ficar presos em seus quartos pela eternidade sem saber que morreram.

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Antes que me acusem de soltar spoilers sobre a "surpresa final" de A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES... Bem, digamos que o próprio roteiro não é lá muito eficiente em tentar esconder essa "reviravolta", jogando pistas o tempo todo para que até o espectador mais burro e desatento consiga enxergar o "final-surpresa" pelo menos uma hora antes de ele aparecer.

Por exemplo: a Hospedaria dos Prazeres tem um relógio-cuco na parede, mas ele não tem ponteiros; ao mesmo tempo, os relógios de cada hóspede pararam numa hora diferente (a hora da morte de cada um deles... dã!).

O fato de o nome dos hóspedes já estar anotado no livro de registro no momento em que eles chegam ao local, e de o proprietário da hospedaria ficar largando frases como "Sempre existirá vaga para quem voluntariamente ou involuntariamente for indicado à minha casa", ou "Os hóspedes querem descansar", também não ajudam muito a esconder a "surpresa".

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Logo fica claro que, com um conceito simplório como esse, não há muita história para contar (e o fato de a montagem simplesmente alternar cenas dentro de um quarto ou outro durante a maior parte do filme comprova a falta de assunto).

Aí entram pelo menos duas sequências (aparentemente rodadas pelo próprio Mojica) que só estão no filme para encher linguiça e fechar o tempo de um longa-metragem, ambas no início, de maneira que o espectador impaciente pode pulá-las sem medo de perder algo importante para a trama principal.

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A primeira dessas descartáveis cenas introdutórias mostra dançarinas de baby-doll colorido rebolando ao som de batuques num cenário surreal, que é formado por tendinhas feitas com lençóis e uma floresta mambembe habitada por criaturas bizarras.

As tais criaturas são de uma pobreza franciscana (figurantes vestindo máscaras de Carnaval e peitos e bundas de plástico, provavelmente comprados na 25 de Março), mas a visão delas incomoda - eu definitivamente não queria viver no mesmo universo ou dimensão que essas criaturas bizarras!

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E depois de uns bons sete ou oito minutos da Dancinha do Baby-Doll entrecortada com as criaturas com máscara da 25 gritando, eis que a tampa de um caixão posicionado no meio do cenário se abre, e de dentro sai ninguém menos que... Zé do Caixão (Mojica reprisando seu famoso personagem, mas só para introduzir a história, já que o dono da hospedaria, como vimos, não tem nada a ver com o Zé).

Olhando diretamente para a câmera e para o espectador, dublada com uma voz grossa (e diferente daquela usada no restante do filme, que pertence a João Paulo Ramalho), a entidade diabólica de capa e cartola faz mais um dos seus tradicionais discursos escalafobéticos, que até vale a pena transcrever aqui:

"Viver para morrer ou morrer para viver? Existe a resposta certa? Não! Somente dúvidas. Somente deduções. Só a certeza do vazio. Da solidão. Da desesperada procura do tudo ou do nada. Da vastidão das trevas. Pois o desvendar desse enigma seria o fim do mistério, o fim do segredo da Eternidade, o apogeu da alegria diante de uma missão cumprida. Pois o homem estaria frente a frente com a sua maior conquista: o despertar da própria origem."

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Quando o discurso se encerra (com direito a sujeira no negativo criando belos efeitos, como você pode ver acima), o espectador percebe que essa "introdução" já comeu uns bons 10 minutos de tempo corrido, e ela não tem absolutamente nenhuma relação com a história do filme, num verdadeiro teste de paciência para os espectadores que ainda não estão acostumados às doideiras (e malandragens) de José Mojica Marins.

Aí entram mais três minutos de créditos iniciais, desenhados sobre fotografias reais de um cemitério, com os nomes dos atores e técnicos pintados sobre lápides e túmulos, criando um belo (ainda que mórbido) efeito. E apesar de Mojica ter assumido a bronca, o único diretor creditado é Marcelo Motta.

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Parece que o filme finalmente vai começar de verdade, certo? Errado!

Aparentemente, A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES tinha tão pouca história que Mojica foi obrigado a filmar uma SEGUNDA INTRODUÇÃO, dessa vez mostrando imagens do "Cosmos" (bolinhas de isopor penduradas por fios de nylon visíveis, em frente a imagens do espaço), ilustrando um novo discurso sem pé nem cabeça de Mojica, dessa vez em off, e que também vale a pena transcrever:

"Perguntar qual é o tamanho do Universo é o mesmo que perguntar qual é o término da Eternidade. Qual é a verdadeira forma de Deus? Quantas estrelas? Quantos planetas? Quantas galáxias existem na vastidão do Universo? São perguntas sem respostas, para além existe uma dimensão inferior. Por que o término? Por que você não aceita a extinção? Por que o medo, o vazio da sua presença, se você é superior? O que lhe espera quando o manto mortífero descer sobre você? Só a sua imaginação lhe dirá. É o fim? É o início? O nada? O tudo? Sim. Você teme o materialismo. Você teme a si mesmo. Contempla o Cosmos. Dá vazão a uma fantasia mental. A ilusão das ilusões, em busca de uma verdade real. É um clarão na escuridão. É a magia da luz que desponta. São brisas do sopro divino que lhe acariciam o seio. É a alegria incontida que envolve sua mente. É uma palavra como em moto-contínuo, que se repete e se repete. Mas não despreze o quanto é majestoso o seu significado. A luz da existência. A camuflagem da morte é o despertar da vida."

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Óbvio que este novo monólogo de Mojica também não faz o menor sentido e nem tem o menor valor para a trama do filme; é tão prolixo e desconexo quanto o discurso de Zé do Caixão na "primeira" introdução, e absurdamente redundante!

Mas o bla-bla-bla sobre as "imagens do Cosmos" come mais uns seis minutos do filme, e é então que a trama principal de A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES finalmente começa... depois de exatos 15min46s de asneiras e encheção de linguiça! Fico até imaginando a cara dos espectadores que viram a estreia disso nos cinemas na época, já que parece que o filme não vai começar nunca!

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Para fechar a longa lista de problemas da obra, o roteiro de A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES é tão caótico que em vários momentos afronta a sua própria lógica (ou falta de lógica). Talvez isso tenha acontecido no processo de esticar a historinha simples para virar longa, mas o fato é que há furos monstruosos numa trama que, na essência, deveria ser bem simples.

Acompanhe: no momento em que descobrimos que a hospedaria é uma sucursal do Além, e que seus hóspedes estão todos mortos sem saber disso, é impossível não lembrar que, durante a narrativa, várias outras pessoas tentaram se abrigar no local para escapar da mesma tempestade, mas foram enxotadas pelo personagem de Mojica porque não havia "vaga" para elas - ou seja, essas pessoas ainda estavam vivas.

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Mas ora bolas, se elas estavam vivas, teoricamente nem deveriam enxergar a "Hospedaria do Além" em primeiro lugar, não concordam? Isso parece ser apenas uma desculpa para a previsível cena de revelação no final, quando, na manhã seguinte aos acontecimentos mostrados, um dos clientes "vivos" enxotados volta à pensão com a polícia e encontra... um cemitério no lugar onde ficava a hospedaria!

A revelação do final também torna absurda a primeira cena do filme (não aquelas introduções fuleiras, me refiro à primeira cena do filme MESMO), que mostra um anúncio de jornal pedindo empregados para trabalhar na pensão. Vários interessados se oferecem, mas Mojica escolhe apenas dois que "já foram recomendados" (ou seja, provavelmente estão mortos, ou em breve estarão).

Bem, se Mojica é a Morte, e a hospedaria uma sala de espera para o Além, por que diabos ele precisou colocar anúncio no jornal, se os seus empregados-vítimas chegariam até ali de qualquer forma?

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O caso é que talvez seja inútil procurar alguma lógica em A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES, já que, conforme o próprio hospedeiro anuncia,"as emoções não fazem sentido". E nem dá para esperar nada muito diferente de uma obra filmada nas condições em que esta foi filmada, pois a pobreza e o improviso são mais do que perceptíveis.

Era tão pouco dinheiro para fazer o filme que Mojica economizou uns trocados na dublagem reaproveitando músicas e efeitos sonoros de obras anteriores, tipo os sons esquisitos de "O Despertar da Besta", e até a cantoria dos hippies (o antológico "Tá todo mundo nu, oba!") de "Finis Hominis - O Fim do Homem"!

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Mesmo assim, há momentos muito criativos como recompensa para quem resistir à repetição excessiva de takes e situações. Como na cena em que o suicida explode os miolos com um tiro, e uma cachoeira de sangue desce sobre a lente da câmera (acima). Ou quando, para simular um "milagre", uma fina folha de filme plástico é incendiada em frente à câmera, criando algo bem próximo a "estrelinhas" por apenas alguns centavos!

Ou, ainda, quando um coração batendo (cena provavelmente retirada de alguma filmagem real de cirurgia) é exibido em sobreposição à imagem do relógio sem ponteiros. A revelação da "verdadeira face" do dono da hospedaria também é fantástica, e eu não duvido que várias dessas belas imagens - se não todas - saíram da cachola do próprio Mojica, acostumado a se virar com o pouco que tinha.

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Já outros improvisos não ficaram tão bons, tipo uma cena em que, para representar a periculosidade do dono da hospedaria, vários animais são mortos instantaneamente apenas com um olhar do vilão.

Para demonstrar esse efeito na prática, ratinhos brancos foram colocados sobre uma chapa metálica e eletrocutados para morrerem de verdade na hora da filmagem, numa trucagem que, além de não convencer, ainda pode ser considerada de péssimo gosto.

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E vale destacar que a ideia dos mortos que não sabem que estão mortos ainda era relativamente nova na época, mesmo já tendo aparecido em filmes tão díspares quanto "Um Passo Além da Vida" (1944) e "Contos do Além" (1972), e em toda uma variedade de contos e histórias em quadrinhos de horror. Mais recentemente, o tema seria abordado ad nauseam até transformar-se num clichê pra lá de batido, graças aos "finais-surpresa" de filmes tipo "Alucinações do Passado" (1990), "O Sexto Sentido" (1999) e "Rota da Morte" (2003), entre tantos outros.

Mesmo assim, A ESTRANHA HOSPEDARIA... passou batido na época e está entre as obras menos comentadas e/ou conhecidas do diretor. Um dos poucos a enxergar pontos positivos - talvez mais até do que realmente existem - foi o mítico Jairo Ferreira, que escreveu uma engraçada crítica para a Folha de São Paulo de 28 de janeiro de 1977 (abaixo), mais uma vez comparando Mojica a Buñuel!

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Jairo Ferreira achou o filme "bastante bom"

Mesmo que eu concorde com quase todas as críticas negativas ao filme, principalmente aquelas que reclamam do ritmo arrastado, da repetição de cenas e do fato de praticamente nada acontecer até a revelação final, confesso que tenho certa admiração por A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES. Quem sabe até pela sua extrema ruindade, ou talvez pelo seu título fenomenal somado ao cartaz fora de série (desenhado pelo mestre Benício), uma obra de arte que eu adoraria ter na minha coleção.

Ou, quem sabe, pela presença da belíssima Marizeth Baumgartem (abaixo), uma promessa de estrelinha da Boca do Lixo que não vingou e sumiu do mapa logo depois (antes ela tinha feito pequenas participações em pornochanchadas, como "Cada Um Dá o que Tem" e "Pesadelo Sexual de um Virgem", mas seu papel de maior destaque foi aqui).

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E se Marcelo Motta foi escanteado por Mojica nessa sua estreia como diretor, depois ele pôde demonstrar plenamente o seu "talento" na pornochanchada "Chapeuzinho Vermelho - A Gula do Sexo" (em que novamente dirigiu seu mestre Mojica numa ponta, como Zé do Caixão!) e no pornô "O Império do Sexo Explícito".

Este, por sinal, parece ter sido o seu último trabalho como diretor, e depois Motta também sumiu do mapa. A informação que rolava era que ele trabalhava bem longe do mundo do cinema, como integrante da diretoria do Jockey Club de São Paulo, mas parece que o Marcelo Motta em questão é apenas um homônimo. Assim, o "original" permanece sumido. Quem tiver informações sobre o seu paradeiro, escreva para o FILMES PARA DOIDOS!

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A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES circulou durante anos no universo da pirataria em cópias ripadas do velho VHS da América Vídeo, que foi lançado no Brasil nos anos 1990, naquela época em que Mojica tinha virado "cult" nos Estados Unidos e nossas distribuidoras começaram a correr atrás do atraso.

Recentemente, a Focus Filmes relançou o filme numa desastrosa edição em DVD, com qualidade de imagem muito pior que a do velho VHS, incluindo um "falso widescreen" que corta o topo e a parte de baixo da imagem. Essa versão é tão escura que algumas cenas ficaram simplesmente incompreensíveis, e não vale nem os R$ 12,90 que a distribuidora está pedindo - é melhor ficar com o VHS-Rip mesmo, por incrível que pareça!

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Depois de A ESTRANHA HOSPEDARIA..., Mojica dirigiu uma série de filmes bem fracos, e tão baratos quanto este, que também passam a ideia de serem curtas desnecessariamente esticados para longas. São eles, na ordem, "Inferno Carnal", "Perversão" e "Mundo - Mercado do Sexo".

Também lançou "Delírios de um Anormal", que é mais uma montagem dos melhores momentos de seus outros filmes do que uma trama independente. Dessa série toda de produções inexpressivas, acho que A ESTRANHA HOSPEDARIA... ainda é o meu preferido - mesmo, repito, com todos os seus defeitos.

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Depois de "Delírios de um Anormal", Mojica teve que abandonar à força o cinema de horror por "exigências de mercado", e mergulhou fundo no universo do cinema pornô, dirigindo produções asquerosas como "A Quinta Dimensão do Sexo" e "48 Horas de Sexo Alucinante" - onde filmou algumas cenas mais horripilantes do que as dos seus filmes de horror OFICIAIS!

Em 1987, após mais um pornô hoje considerado perdido ("Dr. Frank na Clínica das Taras"), o velho Zé do Caixão retirou-se para um exílio forçado longe da cadeira de diretor, que durou até 2006, quando ele comandou sua segunda (e provavelmente última) superprodução, "Encarnação do Demônio".

"As emoções não fazem sentido", nos lembra o dono da Hospedaria dos Prazeres. Mas tudo bem: para aproveitar a deixa, tampouco faz sentido o que aconteceu com a carreira e a filmografia de José Mojica Marins a partir desse filme...


Trailer de A ESTRANHA HOSPEDARIA DOS PRAZERES



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A Estranha Hospedaria dos Prazeres 

(1976, Brasil)
Direção: Marcelo Motta (e José Mojica Marins)
Elenco: Mojica, Marizeth Baumgartem, Caçador
Guerreiro,  Luzia Zaracausca, David Hungaro,
Francisco Tomé e José Peres Ortega.

Entrevista com Dedé Santana - Parte 1

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Há alguns meses, quando eu soube que o ex-Trapalhão Dedé Santana estaria de passagem pela minha cidade-natal como atração principal do Circo Mix, decidi que não perderia a chance de entrevistar o meu segundo preferido do quarteto (depois, claro, do Mussum).

Nascido em 1936, descendente de ciganos e filho de artistas de circo, Dedé sempre viveu nos picadeiros (consta que apareceu em seu primeiro espetáculo circense quando tinha apenas alguns meses de vida!). Não demorou para ele levar esse humor circense para a TV e para o cinema, primeiro com a dupla humorística Maloca e Bonitão (com o falecido irmão Dino Santana), e depois na famosa parceria com Renato Aragão que daria origem aos imortais Trapalhões.

Várias entrevistas com Dedé Santana já foram feitas, mas eu queria abordar um aspecto que geralmente meus colegas jornalistas deixam de fora: o diretor de cinema Dedé Santana. Porque hoje pouca gente lembra, mas ele assinou quatro filmes da fase de ouro do quarteto ("Os Trapalhões e o Mágico de Oróz", "A Filha dos Trapalhões", "Os Trapalhões no Reino da Fantasia" e "Os Trapalhões no Rabo do Cometa"), mais um quinto sem Renato, "Atrapalhando a Suate", dos tempos em que os Trapalhões estavam separados.

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Infelizmente, o contato com o pessoal do circo em que ele iria se apresentar foi complicado; dias e horários para a entrevista eram marcados e desmarcados, como se eles tentassem preservar o astro do espetáculo do contato de curiosos como eu. Mas não desisti: numa das noites em que o circo se apresentaria, fui acompanhar o show normalmente como espectador, e, ao final, quando Dedé distribuía autógrafos, aproveitei para me infiltrar entre os vários fãs e o abordei:

"Sr. Manfried Sant'Anna?" - este é o nome de batismo do Trapalhão.

Ao ouvir seu nome completo, Dedé fez uma daquelas suas típicas caretas de Trapalhão e respondeu fingindo medo: "Rapaz, para me chamar por este nome, só pode ser encrenca!". Estava quebrado o gelo. Mesmo sendo um dos artistas mais populares do Brasil, que teve sua cara associada a programas de TV, filmes, discos, camisetas, produtos diversos e até revistas em quadrinhos, Dedé Santana é uma pessoa simpaticíssima e humilde!

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Ao mestre, com carinho: presenteando Dedé com o DVD de um dos meus filmes, "Canibais & Solidão" (que presente de grego!)

Comentei sobre minha intenção de entrevistá-lo e ele ficou animadíssimo; especialmente quando disse que não iria lhe questionar sobre Renato Aragão ou Os Trapalhões, como já é costume entre os colegas de profissão. Não demorou para Dedé revelar-se um verdadeiro apaixonado pelo trabalho atrás das câmeras, que inclusive ficou feliz por ser entrevistado como cineasta, e não como ex-Trapalhão pela milionésima vez.

Infelizmente, Dedé Santana continua um astro com agenda cheia. Eu só tive direito a uns 40 minutos com ele, no intervalo entre uma apresentação e outra. O resultado o leitor acompanha a seguir. Percebam que usei "Parte 1" no título dessa postagem, justamente porque essa entrevista não foi concluída - ela foi interrompida quando estava mais ou menos na metade!

Mas Dedé percebeu meu interesse e garantiu que no futuro me concederia mais tempo para uma possível segunda parte. Enquanto isso, vejamos o que o carismático Manfried Sant'Anna comentou sobre amazonas alemãs, macacos, as lições que aprendeu com Ary Fernandes, J.B. Tanko e Adriano Stuart, a influência dos musicais de Hollywood nos seus filmes, e muito mais...

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FILMES PARA DOIDOS:Dedé, você estreou como diretor no "Atrapalhando a Suate"...
DEDÉ SANTANA (interrompendo): Na realidade, o primeiro filme que eu fiz se chamava "Os Desempregados", em preto-e-branco e tal. Esse foi o primeiro que escrevi e dirigi, e também é conhecido como "Os Irmãos Sem Coragem". Naquela época eu não podia colocar meu nome como diretor porque não tinha carteira.

FPD:Quem assinou a direção foi...?
DS: Foi o [Antonio Bonacin] Thomé, que era só o diretor de fotografia. Mas como eu não podia assinar como diretor, eu falei: "Olha, assina você, Thomé. Eu assino só como roteirista". Isso foi em mil novecentos e antigamente, eu nem lembro o ano mais! [Nota: o filme foi lançado em 1972]

FPD:E era um filme do Maloca e Bonitão.
DS: Isso, e quem fazia o Bonitão era meu irmão. Com esses personagens nós fizemos... Deixa eu ver... Esse "Os Desempregados", "Deu a Louca no Cangaço", "2000 Anos de Confusão" (ambos de 1969)...

FPD: E uma participação no "Se Meu Dólar Falasse" (1970), lembra?
DS: Isso, isso. Eu fazia várias participações nessa época, fiz até para filme estrangeiro.

FPD: O alemão aquele, "Lana, Rainha das Amazonas" (1964)!
DS (arregalando os olhos): Você já viu "Lana, Rainha das Amazonas"?

FPD:Sim pô, eu gosto muito desse filme! (risos)
DS: Por sinal, consegui uma cópia dele só agora, eu não tinha. Aí fui assistir e pensei comigo mesmo: "Belo canastrão esse cara!". (risos)

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FPD: Já que estamos falando nele, o que você acha de "Lana, Rainha das Amazonas"?
DS: Rapaz, para a época ele foi muito bem. Na Alemanha, todo filme que tratava de amazonas e essas coisas fazia sucesso, tanto é que esse filme estourou lá fora. Na Alemanha, fiquei sabendo que chegou a ter filas na porta dos cinemas para ver "Lana, Rainha das Amazonas"! (risos) Inclusive aquela menina... A loira... Uns dois anos depois ela trocou de nome e ficou muito famosa. Ela trocou para Maria Schell, e, pode ver, fez até filmes famosos. Mas naquela época ela ainda não era a Maria Schell. (risos)

[Nota: Dedé na verdade fez confusão, já que a atriz de "Lana, Rainha das Amazonas", chamada Catherine Schell, não tem nada a ver com Maria Schell, que é uma outra atriz. Em todo caso, Catherine também apareceu em filmes famosos, como "O Prisioneiro de Zenda" e "007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade".]

FPD: Também nesse filme o vilão é o Átila Iorio, que teve presença marcante na sua vida, já que foi seu sogro durante muitos anos e você até batizou um filho com o nome dele (Attila Iorio Santana, mais conhecido como Dedé Santana Jr.).
DS: Isso aí. Pô, o cara sabe tudo de mim! (risos) Eu não vou te dar meu livro! Você já sabe tudo, por que quer o meu livro?

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Átila Iorio (esq.) e um jovem Dedé em "Lana, Rainha das Amazonas"

[Nesse momento, Dedé pega uma sacola que estava do lado do sofá e tira dois exemplares do livro "Eu e Meus Amigos Trapalhões", que escreveu sobre sua carreira e vida religiosa, que deu de presente para mim e para meu irmão Rodrigo, que estava presente filmando a entrevista.]

FPD:Eu nem sabia que existia esse livro. É novo?
DS: Na verdade saiu agora, eu fiz ele mais para venda interna. Mas fala de todos os filmes, dos meus grandes amigos, tipo... Olha aqui... (mostra fotografia de Carlos Alberto de Nóbrega) O grande Carlos Alberto... E olha essa aqui... (pára numa foto dele com Renato Aragão, ambos jovens nos anos 1960) Olha só como era Dedé e Didi no começo! O Dedé tinha o corpo que o Didi tem hoje, e o Didi era ainda mais magro!

FPD:E o Didi tinha cabelo...
DS (apontando para a foto): Pô, olha só que cabelão! (passa para outra foto com Renato e Roberto Guilherme, o Sargento Pincel, nos anos 90) Essa aqui é em Portugal. Muita gente não sabe, mas quando pensavam que eu estava fora da televisão, na verdade eu estava em Portugal. O Didi continuou fazendo o Criança Esperança, mas eu saí. Pensavam que eu estava desempregado, mas na verdade estava em Portugal. Ficamos três para quatro anos em primeiro lugar de audiência lá, três anos batendo o primeiro lugar, e depois, lá pelos três anos e meio, caiu um pouco, mas ainda era uma audiência muito alta.


Abertura do programa "Os Trapalhões em Portugal"
 


FPD: Foi boa essa experiência em Portugal?
DS: Olha, foi a primeira vez que eu me senti artista na vida. (abre um sorrisão)

FPD: É mesmo?
DS: Foi. porque o tratamento lá era fora de série. Eu tinha o meu próprio camarim, meu próprio camareiro, meu próprio maquiador. Aí pensei: "Pô, agora sim tou me sentindo um artista!". Mas menos de um ano depois, a Globo já tinha mais estrutura que eles. Hoje a Globo... Rapaz, eu tenho muito orgulho de trabalhar com eles. Você vê, eu moro em Itajaí (Santa Catarina). Quando eles me contrataram, eu falei que queria continuar em Itajaí. Disseram que não tinha problema, e hoje me dão passagem de avião, hotel, carro à disposição e tudo mais quando tem gravação! Mas claro que nunca vou esquecer de outras emissoras que mataram a minha fome, como a Record, onde fiquei dois anos com "A Escolinha do Barulho", e o SBT, onde fiz "Dedé e o Comando Maluco" por quatro anos.

FPD: Voltando ao "Lana, Rainha das Amazonas", acho que foi um dos seus raros papéis sérios, não foi?
DS: Na verdade meu papel era meio comédia, porque o cara batia palmas para uma cobra e ela saía correndo! (risos)

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Capanga dos vilões, Dedé atira num montão de índios e acaba levando flechada nas costas em "Lana, Rainha das Amazonas"!

FPD:Ah, mas você é da turma dos bandidos, mata um montão de índios e até toma uma flechada nas costas!
DS:É mesmo, levo uma flechada! (risadas sonoras) Na realidade mesmo, eu me assustei quando fui no cinema na época. Não com a versão alemã, mas com a versão brasileira...

FPD:Por causa da quantidade de mulher pelada? (risos)
DS: Não, porque... Bom, para a época isso aí também foi uma coisa chocante. E o filme deu bilheteria no Brasil, talvez até por causa disso. (risos) Naquela época ainda era muito difícil ver mulher pelada no cinema. Mas o que aconteceu foi o seguinte: estou lá eu olhando o letreiro (créditos iniciais) do filme e aparece Christian Wolff, que era tipo o Kirk Douglas da Alemanha, depois Átila Iorio, depois o nome da menina, e depois Dedé Santana sozinho na tela, bem grande! Eu, no cinema, pensei: "Meu Deus do Céu, o que é isso?". Porque eu esperava meu nome bem pequeno. Já na versão alemã não, lá meu nome aparecia bem pequeno.

FPD: Como foi que você começou a dirigir?
DS: Rapaz, eu sempre tive o sonho de dirigir! Inclusive estudei para isso, fiz um curso com o Ary Fernandes (ao lado), que você sabe que foi o Vigilante Rodoviário. O Ary fazia um verdadeiro milagre naquela época porque se encarregava de tudo: ele escrevia, dirigia, montava... Ele fazia tudo! E o filme, na época, demorava uns dois ou três dias para ver depois que você filmava, mas mesmo assim ele conseguia fazer um episódio do Vigilante Rodoviário a cada 10 dias! E com cachorro! É muito difícil trabalhar com criança e qualquer animal, porque você não consegue dirigir, falar "Vai ali"e fazer ele ir. Enfim, fiz um curso com o Ary e, no primeiro dia, perguntei quanto ele iria me cobrar. Ele respondeu: "Olha Dedé, não vou te cobrar nada, mas você tem que vir lá em casa". Então eu acordava às quatro, cinco horas da manhã e ia para a casa dele. Geralmente, acabava tomando café na casa dele, oito da manhã, porque ele só saía de casa pelas onze. E o Ary se interessou tanto por mim que às vezes passava do horário. Tipo, "Te dou mais uma horinha", mas passávamos duas horas ali discutindo roteiro. Eu aprendi muito com ele, principalmente em matéria de enquadramentos. Outro grande professor meu foi o J.B. Tanko. Ele era um grande diretor, mas o que mais aprendi com ele foi como construir um roteiro. Começou assim: uma vez eu tive uma ideia de fazer um filme baseado em "O Planeta dos Macacos".

FPD:"O Trapalhão no Planalto dos Macacos" (1976)!
DS: Isso, "O Planalto dos Macacos". Eu vi o filme original no cinema e pensei:"Pô, a gente podia fazer uma sátira disso!". Um dia nós estávamos filmando numa gruta, não lembro para qual filme, e eu falei: "Seu Tanko, tive uma ideia para um filme que vai estourar na bilheteria! Vamos fazer uma sátira do Planeta dos Macacos". E ele: "Mas o quê? Pára com isso! Vamos continuar a filmagem!". Depois, na hora do almoço, ele me puxou para o lado e disse: "Dedê, vem aqui almoçar comigo e me fala mais desses macacos". Porque era assim que ele me chamava por causa do sotaque, de “Dedê”. [Nota: Tanko era originário da antiga Iugoslávia]. Aí o Tanko me levou para Muriqui, onde ele tinha uma casa de praia, e falou: "Dedê, te convidei para passar uns dias aqui comigo, mas quero que você faça aquele roteiro sobre o qual me falou". Respondi: "Mas como, Seu Tanko?". E ele repetiu:"Faça o roteiro". Eu insisti:"Mas como assim 'faça o roteiro'?". Aí ele me explicou: "Olha, os diálogos não precisa, você apenas construa o roteiro, faça uma sinopse". Depois disso eu não demorei, fiz praticamente de um dia para o outro, e entreguei. Ele leu, leu, e falou: "Não, não, tudo errado!". (risos)

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FPD:Qual era o problema?
DS: O próprio Tanko me explicou: "Você entra num ambiente fechado e não sai mais. Não é assim! O povo precisa respirar! Se você começar fechado, você abre depois, deixa o povo respirar! Acho melhor você fazer outro roteiro". Aí ele me deu mais alguma dicas, eu reescrevi tudo, o Tanko leu e falou: "Tá ótimo!". Tanto é que você vê, em "O Planato dos Macacos", o crédito "Colaboração no roteiro: Dedé Santana". Não só nesse, mas em outros também. E eu aprendi isso com ele. Agora, sobre humor no cinema, eu aprendi muito com o Adriano Stuart.

FPD:Adriano Stuart, grande mestre!
DS: Ele era ligeiro, inteligentíssimo, sabia tudo! Aí de repente ele mudava tudo, falava:"Olha, ao invés de abrir aqui, você abre ali. Aí o Didi vem por ali, você tropeça nele e cai aqui". Ele inventava tudo na hora! E o Adriano era um mestre mesmo, porque o pai dele era um mestre do humor, o Walter Stuart. Ele criou o primeiro circo de televisão, o Cirquinho Bombril. [Nota: Walter Stuart foi o idealizador e apresentador do programa semanal "Circo Bombril", da TV Tupi, em que artistas circenses se apresentavam ao vivo.] Eu aprendi muito com esses dois caras, o Tanko e o Adriano Stuart. Agora, o Tanko era muito corajoso... Eu dava muito palpite, até me chamava de palpiteiro. Teve uma vez que ele me chamou a atenção: "Ô Dedê, deixa eu fazer o meu filme? No dia que você fizer o seu filme pode falar, mas agora eu estou fazendo o meu!". Mas eu realmente dava muito palpite, chegava nele e dizia: "Ô Tanko, você não acha que essa cena devia ser de tal jeito?". Aí tinha uma coisa engraçada... Às vezes eu dizia "E se o senhor fizesse assim, assim e assim", e ele me cortava: "Dedê, faz favor! Me deixa trabalhar!". Aí quando ele começava a gravar, pensava um pouco e perguntava: "Ô Dedê, como você falou mesmo para fazer a cena?". (risos) Aí eu dizia: "Olha, Seu Tanko, eu faria assim, assim e assim". E ele: "Isso! Isso! Vamos fazer assim!". Acabava fazendo muita coisa do jeito que eu sugeria para ele. Na verdade, eu tinha mais prática em circo, em humor, em como cair. Tanto que em todos os filmes do Tanko, todas as lutas que você viu foram marcadas por mim, às vezes eu até dirigia.

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Foi Dedé quem sugeriu a aventura no "Planalto dos Macacos"

FPD:E nos primeiros filmes vocês mesmos faziam tudo, sem dublês.
DS: Isso. Hoje ficou fácil, hoje tem dublês e trazem até gente dos Estados Unidos para marcar as lutas. É tudo muito bem feito, claro, mas naquela época não tinha, e aí quem se defendia nesse setor era o "Dedê"! (risos) Mas voltando ao "Planalto dos Macacos": quando eu expliquei minha ideia para o Tanko, ele achou que as máscaras dos macacos seriam um problema. E realmente, na época, isso ficaria muito caro, porque o ator só podia usar uma vez, no fim da cena arrancava tudo e precisava construir outra depois. Então ele disse:"Olha Dedê, a tua ideia é boa, mas é impossível". Eu perguntei:"Mas, Seu Tanko, e se eu fizer a máscara?". Ele respondeu: "Bom, se você fizer a máscara, esse vai ser o nosso próximo filme!". (risos) Então eu comprei uma máscara de macaco, que na época estavam vendendo por causa do sucesso de "O Planeta dos Macacos", recortei ela toda e deixei só a parte do nariz e da boca. Colei ela, fiz uma maquiagem no resto do rosto e filmei com uma câmera Super 8, porque o Tanko queria ver na tela. Quando ele viu, ficou surpreso: "Mas como você consegue isso? Se eu chamar uma maquiadora, você explica tudo?". Aí ele chamou a melhor maquiadora do Rio e compramos uma outra máscara melhor, de borracha. A maquiadora viu e disse:"É possível, mas vamos ter que usar uma maquiagem especial para enrugar o resto do rosto que fica fora da máscara". Aí fizemos o filme, e foi um sucesso de bilheteria!

FPD:Você quase morreu durante as filmagens, né? [Dedé sofreu um acidente grave ao bater a motocicleta que pilotava contra um poste, onde bateu a cabeça. Precisou ficar internado durante um tempo e inclusive se submeter a cirurgia plástica no rosto antes de retornar ao set do filme].
DS: Deus me livre! E não só isso: eu inventei sarna para me coçar com aquela história de me transformar em macaco. Porque eu não gosto de dublê, nunca usei nos meus filmes...

FPD:Coisa de artista de circo.
DS:É... E o Tanko tinha me avisado para usar um dublê quando eu me transformava em macaco, mas eu insisti:"Não, Seu Tanko, quero fazer eu mesmo". E foi a maior mancada que eu dei! (risos) Eu botava a maquiagem às seis da manhã e tinha que ficar daquele jeito até a última cena! Na hora de comer, não tinha comida: era vitamina tomada com canudinho! Me arrependi e hoje acho que devia ter usado dublê mesmo, porque eu sabia que era eu ali, mas o público só vê um macaco!

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Dedé como "macaco": era ele mesmo por baixo da máscara!

FPD: Podia ser qualquer um!
DS: Sim! E "O Planalto dos Macacos" foi um filme que me deu muita alegria, mas também muito cansaço. Quando a gente bateu em 30 dias de filmagens eu já estava até meio traumatizado, rapaz! Já estava me dando pânico, não queria mais colocar aquela máscara! Fiquei num mau humor que eu mesmo não me aguentava, só de saber que tinha que colocar a máscara toda hora! Meu Deus do Céu! Mas no final deu tudo certo.

FPD:E por que você não dirigiu mais nada até "Atrapalhando a Suate" (1983)?
DS: Para falar a verdade, eu dirigi todas aquelas cenas de "Os Saltimbancos Trabalhões" (1981) nos Estados Unidos, no Universal Studios, com o tubarão e tal. E dirigi nos Estados Unidos sem falar inglês, eu tinha um intérprete, e acabou que me saí bem. O engraçado é que eu recebi uns três palpites muito bons lá, e me lembrei de quando eu fazia isso com o Tanko. (risos) Acontece que eles lá (se referindo à equipe norte-americana) são muito éticos para falar com o diretor, para eles o diretor é um deus e eles me tratavam como tal. Mas eu era muito popular, brincava com todo mundo, brincava de falar inglês e eles morriam de rir, e tal. E me lembro muito bem que eu fiz uma cena em que o Didi vinha lá de trás, no cenário do "Guerra nas Estrelas", e coloquei a câmera para pegar metade do boneco do "Guerra nas Estrelas" vindo por cima dele. Aí eu senti uma espécie de mal-estar na equipe... Não exatamente um mal-estar, um clima esquisito. Perguntei para o intérprete o que estava acontecendo, e ele disse: "Sabe o que é, aqui eles não dão nenhum palpite, mas o diretor de fotografia tem uma ideia e queria transmitir pra você". Eu pedi para ele contar sua ideia, e o cara me explicou que se eu colocasse a câmera embaixo, nos pés, o Didi apareceria pequeninho no fundo, mas conforme chegasse perto ele ia crescendo cada vez mais, e aí eu abria a câmera e ele apareceria bem no ombro do boneco. Na mesma hora eu disse:"Ótimo, vamos fazer assim!".

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Dedé filmou as cenas na Universal de "Os Saltimbancos Trapalhões"

FPD:Mas o pessoal estava com vergonha de sugerir para o diretor. (risos)
DS: Pois é, eles não queriam falar. Mas rapaz, esse diretor de fotografia acabou ficando meu melhor amigo lá, só porque eu aceitei a ideia dele. Outro palpite foi numa cena em que a gente saía correndo de dentro de um foguete. Eu gravei várias cenas e já ia terminar a filmagem, porque era quatro e meia da manhã e estava um frio danado. De novo, ele pediu para falar comigo, me deu uma dica para posicionar a câmera, e aquilo me salvou a sequência inteira!

FPD: A sua volta como diretor, em "Atrapalhando a Suate", foi por causa daquela separação do Renato dos demais Trapalhões...
DS (interrompendo): Na verdade não foram os Trapalhões que brigaram, foram as empresas, a Renato Aragão Produções e a Demuza. O irmão do Renato [Francisco Paulo Aragão] me ligou avisando que eles iam fazer um filme sem a gente, aquele do dinossauro Papangu ["O Trapalhão na Arca de Noé"]. E quando ele falou que iam fazer o filme sem a gente, na verdade eles já estavam até filmando! O Renato não quis se meter muito, era uma briga de empresas, e um dia o Mussum ligou para a minha casa e disse:"Ô compadre, você não falou que era diretor de cinema? Então vamos fazer o nosso filme!". Aí nós nos reunimos e foi quando surgiu a ideia do "Atrapalhando a Suate", porque tinha aquele seriado "SWAT" no ar, na Globo, e fazia muito sucesso.

[Nota: Aqui percebe-se que Dedé tentou minimizar a história, já que, na época, ele, Mussum e Zacarias realmente brigaram com Renato Aragão - ou seja, não foi apenas uma separação de "empresas". A reportagem abaixo, publicada pela Folha de São Paulo na época da produção de "Atrapalhando a Suate", traz inclusive declarações magoadas dos três Trapalhões contra seu então ex-líder Renato Aragão.]

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Reportagem sobre "Atrapalhando a Suate" na Folha de 09/10/83

FDP:Foi muito difícil escrever um roteiro para os três Trapalhões sem o Didi?
DS: Não, no dia seguinte eu já tinha toda a história do filme. Eu queria fazer uma cena meio trágica, com os heróis sendo expulsos da Suate e agindo por conta própria. [Nota: É bem possível que seja uma referência à "expulsão" do trio do novo filme de Renato Aragão na época.] Aí eu falei:"Mussum, vou precisar de umas músicas específicas para o filme, porque quero fazer várias cenas musicais no meio". E o Mussum disse: "A música pode deixar comigo!". E logo ele veio com aquela letra (cantarolando)"Tã-na-nam que a Suate chegou". Foi ele e alguns sambistas amigos dele, agora não me recordo o nome, mas eram famosos pra caramba! [Nota: Um dos compositores da trilha do filme foi Jorge Aragão.] Ele levou os caras na casa dele e fizeram tudo. Outra coisa sobre a trilha sonora é que o Mussum, certa vez, me contou uma história da infância dele sobre uma babá, e eu pedi para ele fazer uma outra música em homenagem às babás. Também tive a ajuda de um grande amigo meu, o Victor [Lustosa] que fez todos os filmes dos Trapalhões e é meu compadre, sou padrinho da filha dele. A gente era muito amigo e eu o convidei, o Victor arriscou a carreira e largou tudo para ficar comigo!

FPD:Ele também ajudou você a dirigir, não foi?
DS: Ajudou, tanto no "Suate" quanto no "Mágico de Oróz" (1984).

FPD: Que foram os únicos dois filmes que ele dirigiu...
DS: Não, ele fez... (pensando) É, acho que foram só esses dois mesmo! Mas ele escreveu muitos filmes para a gente, e nesse momento inclusive está escrevendo um roteiro para mim. Eu tenho que levar ele para Santa Catarina, porque a gente trabalha muito rápido eu e ele. É uma coisa incrível, cara! Eu visualizo a cena e conto para ele representando, e ele vai anotando e assimila muito bem. Ele é ótimo! Há pouco tempo ele fez um roteiro para um filme sobre uma mulher muito famosa de Santa Catarina, não lembro o nome, mas é um fato histórico bem conhecido. E o projeto só não foi aprovado porque uns caras passaram na frente e fizeram um documentário sobre o mesmo assunto. Eu ia aparecer no filme, ia fazer um papel lindo, de marinheiro, acho que seria meu primeiro papel sério de verdade no cinema, mas não deu.

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FPD:E o que você acha do "Atrapalhando a Suate", Dedé?
DS: Olha... Bom, você sabe que todo filme pertence à sua época, e para aquela época ele foi muito bem feito. A gente não tinha recursos, usamos uma câmera só, e eu cismava em fazer umas cenas difíceis. Dizia pro Victor: "Quero fazer um cara andando num cabo de aço com uma moto!". E ele:"Não dá, não temos trucagens". Aí eu respondia: "Mas tem um número de circo que o cara faz isso, eu vou buscá-lo!". O cara que fazia o macaco também era de circo, todo mundo jura que é um macaco de verdade, mas não é. Fui catar esse cara também. E eu tinha um sonho, quando era pequeno queria ser escoteiro, e o Zacarias parece que até foi escoteiro. Então aproveitei e coloquei isso no filme, aquele final com os escoteiros bombardeando os vilões com farinha, e a minha sorte é que foi tudo aprovado pelo Mussum e pelo Zacarias. Acho que deu muito certo, graças a Deus. A parte musical ficou lindíssima, e teve uma música que, mais tarde, nós gravamos com todos os Trapalhões, e foi a única música do quarteto que tocou no rádio direto. Sabe aquela (cantarolando)"Todo mundo deve entrar na dança...".

FPD:Caso as empresas não tivessem voltado, a Demuza tinha outros projetos em vista? Vocês chegaram a falar sobre futuros filmes sem o Didi, ou não deu tempo?
DS: Na realidade, eu não queria! Eu fui muito contra isso porque esperava... Eu queria voltar. Não adianta... O Boni inclusive me falou naquela época... Minto, foi o Roberto Marinho quem falou, ele nos chamou e disse: "Vocês são a galinha dos ovos de ouro, por que vão matar a galinha? Vocês têm que voltar". E eu provoquei muito essa volta através de um grande amigo, o Beto Carrero, que era meu amigo de infância. Eu o conheci com 17 anos de idade. Ele apareceu no circo do meu pai querendo ser artista, dizia:"Eu quero ser o Cowboy Brasileiro!". E meu pai brincava: "Olha, se for cowboy não é brasileiro! Para ser brasileiro, você precisa ser vaqueiro, boiadeiro...". (risos) Mas não adiantou, ele ficou nessa de "Cowboy Brasileiro" e foi! Anos depois, eu convidei o Beto para fazer um dos meus filmes, aquele com a Xuxa...

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Renato Aragão e Xuxa no "Reino da Fantasia"

FPD:"Os Trapalhões no Reino da Fantasia" (1985).
DS: Sim, que foi um filme muito difícil para filmar, porque era difícil de reunir todo mundo naquela época. Então eu tive que fazer muito plano fechado dos atores sozinhos e depois, na montagem, intercalar para parecer que eles estavam todos juntos conversando, quando na verdade foi tudo filmado separado!

FPD:Sei como é, eu faço muito dessas malandragens... (risos) Mas depois do "Atrapalhando a Suate" os Trapalhões voltaram e você virou o diretor oficial dos filmes do quarteto durante alguns anos. Era muito difícil dirigir o Renato?
DS: Na verdade, eu sempre digo que os Trapalhões não são dirigidos, eles são marcados. Como é que você vai dirigir os Trapalhões? Era meio difícil... Então funcionava mais na base de dicas, uma coisa que eu aprendi com o Tanko. Por exemplo, eu tenho esse ambiente aqui. O que eu preciso filmar aqui? (Gesticulando) Bom, o Mussum vem dali, o Didi surge pelo teto e cai aqui, eu venho por baixo e o Zacarias vem de lá... Então eu não dirigia, eu explicava a cena e cada um fazia do seu jeito. Eu não ia mandar em como o Mussum tinha que falar, tipo "Chega aqui e fala 'tranquilis'", ou "Didi, você fala 'psit'". Não, eu apenas indicava a cena. Como na Renato Aragão Produções eu tinha mais recursos, várias vezes trabalhei com duas câmeras: uma ficava no geral e a outra cercando os atores, o que era muito bom. Eu dizia para esse segundo câmera:"Fica na cara do Renato, porque ele é muito imprevisível. Agora fica no Mussum". Inclusive no "Reino da Fantasia" teve cenas que filmei com três câmeras para não precisar refilmar: coloquei uma no plano geral, outra em plano médio e a terceira só em detalhes. O pessoal me dizia: "Mas Dedé, você não vai conseguir montar isso depois". Mas eu consegui fazer! Todas aquelas cenas de teatro do "Reino da Fantasia" foram feitas numa batida só, e depois eu mesmo montei na moviola, olhava as cenas e dizia:"Peraí, eu sei que tem um plano fechado disso que dá para aproveitar". Hoje é tudo no computador, mas naquela época era na moviola, filminho por filminho. (pausa) Dos filmes que eu dirigi, você sabe qual é a minha menina dos olhos?

FPD: "A Filha dos Trapalhões" (1984).
DS: "A Filha dos Trapalhões"! Eu adoro esse filme! Agora, "O Mágico de Oróz" acho que foi um filme que eu fiz muito bem, consegui transmitir bem até na figuração, e isso eu agradeço ao meu compadre Victor, porque ele me ajudou muito a escolher os figurantes. As cenas musicais também são lindas. Bom, você viu que todo filme meu tem musical, né?

FPD:Por falar nisso, Dedé, quais são as suas influências cinematográficas?
DS: Eu via muito filme musical americano. Posso até te dizer: "Sete Noivas para Sete Irmãos" (1954), se contar, acho que vi umas 12 vezes...

FPD:Por isso que depois vocês fizeram "O Casamentos dos Trapalhões" (1988)?
DS: Isso mesmo. E "Amor, Sublime Amor" (1961) eu perdi as contas de quantas vezes vi. (começa a cantarolar a música-tema do filme).


E foi justamente nesse momento que a equipe do circo interrompeu a entrevista, dizendo que Dedé precisava se preparar para a apresentação. Após uma rápida sessão de autógrafos - no meu pôster de “Atrapalhando a Suate” e na capa do LP de “Os Trapalhões na Serra Pelada” do meu irmão -, e de um elogio recebido do eterno Trapalhão pela minha curiosidade sobre a sua carreira de diretor, me despeço com a promessa de voltar a incomodá-lo num futuro próximo, para a já anunciada Parte 2 dessa entrevista.

Esperemos, portanto, que o reencontro seja breve, pois Dedé Santana é um artista com muitas histórias para contar, e que infelizmente poucos jornalistas e pesquisadores parecem dispostos a ouvir, já que sempre lhe perguntam as mesmas coisas de novo, de novo, de novo e de novo...

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Eu e meu irmão Rodrigo com Dedé no picadeiro do circo!

ROBO VAMPIRE (1988)

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Tem algo de podre no reino da Dinamarca quando o cineasta brasileiro José Padilha, conhecido por dois filmes violentos como "Tropa de Elite" 1 e 2, vai para a gringa dirigir o remake de "Robocop" e transforma um dos melhores filmes de ação dos anos 1980 (corrigindo: um dos melhores FILMES dos anos 1980 PONTO!) numa aventura infanto-juvenil quase censura livre. E, para piorar, ainda troca o homem transformado em máquina que era o herói do original por um Jiban pós-moderno.

Esqueçamos, portanto, do "Robocó" do Padilha, que merece o boicote e o esquecimento, e nos concentremos numa outra tentativa de faturar em cima do "Robocop" de Paul Verhoeven. Uma tentativa feita na Ásia, bem longe da Hollywood de Verhoeven e Padilha, com muitos milhões de dólares a menos (ou TODOS os milhões de dólares a menos) e sem um pingo de glamour.

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É claro que estou falando do absurdamente hilário ROBO VAMPIRE, um daqueles filmes que redefinem o sentido da palavra "ruim". E que, justamente por isso, é divertidíssimo e inesquecível no mesmo nível de um "Star Wars Turco" ou "As Aventuras de Sergio Mallandro", e continuará sendo comentado e discutido muito tempo depois da refilmagem do Padilha cair no esquecimento.

Produzido às pressas e lançado em 1988 (ou assim diz a lenda) para pegar carona no sucesso da obra de Verhoeven (que é de 1987), ROBO VAMPIRE é mais um daqueles esquizofrênicos "filmes de colagem" realizados por picaretas de Hong-Kong para faturar uma graninha no mercado ocidental de vídeo, que estava bombando naquela época e aceitava todo tipo de produção de fundo de quintal, sem nenhum preconceito.

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No começo da década de 80, dois espertalhões chamados Joseph Lai e Tomas Tang descobriram que podiam fazer uma boa grana adquirindo os direitos de velhos e obscuros filmes chineses, taiwaneses, tailandeses, filipinos e sul-coreanos para remontá-los e redublá-los especialmente para o mercado norte-americano.

Aventuras de artes marciais com ninjas estavam na moda no Ocidente graças ao sucesso de "Ninja - A Máquina Assassina". Assim, esses malucos filmavam de 15 a 30 minutos de cenas novas com ninjas e as inseriam nessas obras já prontas, dando origem a "filmes-Frankenstein" que geralmente encontravam o seu público graças a títulos escalafobéticos como "Diamond Ninja Force". E os caras eram tão malandros que chegaram a transformar até velhos dramalhões sobre doença terminal na família em aventuras com ninjas!

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Apesar de usarem as mesmas táticas picaretas de produção cinematográfica, Lai e Tang começaram como sócios e depois se tornaram rivais: o primeiro fundou a IFD Films and Arts e produziu aquelas insanas aventuras de ninjas dirigidas pelo Ed Wood asiático, Godfrey Ho (saiba mais lendo as resenhas de "Ninja Thunderbolt" e "Ninja - O Protetor").

Já Tang abriu sua própria empresa, a Filmark International, e estava tão metido em negócios "suspeitos" que até hoje as informações sobre as produções da empresa e sobre o próprio Tang são bastante nebulosas e incompletas! Digamos apenas que a maioria dos filmes produzidos pela Filmark sequer tem registro no Internet Movie DataBase, e alguns deles saíram em vídeo apenas em pequenos países, sendo resgatados e redescobertos somente agora graças aos sites de compartilhamento de filmes.

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O próprio ROBO VAMPIRE é um verdadeiro enigma, e isso mais de 25 anos depois de seu lançamento: a direção do negócio, assinada com o pseudônimo "Joe Livingstone", até hoje é atribuída ao pobre Godfrey Ho, que já jurou de pés juntos que nunca trabalhou para a Filmark (até o IMDB caiu na conversa). Acredita-se que quem "dirigiu"ROBO VAMPIRE foi o próprio Tang, pelo menos até segunda ordem.

(Aliás, vale ressaltar que muita gente jura que Ho e Tang são a mesma pessoa, uma lenda urbana que já foi desmentida, mas que ainda gera todo tipo de teorias conspiratórias.)

E enquanto a IFD de Lai e Ho faturava seu ganha-pão com essa malandragem de inserir cenas com ninjas em dramalhões e policiais baratos já prontos, Tang resolveu dar um tempo nos guerreiros mascarados para investir num outro filão de sucesso na época: os filmes sobre "jiangshi", os vampiros chineses.

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Completamente diferentes daquela nossa noção clássica de vampiros (à la Drácula de Bela Lugosi ou Christopher Lee), os "jiangshi" se caracterizam principalmente pela forma de locomoção, que é feita aos pulinhos, como coelhos, e com os braços esticados para a frente, como sonâmbulos, coisa que os torna monstros mais risíveis do que propriamente ameaçadores!

Mesmo assim, as criaturas estavam na moda no cinema asiático de então graças à comédia de horror "Mr. Vampire" (1985), dirigida por Ricky Lau e produzida por Sammo Hung, que deu origem a diversas sequências entre 1986-1992 e, claro, várias imitações. Por isso, Tang achou melhor investir nos vampiros saltitantes para se diferenciar da companhia rival e seus ninjas de uniforme colorido. Mas "Robocop" também estava na moda, então...

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ROBO VAMPIRE começa com dois soldados ocidentais (calçando All Stars ao invés de botas ou coturnos!) escoltando um prisioneiro oriental pela selva. Sem nenhuma explicação lógica, o trio acaba no meio de um cemitério e resolve abrir os caixões - que, também sem nenhuma explicação lógica, não estão enterrados, mas dispostos tranquilamente por toda parte!

De dentro de um deles pulam apenas cobras (e "pulam" mesmo, atiradas por algum contra-regra no interior do caixão!), mas do outro sai um dos terríveis vampiros saltitantes, que mata os dois soldados - o primeiro é estrangulado de maneira caricatural, e o segundo tem um naco de carne crua arrancado do pescoço com uma dentada, no único momento em que os vampiros do filme agem como os vampiros que conhecemos!

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Corta para o título do filme e os créditos iniciais, um festival de nomes em inglês que, na verdade, são pseudônimos (tem até uma "Nian Watts" que deve ser parente distante da Naomi Watts!). Se fizer uma rápida pesquisa no IMDB, você descobre que nenhum desses "nomes em inglês" aparece em outro filme além de ROBO VAMPIRE - ou talvez até apareceram, mas com outro pseudônimo.

O diretor, conforme já vimos, está creditado como "Joe Livingstone", e o roteirista como "William Palmer", mas não duvide se ambos forem o famigerado Tomas Tang, escondido atrás de pseudônimos diferentes para fazer parecer que sua equipe é muito maior do que realmente era!

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Quando o filme recomeça ficamos sabendo, através de diálogos expositivos, que um agente da Narcóticos chamado Tom (interpretado por ator ocidental não-identificado) está dando grandes dores de cabeça a uma quadrilha internacional de traficantes de drogas - ele é o "Alex Murphy" da história. Por isso, o chefão resolve que a melhor maneira de se livrar do herói é treinando vampiros para liquidá-lo.

Opa, peraí... Como é que é? Sim, eu sei que parece ridículo lendo assim, e é! Tanto que, nesse momento, dois capangas olham um para o outro com aquela expressão de"Que porra é essa?" (ou "WTF?") que o próprio espectador deve estar manifestando na mesma hora. Mas ninguém questiona as ordens do chefão, claro! O negócio agora é arrumar os vampiros, por mais esdrúxulo que isso soe!

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Digamos apenas que nem é uma tarefa tão difícil: os traficantes contratam um Monge Taoísta (Suen Kwok-Ming) para criar e "controlar" os vampiros-coelhinhos, de maneira a usá-los contra seus inimigos. É óbvio que crucifixos e água benta não funcionam contra vampiros orientais, que têm uma mitologia completamente diferente: colar um papel com um encantamento escrito sobre os olhos das criaturas é o suficiente para dominá-las, por exemplo!

Por outro lado, os vampirinhos saltitantes têm várias cartas na manga que os tornam mais letais do que os Dráculas e Nosferatus que conhecemos, tipo as habilidades em artes marciais e o poder de teletransporte (sem virar morcego!), de cuspir gás venenoso (!!!) e de disparar mísseis pelas mãos (sim, é sério!).

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Aí as coisas começam a ficar (mais) esquisitas, para não dizer insanas. Primeiro, o tal Monge Taoísta cria uma nova espécie de vampiro, um "Super Vampiro" chamado... Peter (?!?!), que na verdade é apenas um sujeito com uma máscara de gorila! O problema é que o finado Peter que foi trazido de volta à vida pelo vilão era o amado de Christine, uma Bruxa Malvada (?!?!), que está furiosa por ter perdido seu amor pelo resto da eternidade.

Felizmente, o Monge resolve o problema celebrando o "casamento" (?!?!) do seu Super Vampiro Símio com a Bruxa Malvada (que veste uma roupa transparente que revela suas peitolas). Desde que, claro, o casal obedeça às suas ordens. Sei lá, não parece muito justo para mim. E sequer tem a menor lógica. Mas não se esforce muito para entender, a coisa só piora a partir daqui!

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E onde entra o "Robocop" ou coisa que o valha nessa história toda? Calma, querido leitor... A coisa só se encaminha para o plágio do filme do Verhoeven lá pelos 25 minutos do primeiro tempo, quando, durante uma batida, o herói Tom (usando um ridículo lencinho vermelho amarrado no pescoço!) e seus homens são obrigados a enfrentar os capangas vampiros pela primeira vez.

Todos os homens são mortos e o próprio Tom é atingido por uma das rajadas explosivas disparadas pelos vampiros. O ator é substituído na hora H por um boneco bastante convincente, como você pode conferir nas imagens abaixo, numa trucagem tão realista que por breves instantes eu temi pela integridade física do ator!

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E apesar do boneco ser claramente explodido em pedacinhos, no take seguinte vemos Tom caindo estatelado no chão, com um sanguinho pouco convincente jogado na cara (nem tiveram o trabalho de chamuscar a roupa do cara!)

Levado para o hospital, o nobre herói morre, provavelmente pelas condições indigentes da sala de cirurgia, que mais parece uma garagem ou depósito. Ou talvez por causa dos equipamentos utilizados na operação, como um trombolho com símbolos de "mais" e "menos" piscando que é o máximo de tecnologia que vemos no "laboratório" ("mais" provavelmente significa que o paciente está melhorando, e "menos" significa que está indo para o beleléu, mas também pode ser o contrário!).

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É quando um cientista barbudo e anônimo, o Miguel Ferrer de ROBO VAMPIRE, resolve transformar Murphy... Err... Tom em cyborg. Segue-se um diálogo hilário do cientista com seu comandante:

- Já que Tom está morto, pretendo usar seu corpo para criar um robô-andróide, Sr. Glen. Eu gostaria muito que você aprovasse o meu pedido.
- Você tem certeza que será bem-sucedido?
- Aham.
- Certo, seu pedido está aprovado.


(Ah, como seria bom se todas as coisas importantes fossem resolvidas/decididas assim, sem nenhuma burocracia, também na vida real...)

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Depois de uma montagem de cenas de "cirurgia" que dura, quando muito, uns 20 segundos, o Robocop... Err... "Robo Warrior" está prontinho e completamente funcional! Mas, visualmente, parece mais um espantalho inspirado no visual do Robocop do que um robô-andróide, cyborg ou coisa que o valha: Tang e sua trupe só tinham dinheiro para colocar um pobre-coitado andando para lá e para cá com uma roupa de nylon pintada de spray prateado, um capacete de plástico com uma velha antena de rádio acoplada e óculos de mergulhador (ou soldador), numa fantasia tão vagabunda que provocaria gargalhadas até num baile de carnaval infantil!

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E não basta apenas a roupa ser pobre, os acabamentos também são grosseiros, com remendos e costuras visíveis num traje que deveria ser de metal ou aço. Já o "capacete"é preso à cabeça do ator com uma fivela por baixo do queixo, e não com parafusos direto no crânio, como acontecia com o pobre Murphy em "Robocop"!

Felizmente, os exagerados efeitos sonoros simulam os "sons metálicos" emitidos por um robô, e isso, somado aos movimentos "duros" do ator que interpreta o Robo Warrior, passa pelo menos uma mínima ideia de que aquela espantalho ambulante com roupa de nylon é um ser biônico! Aí o Robo Warrior ganha uma metranca de tamanho descomunal e está pronto para o batismo de fogo e para se vingar dos traficantes e vampiros que provocaram sua morte, certo? Bem... Mais ou menos!

Acontece que Tang tinha que misturar cenas de um filme antigo já pronto para economizar dinheiro, lembra? Ao invés de simplificar e escolher uma produção que tivesse algo a ver com robôs e vampiros, Tang optou por uma velha aventura tailandesa chamada "ผ่าโลกันต์" (sem título ocidental; veja o pôster ao lado), estrelada pelo "Stallone tailandês" Sorapong Chatri - um super-astro praticamente desconhecido no Ocidente, mas que lá por aquelas bandas já apareceu em mais de 500 filmes!!!

Mas como inserir essas cenas antigas na aventura nova? Bem, Tang simplesmente inventou uma trama paralela em que Sophie, uma agente da Narcóticos, é capturada por outra quadrilha de traficantes e levada para o meio da selva, e Ray, o personagem de Sorapong Chatri, é convocado para detonar os vilões e resgatá-la (imagens abaixo). Óbvio que o Robo Warrior seria muito mais eficiente nesta missão, mas não se esqueça de que estamos falando de cenas de filmes diferentes, e por isso seus personagens não podem se cruzar!

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A partir de então, ROBO VAMPIRE se divide entre essas cenas da velha aventura tailandesa (que são razoavelmente bem feitas e garantem a cota de tiros e explosões que Tang não tinha dinheiro para filmar por conta própria) e as "cenas novas", que mostram o Robo Warrior enfrentando os vampiros comandados pelos traficantes.

O problema básico disso, além das duas narrativas que correm em paralelo e nunca se "encontram" (algo que já acontecia nas aventuras de ninjas de Lai e Ho), é que não faz o menor sentido colocar um robô indestrutível para enfrentar vampiros que também são indestrutíveis às armas "convencionais" utilizadas pelo herói, ao invés de traficantes e bandidos "humanos"! Isso é tão inútil quanto querer filmar um duelo de armas de fogo entre o Super-Homem e o Incrível Hulk, já que ambos são totalmente imunes aos tiros!

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Assim, eu não sei exatamente o que o roteirista tinha na cabeça quando bolou esse enredo insano, mas como o robô não pode ser vampirizado ou sequer arranhado pelas garras e presas dos vampiros, e nem estes podem ser afetados pelos tiros disparados às centenas pelo herói, os esforços de herói e vilões são completamente inúteis!

(Claro que, no final, os tiros do Robo Warrior misteriosamente começam a fazer efeito e destruir os vampiros, algo que o filme nunca se preocupa em justificar, mas que lembra aqueles velhos jogos de videogame em que você tinha que atingir o chefão da fase 10 ou 20 vezes para conseguir destruí-lo!)

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ROBO VAMPIRE é uma daquelas atrocidades que só podem ser curtidas e analisadas como comédias involuntárias. Nesse caso, até mesmo as cenas que não são responsabilidade direta de Tang, aquelas reaproveitadas do filme tailandês, têm sua cota de podreira, incluindo um boi verdadeiro sendo cortado para a colocação de pacotes de cocaína no seu interior, e a cândida cena em que o astro Sorapong Chatri espia uma garota tomando banho e solta a pérola: "Que bela visão! Você devia se banhar com mais frequência!". (Detalhe: ele pega a moça com esse papinho, então talvez valha a pena tentar na vida real.)

Num dos momentos mais engraçados dessas cenas reaproveitadas, uma garota se atira pela janela de uma cabana e, no take seguinte, é substituída por um dublê homem mais do que perceptível, até porque usa uma inexplicável peruca cinza (a atriz que o dublê deveria estar substituindo é loira)!!!

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E se não bastasse o Robocop de quinta categoria provocar risadas toda vez que aparece, graças à pobreza do figurino e aos exagerados efeitos sonoros "robóticos", Tang nunca consegue aproveitar seu herói de forma convincente, já que ele não consegue lutar debaixo daquela roupa tosca e nem tem muito a fazer disparando tiros contra vampiros que são imunes a eles!

Felizmente, na cena final, o Robo Warrior subitamente se lembra que sua metranca também funciona como lança-chamas (hein?), e usa o fogo para destruir o Super Vampiro Símio Peter - que, por limitações orçamentárias, neste momento é substituído por uma simples camisa (sem ninguém dentro, nem mesmo um boneco!) em chamas, e presa por um fio que também acaba pegando fogo e ficando visível, levando o espectador às lágrimas de tanto rir (em algo que lembra o impagável duelo final da aventura turca "Death Warrior").

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Tudo considerado, ROBO VAMPIRE não faz sentido algum, e é aí que reside grande parte da sua graça. No seu esdrúxulo micro-cosmo, traficantes podem contratar um monge para ressuscitar vampiros que são usados como capangas, enquanto um agente morto pode ser transformado em robô indestrutível em questão de segundos - e o fato de terem esperado que o herói morresse para criar o "Robo Warrior", ao invés de reaproveitar outro dos diversos agentes assassinados até então, é uma simples formalidade nunca justificada.

ROBO VAMPIRE é, principalmente, uma aventura imbecil, em que herói e vilões são praticamente indestrutíveis e podem ficar brigando eternamente sem que o conflito tenha fim - a não ser quando o diretor decide que está na hora de terminar o filme. Obviamente, não há nenhum espaço para abordar a "desumanização" do herói, como Verhoeven fez, e nem mesmo a ironia do confronto "ciência x sobrenatural" entre robôs e vampiros. O que importa, aqui, é empilhar as cenas de pancadaria, tiroteios e explosões que o público das videolocadoras esperava ao ver a capinha da fita, mesmo que o resultado seja completamente nonsense, como você pode conferir no vídeo abaixo:

Robo Warrior vs. Vampiros




Por sinal, algumas cenas de ação são até passáveis (muito mais que as lutas entre ninjas da produtora concorrente), principalmente quando os vampiros demonstram suas habilidades em artes marciais naquele velho esquema "atores pendurados por fios". Outras são simplesmente psicodélicas, como o confronto entre o Robo Warrior e Christine, a Bruxa Malvada - não é todo dia que você vê um Robocop genérico tomando porrada de uma bruxa voadora!

Já as cenas de tiros e explosões filmadas por Tang (não as do filme tailandês reaproveitado por ele) são bem precárias, com armas visivelmente falsas (parecem até de brinquedo!) e tiros de festim pouco convincentes, além do já citado uso de bonecos toscos entre takes. Lá pelas tantas, quando o Robo Warrior é atingido por tiro de bazuca, novamente o ator é substituído pelo que parece um espantalho envolto em papel laminado (abaixo)! Eu já vi produções semi-amadoras, filmadas na garagem da casa do cara, com efeitos e trucagens melhores do que essas de ROBO VAMPIRE!

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Embora seja inacreditavelmente ruim (não tenha nenhuma dúvida sobre isso), ROBO VAMPIRE ainda consegue se manter um degrau acima de outras "colagens" feitas pela IDF e pela Filmark, principalmente pelo inusitado da sua mistura de temas e gêneros. Lembre-se que o que temos aqui é uma aventura de ficção científica e horror que joga no mesmo balaio um cyborg, traficantes de drogas, vampiros, um Super Vampiro com cara de gorila, uma Bruxa apaixonada por ele e ainda soldados "humanos" enfrentando traficantes na selva (nas cenas reaproveitadas do filme tailandês), e até dois alívios cômicos, interpretados por Sun Chien e Donald Kong To. Esperar um mínimo de coerência ou mesmo de sentido desse avacalhado coquetel de situações seria esperar demais, e tudo que o espectador pode fazer é sentar no sofá, desligar o cérebro e praticamente sentir seus neurônios sendo destruídos por Tang e sua obra.

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Infelizmente, ROBO VAMPIRE não conquistou a mesma popularidade que outras tosquices do gênero, como o já citado "Star Wars Turco", e é uma pérola obscura mais conhecida de nome - principalmente graças ao seu impagável pôster, que traz a figura do Robocop "oficial" sem nenhum medo de processo! - do que propriamente vista ou analisada (e isso que chegou a sair em VHS no Brasil, pela saudosa Poderosa Filmes).

Tang até tentou reaproveitar seu Robo Warrior em um outro filme, o ainda mais inacreditável "Counter Destroyer" (1989), mas ali o robô faz apenas uma participação especial (o diretor deve ter encontrado a fantasia numa caixa na sua garagem e resolveu usar de novo).

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É uma pena, porque o personagem tinha potencial. Afinal, depois de enfrentar traficantes de drogas e vampiros na sua aventura de estreia, o céu é o limite quando pensamos em futuras aventuras. Em "Robo Vampire 2", o herói poderia lutar contra terroristas iranianos que na verdade são lobisomens à procura da cidade perdida de Atlântida povoada por marcianos.

Ou tudo isso trocado. No fim, não faz nenhuma diferença mesmo...

PS: Como eu disse nos parágrafos iniciais, a vida de Tomas Tang é um completo mistério, bem como seu paradeiro. Nos anos 1990, saiu a notícia de que o produtor havia morrido no incêndio do prédio da sua produtora, mas há quem argumente que Tang estava atolado em problemas legais até o pescoço e simplesmente simulou a própria morte, a exemplo do que fez recentemente o brasileiro Sady Baby. Enfim, sua biografia é tão cheia de lacunas que certos pesquisadores defendem que nunca existiu um "Tomas Tang" de verdade: este seria o nome usado por diferentes cineastas para assinar produções vagabundas da qual não tinham nenhum orgulho, tipo um "Alan Smithee" asiático. Confesso que já nem sei mais em qual versão acreditar, mas a obscura trajetória do misterioso Tomas Tang certamente renderia um belo livro, ou pelo menos um documentário tão doido quanto os filmes que ele produzia!


Veja ROBO VAMPIRE na íntegra!



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Robo Vampire (1988, Hong-Kong)
Direção: Tomas Tang (provavelmente)
Elenco: Um monte de desconhecidos escondidos por trás
de pseudônimos em inglês, o que torna sua identificação
muito difícil mais de 25 anos depois!

CYBORG COP - A GUERRA DO NARCOTRÁFICO (1993)

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(Sim, esta é mais uma postagem da Série "Preferi rever isso do que ver o remake de Robocop". Desculpa aí, Padilhão!)


Antes de produzir blockbusters como "Invasão à Casa Branca", "Os Mercenários" e o remake de "Conan", com orçamentos entre 70 e 100 milhões de dólares, a companhia Nu Image Films tinha propósitos, digamos, mais humildes. Quando foi fundada, no começo dos anos 1990, ela basicamente buscava suprir uma lacuna surgida com a falência da mítica Cannon Films: produzir filmes de ação classe B (às vezes até C) para alimentar as videolocadoras da época, ávidas principalmente por produções de pancadaria.

Pois a Nu Image preencheu o espaço deixado pela Cannon com bastante eficiência e, pelo menos duas décadas antes de suas produções mais dinheirudas, lançou franquias populares estreladas por um star system próprio, formado por sub-Van Dammes ou sub-Steven Seagals tipo Jerry Trimble, Bryan Genesse, Joe Lara, Frank Zagarino e David Bradley. E foi este último que protagonizou uma das primeiras e mais bem-sucedidas séries da produtora, iniciada em 1993 com CYBORG COP.

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Como o título original já entrega, CYBORG COP tenta faturar seus centavos na onda da "Robocopmania". Porque apesar de o filme original de Paul Verhoeven ser de 1987, era nos anos 90 que o personagem Robocop estava bombando graças às duas continuações (lançadas em 1990 e 1993), que geraram desenho animado para a TV, seriado, jogos de videogame, histórias em quadrinhos (publicadas pela Marvel!) e todo tipo de produto com a imagem do policial enlatado.

Só que a relação desta produção barateira da Nu Image com "Robocop" fica praticamente só no título, uma cópia descarada que apenas substitui o "Robot" pelo "Cyborg" (milagre nunca terem feito um "Android Cop" também). Já no filme em si não existe nenhum policial transformado em robô para combater o crime ou coisa que o valha, como o título faz supor.

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Quer dizer, até tem um policial que vira robô (ou cyborg!), mas ele sequer tem participação direta na trama, que bebe muito mais da fonte de "O Exterminador do Futuro" e seus cyborgs malvados (a Parte 2 tinha saído dois anos antes, em 1991) do que na de "Robocop". Não por acaso, o projeto originalmente tinha outro nome: "Cyborg Ninja" (!!!), talvez pelo fato de o diretor ser o mesmo Sam Firstenberg do sucesso "American Ninja"!

(Pode-se dizer que dessa vez os distribuidores brasileiros foram muito mais honestos, já que mandaram CYBORG COP para as locadoras com um subtítulo em português que tem muito mais a ver com o assunto do filme: "A Guerra do Narcotráfico"!)

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A escolha de Firstenberg para dirigir CYBORG COP confirma as pretensões do pessoal da Nu Image de ser a "Nova Cannon". Afinal, Sam foi um dos diretores que deu lucro na lendária produtora de Golan e Globus, assinando sucessos como o já citado "American Ninja" e também os ótimos "A Vingança do Ninja", "Ninja 3 - A Dominação" e "American Samurai". Não seria exagero dizer que o sujeito deu mais grana na Cannon do que nomes muito mais badalados cujos projetos naufragaram nas bilheterias - tipo Tobe Hooper.

Já para o papel de herói escalaram o texano David Bradley, um astro de ação da terceira divisão que nunca fez muito sucesso, embora seja melhor que gente que chegou bem longe. E pelo menos sabia lutar de verdade, ao contrário de caras tipo Michael Dudikoff - que, quando estrelou "American Ninja", não sabia patavinas de artes marciais. Bradley, por outro lado, treinava karate e aikido, e essas habilidades aparecem em cada cena de luta do filme.

(Ironicamente, já que citamos o nome dele, Bradley substituiu Dudikoff na série "American Ninja", estrelando as partes 3 a 5 no lugar do loirinho!)

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Com roteiro de Greg Latter e Glen A. Bruce, CYBORG COP começa com dois agentes do D.E.A. (a Divisão de Narcóticos norte-americana) lidando com um maluco que ameaça uma refém dentro de um depósito abandonado. E eu não sei se faz parte da jurisdição do D.E.A. resolver problemas de malucos com reféns, mas lá estão os irmãos Ryan, Jack (Bradley) e Phillip (Todd Jensen), tentando salvar o dia.

E você não leu errado: o nome do herói é JACK RYAN, mesmo nome do personagem criado por Tom Clancy para uma série de livros de sucesso, que depois deu origem a diversos filmes também de relativo sucesso, como "Caçada ao Outubro Vermelho" e "Jogos Patrióticos". Obviamente que o Jack Ryan de CYBORG COP não tem nada a ver com o outro mais famoso, mas bem que seria divertido colocar David Bradley no mesmo patamar de Alec Baldwin, Harrison Ford, Ben Affleck e Chris Pine (os astros que interpretaram o Jack Ryan "oficial" no cinema).

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Ocorre que Jack é o típico agente cabeça-quente que não segue as normas e todo aquele bla-bla-bla típico do cinema de ação do período; ele prefere encher o malucão de tiros ao invés de esperar pela chegada do negociador da SWAT e o escambau. Só que o finado era filho de um magnata da imprensa, e a campanha do pai enfurecido contra o herói nos jornais faz com que ele seja expulso do D.E.A.

Algum tempo depois, Phillip comunica o irmão de que está partindo para o Caribe (as filmagens foram na África do Sul, para economizar), numa operação secreta para destruir o império de drogas mantido por um cientista louco chamado Kessel (John Rhys-Davies!!!). Só que a operação é um desastre, todos os homens são mortos e o próprio Phillip é gravemente ferido num confronto com Quincy (?!?), o "cyborg de estimação" do vilão!

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Péra lá! Aqui é necessário abrir um parêntese...

Acontece que o filme nunca deixa claro qual é a do tal vilão Kessel. Quer dizer, ele possui uma refinaria de cocaína no Caribe que lhe rendeu uma fortuna considerável, ou pelo menos o suficiente para ter uma mansão e um laboratório de alta tecnologia. Nesse laboratório, repleto de cientistas que certamente não cobram barato para estar ali à disposição do vilão, ele ainda torra ainda mais dinheiro transformando seres humanos em cyborgs.

E esses cyborgs são usados não só como capangas indestrutíveis, mas também como assassinos cibernéticos para crimes políticos, serviço pelo qual Kessel cobra dinheiro dos contratantes. Mas peraí um pouquinho: será que ele precisaria desse dinheiro caso não tivesse investido a grana que ganhou produzindo/vendendo drogas na fabricação de cyborgs em primeiro lugar? Não bastava ficar com a venda de drogas como fonte principal de renda?

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Pois Quincy, o capanga cibernético do vilão (interpretado por Rufus Swart, que lembra uma versão mais jovem do Larry Drake, de "Darkman" e "Dr. Giggles"), é indestrutível e forte o bastante para atravessar o crânio de um sujeito com um único soco. Também pode fazer surgir lâminas, saídas das pontas dos dedos, tipo um "RoboFreddy Krueger". Ele usa essas lâminas para decepar a mão de Phillip num único golpe.

Como sobrevivente da mal-sucedida batida, o agente é levado até o laboratório de Kessel para ser transformado num novo cyborg, o "Cyborg Cop" do título, embora Phillip não seja exatamente um policial (tá, eu assumo que "Cyborg D.E.A. Agent" não seria um título tão legal assim!).

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Só mais um parêntese...

Por que diabos Kessel, um sujeito razoavelmente inteligente, resolve transformar um POLICIAL (arre, agente do D.E.A.!) em assassino cibernético, sendo que são enormes as chances de dar merda e ele perder o controle sobre a criação quando a parte humana dela se manifestar (e é claro que isso vai acontecer mais cedo ou mais tarde para o esperado duelo cyborg bom x cyborg mau)?

Em defesa dos roteiristas, existe um diálogo em que um dos cientistas que trabalham para o vilão diz que a memória de Phillip ainda não foi completamente apagada quando Kessel resolve ativá-lo para entrar em ação. Mesmo assim, continua sendo uma ideia de jerico: se tudo que ele precisava era de um corpo humano fresco para "robotizar", por que não usou um dos seus muitos capangas que são originalmente malvados, ao invés de um honesto agente do D.E.A.?

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Mas voltemos ao filme: nos Estados Unidos, Jack Ryan (hehehe) recebe uma encomenda do irmão pelo correio. No interior do pacote, encontra uma fita contendo uma gravação de Phillip, alertando para a possibilidade de se meter em apuros na operação então vindoura. Sem querer ser implicante, mas... não seria mais fácil ter telefonado?

Jack resolve ir até o Caribe em busca do irmão, depois de surrar figurões do D.E.A. num bar (claro!) e descobrir o local para onde ele foi enviado. Chegando na ilha, o herói acaba fazendo uma parceria à força com a jornalista Cathy (a gracinha Alonna Shaw, de "Duplo Impacto"). E, ajudado/atrapalhado por ela, descobre tudo sobre os planos maléficos de Kessel e o terrível destino do seu irmão. Prepare-se para o confronto final e para o i-na-cre-di-tá-vel duelo motocicleta x cyborg!!!

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CYBORG COPé barateiro em tudo (mais uma característica da Nu Image que lembra as antigas produções da Cannon), mas eficiente durante a maior parte do tempo. Os efeitos dos cyborgs, por exemplo, são econômicos e não atrapalham, com direito à tradicional mãozinha robótica abrindo e fechando.

Só podiam ter caprichado mais nas placas peitorais "metálicas" das criaturas, que são péssimas e dobram e amassam mais do que metal normalmente faria, mas não se pode esperar muito da merreca de orçamento que havia à disposição. E sim, é claro que o cyborg malvado vai acabar ficando com metade do rosto "humano" destruído para mostrar a parte metálica por baixo, à la "O Exterminador do Futuro"!

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Firstenberg também trabalha dobrado para não deixar a peteca cair no quesito ação, e filma tantas sequências de explosões por minuto que parece ter o triplo do orçamento que realmente gastou. O ataque inicial dos agentes à refinaria de Kessler, por exemplo, é um festival ininterrupto de tiros e explosões, algo que se repete no ataque final do herói à fortaleza do vilão, com direito a sangrentos tirambaços no peito e nas costas que você certamente não vai ver no "Robocop" do Padilha!

Já o herói Jack Ryan (hehehe) faz exatamente o que se espera dele: arrebenta um montão de bandidos com seus golpes, distribui tiros pra todo lado sem se preocupar em fazer prisioneiros, e ainda dá uns pegas na jornalista gatinha, numa cena pra lá de gratuita de sexo e nudez, com direito a várias posições e caras e bocas dignas dos erotic thrillers da época (aqueles mesmos que passavam na extinta Sexta Sexy).

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Bradley convence como galã invocado, mas bem-humorado, que solta umas gracinhas de vez em quando para lembrar o espectador de aquilo tudo é uma grande bobagem, descartável até, feita direto para o mercado de vídeo. Sua relação de amor e ódio com a mocinha é um clichê tão velho quanto o próprio cinema, numa situação que até lembra comédias românticas em alguns momentos!

O único departamento em que Jack Ryan fica devendo é no de bom gosto: numa decisão questionável do pessoal do figurino, o pobre herói passa o filme inteiro usando uma cafonérrima pochete de couro preta (veja abaixo), mesmo quando está dando voadoras nos vilões! Deve ser o único herói de ação que usa pochete da história do cinema - quem sabe ela seja o segredo da sua força, tipo a cabeleira de Sansão!

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Embora se segure muito bem em matéria de ação e pancadaria, CYBORG COP também tem todas aquelas imbecilidades e incongruências típicas desse tipo de aventura barata. O vilão interpretado por Rhys-Davies, por exemplo, é engraçadíssimo: não faz nada o filme inteiro além de dar ordens para os capangas e soltar umas risadas malignas de vilão de James Bond, mas a interpretação do ator britânico é tão afetada e exagerada (e consciente da presepada em que estava metido) que provoca gargalhadas a cada aparição de Kessel.

Vale lembrar que, na época, Rhys-Davies não era tão conhecido quanto hoje, já que passou a ser idolatrado pela sua participação como anão (milagres da tecnologia...) na série "O Senhor dos Anéis", de Peter Jackson. Até então, o inglês era figurinha carimbada como vilão ou personagem secundário de filmes B, e o auge da sua carreira tinha sido as duas participações como amigo de Indiana Jones em "Os Caçadores da Arca Perdida" e "Indiana Jones e a Última Cruzada".

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Ainda no departamento de bobagens, vale lembrar que os cyborgs, que parecem indestrutíveis ao fogo, tiros e explosões, podem ser facilmente destruídos com... eletricidade?!? Mas peraí, qual é a vantagem de você gastar milhões de dólares para criar um robô que sobrevive a tiros e bombas se ele pode pisar num simples fio desencampado e pifar?

Também podiam ter criado uma forma melhor de aproveitar o "Cyborg Cop" do título (ou "Cyborg D.E.A. Agent", se preferirem), já que o "robo-Phillip" só entra em operação nos 15 minutos finais, e LOGICAMENTE tem um conflito de consciência quando lhe ordenam que mate o próprio irmão. É tão pouco tempo em cena para o personagem que CYBORG COP pode decepcionar quem espera uma cópia vagabunda de "Robocop" estilo "Robo Vampire". Vai saber por que não usaram algo ainda mais genérico, como "Cyborg Attack" ou "Cyborg Force"...

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Mas o que importa é que CYBORG COP cumpriu seu propósito: fez relativo sucesso de locações (talvez até por causa dos clientes desatentos, que alugavam o filme pensando que era "Robocop"), foi o primeiro grande sucesso da recém-criada Nu Image e ajudou a colocar a produtora no mapa das companhias realizadoras de filmes de ação classe B (ou C, ou mesmo Z!).

Para ver se o raio caía duas vezes no mesmo lugar, a produtora realizou dois novos "Cyborg Cop" em curtíssimo espaço de tempo: a Parte 2, lançada em 1994, reúne o time Firstenberg/Bradley para um novo round, mas é inferior ao original; já a Parte 3, de 1995, partiu para o vale-tudo, mudou o diretor, colocou uma dupla de atores no lugar de Bradley (Frank Zagarino e Bryan Genesse, outros dois "astros" da terceira divisão da ação "direct-to-video") e tem toda cara de ser um roteiro qualquer adaptado para se encaixar na série e faturar uns trocados.

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Bradley fez mais alguns filmes de ação nos anos seguintes (incluindo uma cópia dos clássicos de John Woo chamada "Justiça à Bala") e acabou se metendo no universo dos erotic thrillers vagabundos, feitos na esteira do sucesso de blockbusters tipo "Instinto Selvagem" e "Invasão de Privacidade". Seu último filme é de 1997, e desde então o ator tomou chá-de-sumiço.

Houve muita boataria nos fóruns de discussão sobre o que teria acontecido com o ator: alguns juravam que tinha morrido, outros, que tinha deixado de atuar por causa de um grave problema cardíaco; também tinha quem garantisse que ele voltou para o Texas para abrir uma escola de artes marciais. Pouco se sabe sobre a vida do sujeito hoje, mas Bradley realmente voltou para o Texas, onde vive afastado da indústria cinematográfica.

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Mesmo assim, em 2009, ele apareceu vivo e bem nas cenas do trailer de um filme de ação semi-amador chamado "Dagger: Operation Montenegro". O filme não chegou a ser produzido: apenas o trailer foi rodado para tentar levantar fundos, mas aparentemente não rolou. Portanto, David Bradley ainda aguarda pelo retorno à ribalta - alô, produtores!

Bem que num futuro próximo o pessoal da Nu Image poderia voltar às origens e produzir uma espécie de "Os Mercenários" lado B (ou C, ou mesmo Z!), juntando todos os seus ex-astros dos tempos do direto para vídeo, como Bradley, Zagarino, Genesse, Lara... Podia ser dirigido por Firstenberg, Yossi Wein ou Bob Misiorowski, os caras que levaram as produções da Nu Image nas costas nos primeiros anos. Sonhar não custa nada, não é verdade?

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Porque o fato é que às vezes me dá saudade desses filmes de ação baratos e bestas feitos para abastecer o mercado de vídeo dos anos 80-90. Nesses nossos tempos de filmes de (enrol)ação (ou preten-ação), em que o que vale é a quantidade de efeitos especiais e de cenas parecidas com videogame, revisitar as velhas produções da Nu Image e seus "Cyborg Cops" não é apenas pura nostalgia, mas uma certeza de diversão.

Com todos os tiros e explosões, tramas simplórias e absurdas, nudez gratuita e deliciosos clichês que você definitivamente não vai encontrar no "Robocop" do Padilha e outras asneiras feitas hoje. Muito menos um herói que usa pochete de couro - e sim, Jack Ryan volta em "Cyborg 2" vestindo sua indestrutível pochete outra vez!!!

PS:CYBORG COP é o último filme da loirinha Alonna Shaw, que preferiu trocar as cenas gratuitas de sexo com brucutus (Bradley aqui, Van Damme em "Duplo Impacto") pela carreira de escritora. Ela recentemente lançou seu primeiro romance, "Eleven Sundays", e tem um site pessoal onde comenta sua carreira longe dos "Cyborg Cops" e criaturas do gênero...


Trailer de CYBORG COP



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Cyborg Cop - A Guerra do Narcotráfico 

(1993, EUA)
Direção: Sam Firstenberg
Elenco: David Bradley, Alonna Shaw, Todd Jensen,
John Rhys-Davies, Ron Smerczak, Rufus Swart,
Anthony Fridjhon e Robert Whitehead.

CYBORG COP II - O PIOR PESADELO (1994)

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No caso de uma iminente invasão de andróides/cyborgs malignos, algumas pessoas certamente apelariam para Sarah Connor, de "O Exterminador do Futuro" 1 e 2, esquecendo que ela não sobreviveria nem 20 segundos a estes filmes caso não tivesse contado com a ajuda de Kyle Reese no primeiro e do T-800 bonzinho no segundo. Outros apelariam para Rick Deckard, de "Blade Runner", também esquecendo que a performance dele como "Caçador de Andróides" foi bem ruinzinha (matou dois de quatro e quase foi morto pelos inimigos umas 20 vezes!).

E é por isso, amiguinhos, que no caso de uma iminente invasão de andróides/cyborgs malignos eu apelaria primeiro para Jack Ryan. Não o Jack Ryan famosão dos livros de Tom Clancy e de filmes como "Caçada ao Outubro Vermelho" e "Perigo Real e Imediato", mas sim o Jack Ryan classe C interpretado por David Bradley na série "Cyborg Cop". Aquele que decapitou um robô malvado usando uma motocicleta em "Cyborg Cop - A Guerra do Narcotráfico", e que agora retorna com sua indestrutível pochete de couro em CYBORG COP II - O PIOR PESADELO!

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Pois eis que algum tempo depois da sua aventura original, em que enfrentou o cientista louco e traficante Kessel e seus dois cyborgs (um deles construído com o corpo do seu próprio irmão, Phillip!), o "nosso" Jack Ryan volta para um segundo round. E dessa vez é obrigado a encarar não um, nem dois, mas um autêntico exército de cyborgs, produzidos não por um cientista louco e traficante, mas pelo próprio Governo dos Estados Unidos!

Trata-se, obviamente, de mais uma produção de baixíssimo orçamento, feita direto para o lançamento em videolocadoras, da Nu Image, que então buscava o título de "nova Cannon Pictures". A sequência saiu já no ano seguinte a "Cyborg Cop 1", em 1994, comprovando a visão de mercado que o pessoal da produtora tinha. E o melhor: como em time que está ganhando não se mexe, os produtores trouxeram de volta a dobradinha Sam Firstenberg na direção e David Bradley como herói, os mesmos nomes que encabeçavam a aventura original.

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Fora isso, a pobreza continua a de sempre, com um roteiro ainda mais absurdo que o do original e risíveis "roupas" de cyborg e efeitos especiais, mas com explosões e tiroteios a rodo para disfarçar a falta de dinheiro (e criatividade) em outros departamentos.

Inclusive é tanta explosão (depois de um tempo até desisti de contar) que CYBORG COP II não faria feio perto de uma superprodução dirigida pelo Michael Bay - e ainda sai ganhando pelas suas explosões serem "reais", e não produzidas por computação gráfica, e pelo filme todo ter custado o equivalente a cinco minutos de um do Michael Bay!

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CYBORG COP II já começa a 200 por hora, com um bandidão sádico e careca chamado Jesse Starkraven (Morgan Hunter, uma espécie de Arnold Vosloo dos pobres) invadindo uma refinaria de drogas de um traficante rival e tocando o terror, matando incontáveis figurantes e explodindo incontáveis pedaços de cenografia. O engraçado é a maneira como acontece o "ataque": Starkraven simplesmente coloca meia dúzia de capangas, até menos, na traseira de uma caminhonete e acelera pelo interior do depósito, passando fogo em dezenas de bandidos armados até os dentes. E nenhum desses consegue revidar e atingir algum dos invasores pelo menos de raspão - afinal, eles estão desprotegidos na traseira de uma caminhonete! -, ou sequer atingir um único tirinho no próprio veículo, que termina a batalha novinho em folha, como se nunca tivesse participado de um tiroteio infernal!

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O engraçado é que quando parece que a batalha terminou, chegam agentes do D.E.A. (a Divisão de Narcóticos do Governo norte-americano) e o tiroteio infernal recomeça, dessa vez com Starkraven e seus capangas contra os homens da lei!

É quando entra em cena o grande herói Jack Ryan, montado em sua Harley Davidson, usando jaqueta de couro e óculos escuros. Ele aparentemente é um dos melhores homens do D.E.A., embora tenha sido expulso da agência em "Cyborg Cop 1" - tá, é bem possível que tenha sido readmitido depois de acabar com Kessel na aventura original, mas poderiam ter pelo menos incluído uma linha de diálogo explicando isso.

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Ryan tem uma velha rixa com Starkraven (prendeu o irmão dele no passado, ou coisa que o velha), e o bandidão obviamente não vai deixar barato: depois de apanhar feio, o careca executa o parceiro do herói a sangue frio, com um tiro na cabeça, apenas para apanhar mais um pouco e quase ser morto por Ryan, que precisa ser contido pelos demais colegas. Mas a justiça triunfa e Starkraven é preso e condenado à morte dentro das leis. Final feliz, certo?

Errado! Ocorre que, por mais absurdo que possa parecer, o bandidão acaba sendo escolhido como cobaia para um programa de criação de cyborgs de uma agência secreta do governo, a ATG (Anti-Terrorist Group).

E se digo absurdo é porque não consigo encontrar nenhuma explicação lógica para os sujeitos usarem criminosos psicopatas e extremamente violentos como matéria-prima para a criação de cyborgs que deveriam lutar contra criminosos psicopatas e extremamente violentos como eles! Lembra daquela lógica estúpida do filme original, que mostrava um vilão transformando um policial bonzinho em cyborg para ser seu capanga e fazer maldades, sem imaginar que a "parte boa" dele prevaleceria no final? Pois é, a mesma lógica estúpida reaparece aqui, só que com os componentes trocados!

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Enfim... Não demora para Jack Ryan (hehehe) descobrir que Starkraven sumiu da penitenciária onde deveria pagar pena antes da execução. Ele começa a investigar o paradeiro do arqui-inimigo, e, nesse ínterim, o agora robótico Starkraven "desperta" e inicia uma rebelião dos seus outros colegas mecânicos (pelo menos uma dúzia!) contra os cientistas responsáveis pelo projeto.

Livres dos frágeis humanos que os controlavam, os cyborgs assumem o controle de uma usina e se preparam para ameaçar o mundo com sua maldade cibernética... a não ser, claro, que o grande "caçador de cyborgs" Ryan os enfrente com armas de grosso calibre no esperado duelo final, que reserva mais uma rodada de incontáveis explosões e tiroteios!

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Embora aparentemente tenha custado o mesmo que a aventura anterior, CYBORG COP II fica o tempo todo buscando um tom épico e grandiloquente, seja na quantidade de cyborgs malvados (em comparação ao único enfrentado pelo herói na primeira parte), seja na quantidade de lutas e explosões, sempre acompanhadas por uma trilha sonora exageradíssima que parece ter sido composta para outro filme (ou para um jogo de videogame).

Além disso, a sequência foi produzida numa época em que os filmes de John Woo eram bem populares, e seu estilo passou a ser copiado ad nauseam por todo mundo. Graças à "febre Woo", toda e qualquer cena de ação de CYBORG COP II, de pessoas alvejadas caindo de grandes alturas a carros capotando, acontecem em câmera lentíssima (rendendo momentos constrangedores, como esse aqui). Não faltam nem adversários apontando a arma um para a cara do outro, ou o herói disparando com duas pistolas, uma em cada mão (acho que só faltaram mesmo as pombas voando em câmera lenta, outra "Woozice" clássica).

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E justamente por isso tudo, é irônico que esta sequência não seja tão boa quanto o original. Enquanto em "Cyborg Cop 1" ficava evidente que Firstenberg e cia. não estavam ligando muito para as limitações técnicas e orçamentárias, buscando apenas fazer um filme divertido, aqui já se percebe um tantinho mais de pretensão; inclusive o filme se leva muito mais a sério do que deveria, como se Firstenberg acreditasse ser Roland Emmerich dirigindo "Soldado Universal".

Enquanto "Cyborg Cop 1" era basicamente uma mistura de "Robocop" com "O Exterminador do Futuro", aqui o roteirista Jon Stevens adiciona outros dois filmes ao coquetel: "Robocop 2", na figura do vilão psicopata que é transformado em robô com consequências desastrosas, e o já citado "Soldado Universal", no qual parece ter se inspirado o tal programa do governo que transforma criminosos em cyborgs para combate ao terrorismo (inclusive um título alternativo do filme é "Cyborg Soldier", muito mais adequado).

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Mas as referências não param por aí: a versão cibernética de Starkraven é rebatizada "Spartacus" e ele se torna o cabeça da rebelião de cyborgs, como o Spartacus mais famoso fez com os escravos/gladiadores; e os uniformes usados pelos robôs lembram muito o figurino dos alienígenas do clássico seriado "V", embora aqui na cor verde-militar, e não vermelho.

E se no "Cyborg Cop" original o título já era enganoso, pois o "policial-cyborg" mal aparecia (e nem era policial, mas sim um "agente do D.E.A.-cyborg"), aqui a coisa torna-se ainda mais ridícula, pois o que temos é um exército de criminosos cibernéticos e nenhum policial nessa condição. A não ser, claro, que o título tenha outro sentido, como se o próprio Jack Ryan fosse um "cyborg cop" (nesse caso, "policial de cyborgs", e não "policial-cyborg").

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Eu só senti falta de mais referências ao original, já que CYBORG COP II tenta dar um mínimo de continuidade à trama ao trazer de volta não apenas o personagem de Bradley, mas também o garotinho Frank (Steven Leader), que no original era filho adotivo do seu finado irmão Phillip, e aqui reaparece sob a guarda do próprio herói - como um conveniente refém para os vilões, óbvio.

De resto, o roteiro não se preocupa em explicar como Ryan foi readmitido no D.E.A., nem coloca o herói para dizer alguma frase do tipo "Eu já lidei com esses bastardos cibernéticos antes!". E bem que algum dos cientistas do Governo poderia soltar que o projeto de "robotização" foi baseado nas experiências de Kessel, o vilão do primeiro filme. Daria um pouquinho mais de coerência e linearidade à continuação.

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Um avanço em relação ao original é que, além de mais cyborgs, CYBORG COP II também traz modelos bem mais evoluídos do que o pobre Quincy de "Cyborg Cop 1". Enquanto aquele tinha umas faquinhas mixurucas que saíam da ponta dos dedos, num bizarro cruzamento de Freddy Krueger com T-800, os modelos atuais podem "trocar" uma das suas mãos por diferentes armas acopladas na altura do pulso, tipo metralhadoras, lança-chamas e até lança-foguetes. Assim, o poder de fogo dos vilões cibernéticos é muito maior e mais devastador.

O problema é que o filme parece não saber como aproveitar vilões tão poderosos. Depois que fogem do laboratório e tomam a usina, os robôs não fazem muita coisa além de invadir um posto de gasolina vagabundo e matar seus funcionários (?!?).

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E embora o roteiro apresente os cyborgs como criaturas aparentemente indestrutíveis, capazes de aniquilar um batalhão de militares e policiais, eles são destruídos facilmente com explosivos no confronto final, quando Ryan une forças com a chefona da ATG (a ruivinha Jill Pierce) para dar um jeito na ameaça mecânica.

Pior: se no primeiro filme o ponto fraco do cyborg era a eletricidade, aqui os robôs têm um sistema de visão bem fuleiro que pode ser "embaralhado" com luzes muito fortes, tipo aquela gerada por simples sinalizadores (flares)! Mas peraí: qual é a vantagem de você gastar bilhões de dólares para construir cyborgs para enfrentar grupos terroristas se os tais terroristas podem acender uma tocha e embaralhar a visão das criaturas? Algo me diz que não deviam ter poupado verba justamente no departamento de visão eletrônica...

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Outro grande defeito de CYBORG COP II é o fato de que o pobre herói Jack Ryan não encosta num único robô até os 50 minutos de tempo corrido, embora já tenha certa experiência em combater cyborgs. Até então, tudo que ele faz é investigar o paradeiro do seu arqui-inimigo Starkraven, e lutando apenas contra agentes do governo que mal oferecem resistência aos seus socos e voadoras.

Somente nos 35 minutos finais Ryan começa a enfrentar os cyborgs rebelados, e, como já mencionei, ele os liquida sem muita dificuldade, apesar de o roteiro inicialmente tratá-los como monstros praticamente indestrutíveis. Inclusive o herói poderia ter facilmente explodido o próprio Starkraven/Spartacus caso o vilão não tivesse o pequeno Frankie como refém. Pense numa conveniência de roteiro...

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E como conveniência de roteiro nunca é demais, acho interessante destacar que os criminosos-cyborgs teoricamente são controlados pelos cientistas que os construíram graças a um pequeno terminal que levam no pulso como bracelete. E a revolução só começa no momento em que um dos humanos idiotas tira o tal bracelete do seu pulso para transar com uma garota NO PRÓPRIO LABORATÓRIO, permitindo que os cyborgs possam subjugá-lo!

Sei não, mas se um maldito bracelete é tudo que me protege de cyborgs assassinos e praticamente indestrutíveis, acho que seria uma ótima ideia NÃO TIRÁ-LO DO PULSO EM MOMENTO ALGUM, ainda mais na presença dos tais cyborgs assassinos e praticamente indestrutíveis!

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Para completar, os efeitos são paupérrimos. Todos os cyborgs têm uma "placa peitoral mecânica" que mais parece a fachada de um Chevette, e aqueles explodidos por Ryan e sua parceria no ataque final à usina são manequins mais do que visíveis. Os realizadores nem se preocuparam em colocar manequins do mesmo tamanho ou na mesma posição que os "atores" substituídos de um take para o outro. Já a explosão da usina é encenada por meio de simpáticas miniaturas  Risadas garantidas!

(A propósito, agora que caiu a ficha aqui: por que diabos o exército simplesmente não bombardeou a usina de uma vez, destruindo automaticamente todos os cyborgs, e eliminando a necessidade de a dupla de heróis ir até lá para destruir um por um, arriscando a própria vida no processo? "Por causa do garoto feito refém", você pode até argumentar, mas NINGUÉM SABIA DISSO até os heróis chegarem na usina!)

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A "trashice" se estende ao departamento de figurino. Não basta Jack Ryan reaparecer com a mesma pochete de couro preta que havia usado no original, e que já havia sido motivo de piada lá: eis que a viúva do parceiro do herói também surge com uma pochete idêntica (!!!), num detalhe completamente injustificável e que só pode ser algum tipo de piada interna.

Por sinal, Ryan só abandona a sua inseparável pochete preta no confronto final, mas confesso que fiquei na dúvida se ele realmente tinha tirado a dita cuja, ou se ela apenas ficou por baixo do cinturão com explosivos que o herói passou a usar. Até porque duvido que ele tenha abandonado sua amada e fiel pochete justamente naquele momento crucial!

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Vale destacar também que o roteiro tenta transformar Jack Ryan num personagem muito mais malandrão e engraçadinho que o do original. Ele até fala "Freeze!"ao atingir um rival com o conteúdo de um extintor de incêndio. Mas, infelizmente, aqui o herói não tem oportunidade de demonstrar suas habilidades de Sexta Sexy como fez no primeiro filme, e a diretora da ATG é um interesse romântico bem apagado perto da jornalista bonitinha do original. E não aparece pelada.

Para tentar compensar (sem conseguir), Firstenberg mostra algumas garotas de topless trabalhando na refinaria de cocaína do início - supostamente para não "desviarem" parte da produção nas roupas, lembrando cena parecida do original e também de "A Fúria do Protetor".

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O que importa é que, pela segunda vez, Jack Ryan dá conta do recado e controla a ameaça cibernética com eficiência. É uma pena que não tenha voltado na aventura seguinte, "Cyborg Cop III - Resgate Espetacular", de 1995, onde foi substituído por não um, mas dois heróis (interpretados por outros astros da ação classe C, Frank Zagarino e Bryan Genesse). Os motivos são desconhecidos, mas é possível que David Bradley não quisesse ficar com sua carreira marcada por Jack Ryan, como Sean Connery com James Bond e Harrison Ford com Indiana Jones (e sim, eu estou sendo irônico).

Outra falta mais do que sentida no terceiro filme é a de Sam Firstenberg. Ele deixou a direção para o fraquinho Yossi Wein, que foi diretor de fotografia das duas primeiras aventuras.

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Embora mais fraco que o original no quesito diversão (mas alguns pontos acima no quesito ação e explosões, que aqui aparecem em número triplicado ou até quadruplicado), CYBORG COP II não é de todo desprezível e vale a espiada, especialmente para quem tem saudade desse tipo de ação old school, com tiroteios em câmera lenta e dublês sendo catapultados para longe por explosões. Eu certamente recomendo uma sessão dupla com o primeiro no lugar do remake de "Robocop" do José Padilha.

E mais: se nos anos vindouros realmente aparecerem os cyborgs produzidos pela Skynet, ou mesmo os Replicantes de "Blade Runner", Jack Ryan é o cara que eu quero ter no meu grupo de resistência para enfrentá-los!


Trailer de CYBORG COP II



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Cyborg Cop II - O Pior Pesadelo (1994, EUA)
Direção: Sam Firstenberg
Elenco: David Bradley, Morgan Hunter, Jill Pierce,
Victor Melleney, Douglas Bristow, Adrian Waldron,
Dale Cutts e Kimberleigh Stark.

VEIO DO INFERNO (1957)

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Ao longo dos anos, filmes de ficção científica e horror transformaram em ameaças mortais praticamente todos os exemplares da nossa fauna - dos animais mais óbvios, tipo ursos, baleias e tubarões, até inofensivas formiguinhas e fofuxos coelhinhos. Mas o mesmo não aconteceu com os exemplares de nossa flora, salvo raras exceções, como a famosa planta carnívora Audrey, de "A Pequena Loja dos Horrores" (1960), e as plantas alienígenas assassinas de "O Terror Veio do Espaço" (1963), entre outras.

O motivo para tamanha discriminação é bem óbvio: até as diminutas e inofensivas formiguinhas têm maior capacidade de locomoção do que uma PLANTA, que, salvo boa dose de criatividade dos roteiristas, simplesmente fica lá enraizada e imóvel, sem oferecer risco algum. Um dos maiores argumentos para o ridículo que uma ameaça vegetal representa é VEIO DO INFERNO, um daqueles filmes que você simplesmente não acredita que alguém teve a cara-de-pau de fazer... e a sério!

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Pois a grande ameaça de VEIO DO INFERNO atende pelo nome de TABANGA (grafado como "Tabonga" e até "Tobunga" em algumas fontes), e vem a ser uma árvore demoníaca assassina que ataca os nativos e cientistas de uma lha dos mares do Sul! Visualmente, a criatura lembra um antepassado tosco do Monstro do Pântano, mas sem a mesma agilidade do personagem dos quadrinhos (e sem 1% do interesse dele, também).

O maior problema é que sendo uma árvore, e de tamanho considerável, a terrível Tabanga não tem grande poder de locomoção (NENHUM poder de locomoção, a bem da verdade), e "anda", sendo generoso, a uns 2km/h - você quase consegue visualizar lesmas reumáticas e tartarugas com as patas engessadas ultrapassando em disparada a praticamente inofensiva vilã vegetal!

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Por causa desse "pequeno detalhe", Tabanga é simplesmente um dos monstros mais ridículos e menos ameaçadores do cinema de horror de todos os tempos, e os diretores e roteiristas tiveram que rebolar para criar as cenas de ataque da criatura - já que até uma velhinha de 100 anos com duas muletas poderia escapar facilmente de Tabanga.

O resultado é um filme tão ruim que inspirou uma das melhores resenhas da história, em que o crítico norte-americano Ed Naha resumiu: "From Hell It Came? Send it back!"(Veio do Inferno? Manda de volta pra lá!).

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VEIO DO INFERNOé a segunda e última produção conjunta dos Irmãos Milner, dois esforçados realizadores que tentaram encontrar seu lugar ao sol no universo dos filmes baratos de ficção científica e horror dos anos 50, mas não foram muito bem-sucedidos (embora suas tralhas sejam lembradas, vistas e analisadas até hoje). Antes deste, eles tinham feito o igualmente infame "The Phantom from 10.000 Leagues" (1955), sobre um monstro marinho gerado pela radiação.

Dan Milner, que assina a direção, trabalhava como editor desde os anos 1930, e, ao abandonar os filmes de horror, acabou arranjando um prolífico bico na montagem (e direção, segundo algumas fontes) dos programas do Palhaço Bozo lá nos Estados Unidos; já seu irmão Jack aqui assina a produção, a edição e o roteiro (este em parceria com Richard Bernstein), e terminaria a carreira no departamento de som de diversos seriados de TV.

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A trama se passa numa ilha em algum lugar do Oceano Pacífico, e já começa com uma bela amostra da pobreza da produção e do desinteresse dos realizadores em pesquisar os costumes das tribos daquela região. Os índios são atores norte-americanos com a pele escurecida, que falam inglês e vestem roupas que parecem retalhos de cortinas ou toalhas de mesa com estampas floridas (acima). Já vi teatrinhos de colégio com índios melhor caracterizados que estes do filme!

A tal tribo dos Mares do Sul está preparando o sacrifício de Kimo (Gregg Palmer, que parece mais um surfista do que um nativo dos Mares do Sul), que é acusado de ter matado o próprio pai (que era o antigo chefe) e também de se envolver com os "homens brancos" que chegaram à ilha - médicos e cientistas que estão no local estudando os efeitos de testes nucleares realizados nas proximidades.

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Amarrado ao chão, Kimo protesta dizendo que seu pai foi assassinado num complô organizado pelo atual chefe, Maranka (Baynes Barron), e pelo feiticeiro Tano (Robert Swan). Mas, para o azar do rapaz, sua própria esposa Korey (Suzanne Ridgeway, eterna figurante de produções classe A de Hollywood) testemunha contra ele, já que também está mancomunada com os conspiradores.

Percebendo que seu destino está traçado, o inocente nativo amaldiçoa seus algozes: "Eu vou voltar do Inferno para fazer com que paguem por seus crimes!". Dito isso, é executado de maneira violenta: um dos índios dá uma cacetada no punhal que outro nativo segura sobre o coração de Kimo, enterrando-o bem fundo. E embora a cena "corte" antes de mostrar o desfecho da paulada, confesso que me deu um arrepio semelhante ao momento em que a máscara é enterrada no rosto de Barbara Steele no início do clássico "A Máscara de Satã", de Mario Bava!

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O finado Kimo é colocado num caixão de madeira (???), ainda com o punhal cerimonial enfiado no coração (aposto que os índios têm vários punhais cerimoniais de reserva para futuros sacrifícios), e rapidamente sepultado na vertical (???) no velho cemitério da tribo. Toda essa cena do sacrifício comprova a exaustiva pesquisa antropológica feita pelos realizadores, que misturaram rituais de vodu, tambores africanos e até garotas dançando "hula", tudo isso numa suposta tribo dos Mares do Sul!

É quando o filme finalmente apresenta nossos protagonistas: o médico William Arnold (Tod Andrews, que parece um Humprey Bogart dos pobres) e o antropólogo Clark (John McNamara), os tais cientistas que trabalham num laboratório perto da aldeia. Como as relações com os nativos azedaram depois da morte do antigo chefe, e muitos índios continuam morrendo por consequência da radiação dos testes nucleares, um terceiro integrante é enviado para a ilha, a Dra. Terry Mason (Tina Carver) - que, aparentemente, não tem nenhum grau de parentesco com o famoso advogado Perry Mason.

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Terry e Arnold tiveram um breve relacionamento no passado, e isso é a desculpa para toda a "parte novelão" de VEIO DO INFERNO. Durante uns bons 20 minutos, o médico ficará incomodando a pobre mocinha e colocando pressão forte com frases machistas que eram normais na época, mas, hoje, fariam qualquer feminazi chutar a televisão - tipo "Você não pensa em marido e filhos, como todas as outras mulheres?", ou "Por que você não pára de ser médica antes e mulher depois?".

Aí, quando o espectador já está quase fechando os olhos de sono com tamanha enrolação e chauvinismo, os primeiros brotos de Tabanga, a árvore assassina em que o vingativo Kimo se transformou, começam a nascer no solo do cemitério indígena, justamente no local em que o nativo foi sepultado! (E é realmente muito engraçado pensar em Kimo como a "semente" de onde brota Tabanga!!!)

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Terry é a primeira a perceber o fenômeno (um tronco que cresce a uma velocidade absurda e tem feições humanas!), e insiste que os colegas devem estudar aquela estranha planta. Bill, como todo cientista de filme B, preferia destruir logo a criatura com fogo, mas é voto vencido. Assim, os cientistas desenterram Tabanga e levam a árvore-monstro para o seu laboratório, onde Terry descobre que o vegetal tem... BATIMENTOS CARDÍACOS!

Mas nenhum dos personagens demonstra uma mínima reação de surpresa diante do fenômeno, como se toda árvore fosse assim. Inclusive a médica acredita que a bizarra planta está morrendo, e pede a ajuda dos colegas para reanimá-la. "Eu não sou cirurgião de árvores", protesta Bill, mais sério do que deveria ao soltar uma frase imbecil como essa. Terry resolve administrar um "soro estimulante experimental" (cof, cof, cof!) na planta, já que ela tem sistema circulatório muito parecido com o de um ser humano (!!!).

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Feito isso, o trio sai para cuidar de suas vidas; na volta ao laboratório, eles encontram o local completamente destruído. E não há nenhum sinal de Tabanga, o que quer dizer que o tal soro estimulante experimental saiu melhor que a encomenda, e agora o monstro-árvore do Inferno está livre para se arrastar por aí e finalmente dar início à vingança prometida por Kimo lá no começo do filme (que parece ter acontecido há um século).

Pena que o soro não "estimule" a criatura tão bem assim, e ela continue se locomovendo a uma velocidade absurdamente reduzida para pelo menos parecer ameaçadora. Com isso em mente, os realizadores filmaram duas cenas diferentes em que garotas indefesas se encostam propositalmente na árvore assassina pensando ser uma árvore inofensiva (que conveniente!), poupando Tabanga do trabalho de arrastar-se com dificuldade atrás delas. E se duvida que possa ser tão ruim, confira o vídeo abaixo (que, apesar de parecer, não está em câmera lenta, é desse jeito mesmo!):


"Killing me softly... and slowly!"



Em outra cena ainda pior, o novo chefe usurpador do trono da tribo está afiando sua lança enquanto Tabanga começa a se aproximar dele por trás (hmmm...), e o sujeito não escuta o menor ruído, sendo que aquele monstrengo destrambelhado provavelmente está fazendo barulho pra cacete enquanto se arrasta com dificuldade até sua vítima (talvez ele seja surdo).

É quando acontece o inevitável: Maranka se vira muito em cima da hora e tenta usar sua lança no monstro-árvore. Mas, apesar de estar a apenas 20 centímetros do alvo, o nativo erra e a lança passa por cima de Tabanga (!!!). Para piorar, com toda uma imensidão de floresta para onde correr, o burraldo consegue a façanha de encostar-se numa outra árvore, esta fixa, ficando sem espaço para fugir, e sendo facilmente agarrado e morto pelo monstro. É mole?

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Outros nativos parecem um pouquinho mais espertos e tentam destruir a criatura com fogo. Mas isso só deixa Tabanga ainda mais furiosa, embora ela continue se arrastando naquela velocidade entre "leeeeento" e "devagar, quase parando" (antecedendo, de certa forma, os assassinos de filmes slasher, tipo Jason, que mesmo andando devagarzinho sempre conseguem alcançar suas vítimas que saem em disparada!).

Felizmente, o homem branco Bill percebe o ponto fraco do monstro, que aquele o punhal cerimonial ainda cravado em seu tronco, lembra? Assim, ele conclui que a única forma de destruir Tabanga é empurrá-lo mais para dentro, de forma que atinja o seu coração (e não me pergunte de onde o sujeito tirou essa conclusão estapafúrdia). Mas e como chegar perto da terrível árvore assassina? Simples: basta ficar confortavelmente à distância e disparar um tiro certeiro que "empurre" o punhal mais para dentro!

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VEIO DO INFERNOé um daqueles filmes tão ruins que até mesmo Ed Wood - injustamente imortalizado como o pior diretor de todos os tempos - teria vergonha de assinar. Por coincidência, Wood escreveu o seu próprio roteiro sobre planta assassina, "Venus Flytrap", que se transformou em um filme muito mais divertido (embora bem mais obscuro) dirigido por Norman Thomson em 1970.

O principal problema aqui é a falta de ritmo em todos os departamentos. Além de Tabanga não ser a mais ágil e ameaçadora das criaturas, a trama se arrasta de maneira sonolenta, colocando o monstro-árvore para atacar apenas aos 47 minutos (e isso que o filme só tem 70 minutos no total!). Durante a maior parte do tempo, o que vemos é Bill assediando Terry e os nativos zanzando para lá e para cá, temendo a anunciada vingança de Kimo.

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Por isso, VEIO DO INFERNO provavelmente despencaria direto para o inferno do esquecimento, como muitas outras produções classe C da mesma época, se não fosse pela "gentileza" dos autores Harry e Michael Medved, que, em 1980, publicaram um divertido livro chamado "The Golden Turkey Awards". A obra é uma coletânea do pior do cinema mundial, e uma das grandes responsáveis por ressuscitar o então esquecido Ed Wood ao dar-lhe o título de "pior diretor de todos os tempos".

Eis que o livro dos Irmãos Medved também desenterrou a patética Tabanga, indicando a criatura ao "prêmio" de "Monstro mais ridículo da história do cinema", ao lado de concorrentes igualmente toscos como os monstrengos de "A Mulher de 15 Metros" (1958), "The Alligator People" (1959), "The Creeping Terror" (1964), "Gamera" (1965) e "Robot Monster" (1953), cujo gorila com escafandro de mergulhador ficou com o título.

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Num daqueles fenômenos da cultura popular que volta-e-meia acontecem, "The Golden Turkey Awards" provocou não um distanciamento das obras eleitas como "piores", mas sim uma entusiasmada corrida de cinéfilos para conhecer estes títulos fuleiros analisados com tanto esmero. Logo, Tabanga e VEIO DO INFERNO ganharam uma segunda chance e o status de "cult", que sobrevive até hoje.

Vale ressaltar que o design da criatura foi feito pelo lendário criador de monstros da época Paul Blaisdell, o mesmo responsável pelo tosquíssimo alienígena venusiano Beluah, de "It Conquered the World" (1956), de Roger Corman, uma obra-prima do cinema trash que em breve também dará o ar de sua graça aqui no FILMES PARA DOIDOS.

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Mas a culpa não é toda dele: Blaisdell fez apenas alguns esboços da árvore assassina para os Irmãos Milner, que depois levaram os desenhos do artista para o Don Post Studios construir um traje de borracha que pudesse ser vestido por um dublê (o lutador profissional Chester Hayes), alterando bastante o design original de Tabanga. O resultado é aquilo que se vê na tela: um monstrengo tosco e nada ameaçador que poderia até fazer figuração em alguma produção da Disney - ou aparecer entre os simpáticos "Ents" da série "O Senhor dos Anéis".

Mas não se engane: apesar do monstro atrapalhado, e dos seus risíveis ataques a patéticas vítimas que não conseguem escapar de uma criatura que se locomove a 2km/h, VEIO DO INFERNO é bem menos divertido do que poderia ser, e bem pior do que parece.

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A curiosidade por ver uma árvore assassina em ação não sobrevive à narrativa arrastada, e os momentos de humor involuntário não compensam as péssimas piadas "voluntárias", principalmente aquelas que envolvem o alívio cômico feminino interpretado por Linda Watkins, que é irritante na sua falta de graça.

Talvez o filme funcione melhor pelas cenas isoladas, e nesse caso eu recomendo que o leitor procure pelos "melhores momentos" no YouTube ao invés de encarar a bagaça inteira. Ou que assista usando a tecla Fast Foward para passar os inúmeros tempos-mortos da narrativa antes da entrada em cena de Tabanga.

De qualquer forma, seja pela sua incompetência como monstro assassino, seja pela fama adquirida graças ao livro "The Golden Turkey Awards", Tabanga ganhou bem mais que os tradicionais 15 minutos de fama, mantendo-se até hoje "enraizada" na galeria das piores criaturas do cinema de horror classe B de todos os tempos. Não é pouca coisa - ainda mais para uma árvore assassina!


Trailer de VEIO DO INFERNO



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From Hell It Came (1957, EUA)
Direção: Dan Milner
Elenco: Tod Andrews, Tina Carver
, Linda Watkins,
John McNamara, Gregg Palmer, Robert Swan,

Chester Hayes e Suzanne Ridgeway.

"O Monstro do Pântano" em quadrinhos

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